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Sem-terra bloqueiam ferrovia da Vale para pedir reestatização
Cerca de 300 mil toneladas de minério de ferro deixaram de ser transportadas de MG para porto de Tubarão (ES)
Empresa disse que protesto é mais uma "ação criminosa do MST'; maquinista relata que foi refém por 12 horas, mas manifestantes negam
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RESPLENDOR (MG)
Dois dias após invadir uma
carvoaria da Vale do Rio Doce
no Maranhão, sem-terra ligados à Via Campesina e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra invadiram e bloquearam ontem uma ferrovia
da mineradora, em Resplendor
(465 km de Belo Horizonte).
Cerca de 800 manifestantes,
a maioria mulheres, segundo a
Polícia Militar, fecharam a Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Mil pessoas, segundo os movimentos, estavam na manifestação. Integrantes do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) também protestaram.
O protesto faz parte da série
de manifestações em razão do
Dia Internacional da Mulher (8
de março). Desde terça ocorreram atos em ao menos 15 Estados e no Distrito Federal.
Com a paralisação da ferrovia, cerca de 300 mil toneladas
de minério de ferro deixaram
de ser transportadas para o
porto de Tubarão, no Espírito
Santo. O embarque de passageiros, cerca de 2.500 por dia,
também foi suspenso. A Vale
chamou o protesto de mais
uma "ação criminosa do MST".
Nos trilhos
Por volta das 4h, 25 ônibus
levando os invasores chegaram
à ferrovia, em Resplendor. Segundo a PM, uma composição
estava parada no local, por causa da troca de turno dos maquinistas. Os manifestantes, então, invadiram os trilhos e interromperam o tráfego com
pneus. Também cercaram os
trilhos com arame farpado e
montaram barracas no local.
Durante o ato, dezenas de
sem-terra subiram no teto do
trem. Com bandeiras dos grupos, cantaram hinos dos movimentos, gritaram palavras de
ordem e pediram o fim do agronegócio e a reestatização da Vale. A Vale informou que o maquinista Pedro Simões, 63, foi
mantido refém na locomotiva,
onde ficou sem comer e beber
por horas. Os invasores negam.
Em entrevista por telefone, o
maquinista disse que os manifestantes impediram que ele
saísse da locomotiva por 12 horas e não permitiram que outro
maquinista assumisse: "Eles falavam que eu não podia descer.
Por volta das 12h, a Vale tentou
negociar. A empresa levou um
maquinista até lá, mas eles não
aceitaram a troca". Segundo Simões, ao dizer que estava com
fome, os sem-terra levaram
uma "marmita fria e azeda".
Sobre as ações judiciais que a
Vale promete mover contra os
líderes, a coordenação da Via
Campesina disse que "a empresa está fugindo do debate".
Os invasores reivindicaram
também indenização e moradia
para cerca de 2.000 famílias desalojadas em 2005 devido a
construção da barragem de Aimorés, de cerca de 2.000 hectares resultado de um consórcio
entre a Vale e a Cemig. Segundo
a Via Campesina, só 40 famílias
foram assentadas.
A Justiça de Resplendor concedeu liminar de reintegração
de posse à Vale. Os sem-terra
desocuparam os trilhos por
volta das 16h30. Os manifestantes terminaram o ato com
uma passeata pela cidade.
A ferrovia tem 905 km e
transporta 37% da produção
nacional da empresa.
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