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JANIO DE FREITAS
O corte do corte
O duo Antonio Palocci e
Guido Mantega reapresenta-se hoje para uma exibição
que se promete mais difícil do
que a anterior, dada a maior
exigência, e mesmo certa intransigência, da nova platéia.
Os senadores da Comissão de
Assuntos Econômicos têm condições de exigir mais e de polemizar, o que faltou aos repórteres, como de hábito, na entrevista coletiva em que os dois ministros informaram o corte de R$
14 bilhões nos gastos do governo
em 2003. Mas, se a platéia de repórteres saiu insatisfeita, muito
pior foi a reação que Palocci e
Mantega encontraram, a portas
fechadas, nos seus ouvintes mais
íntimos.
Ao apresentarem, no âmbito
do governo, a proposta de mais
cortes no Orçamento já denunciado por sua exiguidade, Mantega e Palocci asseguraram a
Lula da Silva, José Dirceu, Luiz
Dulci e Luiz Gushiken, reunidos, que a retirada de verbas incidiria sobre investimentos, sem
atingir as verbas com destinação social. Isso mesmo foi dito
com insistência aos repórteres.
Palocci, mais político, fazia tal
afirmação quase em silêncio,
com rapidez, e despachava o assunto para Mantega. Tenso,
mas fiel à sua condição de tecnocrata, Mantega não poupou
afirmações de que os cortes preservavam as verbas sociais.
Como complemento à exposição e às muitas respostas dos
dois ministros, foi distribuído
aos repórteres um documento
com a necessária explicitação
dos cortes. Graças à relação fornecida, já à noite, pela TV, era
noticiada constatação de que o
governo Lula estava cortando
também verbas sociais. Na manhã seguinte, o presidente e os
demais participantes da reunião sobre cortes ficavam sabendo, pelas manchetes de alguns jornais, que as já escassas
verbas sociais estavam mutiladas em R$ 5 bilhões. Mais de um
terço do corte total de R$ 14 bilhões.
Nada transbordou, como se
Lula e todos os demais estivessem cientes e de acordo com os
cortes todos. A portas fechadas,
porém, a reação foi em alta temperatura, alimentada, sobretudo, pelo absurdo corte de R$ 30
milhões no carro-chefe do governo, o Fome Zero. Consequência prática: com mais vagar e
mais discussão interna, os cortes
sociais serão revistos.
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