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São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2003

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JANIO DE FREITAS

O corte do corte

O duo Antonio Palocci e Guido Mantega reapresenta-se hoje para uma exibição que se promete mais difícil do que a anterior, dada a maior exigência, e mesmo certa intransigência, da nova platéia.
Os senadores da Comissão de Assuntos Econômicos têm condições de exigir mais e de polemizar, o que faltou aos repórteres, como de hábito, na entrevista coletiva em que os dois ministros informaram o corte de R$ 14 bilhões nos gastos do governo em 2003. Mas, se a platéia de repórteres saiu insatisfeita, muito pior foi a reação que Palocci e Mantega encontraram, a portas fechadas, nos seus ouvintes mais íntimos.
Ao apresentarem, no âmbito do governo, a proposta de mais cortes no Orçamento já denunciado por sua exiguidade, Mantega e Palocci asseguraram a Lula da Silva, José Dirceu, Luiz Dulci e Luiz Gushiken, reunidos, que a retirada de verbas incidiria sobre investimentos, sem atingir as verbas com destinação social. Isso mesmo foi dito com insistência aos repórteres. Palocci, mais político, fazia tal afirmação quase em silêncio, com rapidez, e despachava o assunto para Mantega. Tenso, mas fiel à sua condição de tecnocrata, Mantega não poupou afirmações de que os cortes preservavam as verbas sociais.
Como complemento à exposição e às muitas respostas dos dois ministros, foi distribuído aos repórteres um documento com a necessária explicitação dos cortes. Graças à relação fornecida, já à noite, pela TV, era noticiada constatação de que o governo Lula estava cortando também verbas sociais. Na manhã seguinte, o presidente e os demais participantes da reunião sobre cortes ficavam sabendo, pelas manchetes de alguns jornais, que as já escassas verbas sociais estavam mutiladas em R$ 5 bilhões. Mais de um terço do corte total de R$ 14 bilhões.
Nada transbordou, como se Lula e todos os demais estivessem cientes e de acordo com os cortes todos. A portas fechadas, porém, a reação foi em alta temperatura, alimentada, sobretudo, pelo absurdo corte de R$ 30 milhões no carro-chefe do governo, o Fome Zero. Consequência prática: com mais vagar e mais discussão interna, os cortes sociais serão revistos.


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