São Paulo, sábado, 11 de março de 2006

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CAMPO MINADO

Líder do MST deu declarações elogiosas à ação da Via Campesina que resultou em depredação de fábrica no RS

Stedile será processado por defender invasão

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O Ministério Público do Rio Grande do Sul decidiu processar criminalmente o líder do MST João Pedro Stedile por suas declarações sobre a invasão e depredação de instalações do horto florestal da Aracruz Celulose, em Barra do Ribeiro (56 km de Porto Alegre), ocorrida na quarta-feira.
A Promotoria pretende responsabilizar Stedile pelos elogios dele em diversas entrevistas à ação da Via Campesina. Cerca de 2.000 militantes da organização destruíram laboratórios e pesquisas de até 20 anos sobre cruzamentos genéticos e seleção de espécies.
O procurador-geral de Justiça, Roberto Bandeira Pereira, estava ontem recolhendo declarações do líder dos sem-terra.
"Decidimos tomar medidas contra os aplauso à prática de um crime. Talvez o processemos por incitação ao crime ou apologia ao crime", disse o promotor criminal Sérgio Santos Marino.
Procurado pela Folha, Stedile não foi localizado ontem.

Via Campesina
Integrantes da Via Campesina, entidade da qual o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) faz parte e que promoveu a invasão da empresa, foram notificados ontem pela polícia para prestarem depoimento.
Durante entrevista concedida ontem por cinco coordenadores da Via Campesina, seis policiais civis entraram no auditório onde ela ocorria, na PUC-RS, e notificaram três deles para depor -o espanhol Paul Nicholson, o indonésio Henry Saragih e o dominicano Juan Ferrer. Os depoimentos estavam marcados para ontem à noite. Os três se negaram a assinar os documentos de notificação, mas se comprometeram a comparecer na polícia.
Nenhum brasileiro participou da entrevista. Com isso, lideranças brasileiras da Via Campesina não puderam ser notificadas.
Durante a entrevista, o grupo de cinco representantes internacionais de Canadá, Espanha, Indonésia, Noruega e República Dominicana defendeu a invasão e depredação na Aracruz.
Não houve respostas a perguntas sobre quem seriam as lideranças do movimento e da mobilização ocorrida na quarta. Todos, segundo eles, são coordenadores.
Para justificar a ação, eles afirmaram que o eucalipto destrói o solo, retira nutrientes da terra e consome excessivamente água, além de não trazer benefícios econômicos para os agricultores.
"É a usurpação da terra que deveria ser destinada a alimentos", disse Paul Nicholson.

Paraíba
Quatro propriedades foram invadidas nesta semana por agricultores ligados ao MST na Paraíba. As invasões aconteceram em Coremas, Pilões, Pitimbu e Monteiro. De 50 a 70 famílias permanecem em cada uma das fazendas.
O MST calcula que existam 2.100 famílias acampadas no Estado. A previsão é que, pela Jornada de Luta, cada uma das seis regionais do MST no Estado tenha feito pelo menos uma invasão até o final de março. Segundo a liderança do movimento, o propósito da invasão foi "mobilizar a sociedade contra os problemas que a educação enfrenta na região".


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