São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

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Sem-terra bloqueiam ferrovia da Vale para pedir reestatização

Cerca de 300 mil toneladas de minério de ferro deixaram de ser transportadas de MG para porto de Tubarão (ES)

Empresa disse que protesto é mais uma "ação criminosa do MST'; maquinista relata que foi refém por 12 horas, mas manifestantes negam

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RESPLENDOR (MG)

Dois dias após invadir uma carvoaria da Vale do Rio Doce no Maranhão, sem-terra ligados à Via Campesina e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra invadiram e bloquearam ontem uma ferrovia da mineradora, em Resplendor (465 km de Belo Horizonte).
Cerca de 800 manifestantes, a maioria mulheres, segundo a Polícia Militar, fecharam a Estrada de Ferro Vitória a Minas. Mil pessoas, segundo os movimentos, estavam na manifestação. Integrantes do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) também protestaram.
O protesto faz parte da série de manifestações em razão do Dia Internacional da Mulher (8 de março). Desde terça ocorreram atos em ao menos 15 Estados e no Distrito Federal.
Com a paralisação da ferrovia, cerca de 300 mil toneladas de minério de ferro deixaram de ser transportadas para o porto de Tubarão, no Espírito Santo. O embarque de passageiros, cerca de 2.500 por dia, também foi suspenso. A Vale chamou o protesto de mais uma "ação criminosa do MST".

Nos trilhos
Por volta das 4h, 25 ônibus levando os invasores chegaram à ferrovia, em Resplendor. Segundo a PM, uma composição estava parada no local, por causa da troca de turno dos maquinistas. Os manifestantes, então, invadiram os trilhos e interromperam o tráfego com pneus. Também cercaram os trilhos com arame farpado e montaram barracas no local.
Durante o ato, dezenas de sem-terra subiram no teto do trem. Com bandeiras dos grupos, cantaram hinos dos movimentos, gritaram palavras de ordem e pediram o fim do agronegócio e a reestatização da Vale. A Vale informou que o maquinista Pedro Simões, 63, foi mantido refém na locomotiva, onde ficou sem comer e beber por horas. Os invasores negam.
Em entrevista por telefone, o maquinista disse que os manifestantes impediram que ele saísse da locomotiva por 12 horas e não permitiram que outro maquinista assumisse: "Eles falavam que eu não podia descer. Por volta das 12h, a Vale tentou negociar. A empresa levou um maquinista até lá, mas eles não aceitaram a troca". Segundo Simões, ao dizer que estava com fome, os sem-terra levaram uma "marmita fria e azeda".
Sobre as ações judiciais que a Vale promete mover contra os líderes, a coordenação da Via Campesina disse que "a empresa está fugindo do debate".
Os invasores reivindicaram também indenização e moradia para cerca de 2.000 famílias desalojadas em 2005 devido a construção da barragem de Aimorés, de cerca de 2.000 hectares resultado de um consórcio entre a Vale e a Cemig. Segundo a Via Campesina, só 40 famílias foram assentadas.
A Justiça de Resplendor concedeu liminar de reintegração de posse à Vale. Os sem-terra desocuparam os trilhos por volta das 16h30. Os manifestantes terminaram o ato com uma passeata pela cidade.
A ferrovia tem 905 km e transporta 37% da produção nacional da empresa.


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