São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010

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JANIO DE FREITAS

Sem acasos


A coincidência do escândalo petista com a eleição não implica o presumido estímulo para denúncias da oposição


ASSIM COMO os casos anteriores em que se associam o PT e altos movimentos financeiros ilegais ou suspeitos, o apontado desvio de dezenas de milhões da Bancoop, Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, para o partido e alguns dirigentes petistas é espantoso e destinado a paralisar-se em investigações inconclusas -como o mensalão, a maleta de dólares, os extravagantes dólares cubanos, os negócios do grupo de Antonio Palocci, e os outros.
A já aventada coincidência do novo escândalo petista com a eleição presidencial não implica o presumido estímulo para denúncias e esforços investigatórios da oposição. Lula e José Serra estão bem entendidos para não se alvejarem com armas de grosso calibre, sabem eles em nome de que riscos e conveniências.
Todos os casos anteriores foram progressiva e rapidamente esvaziados quando uma espécie de consenso mudo e espontâneo se formou entre setores componentes da investigação oficial, políticos influentes, representações fortes da sociedade civil e meios de comunicação, ante os possíveis alcances ou efeitos pressentidos.
Nessa tendência de destino tantas vezes confirmada, poderia haver, sim, alguma alteração provocada pela campanha para a Presidência. Mas provável não é. A preferência de parte dos meios de comunicação por auxiliar um candidato dito oposicionista encontra limites onde comunicação e grande empresa precisam confundir-se. O que é próprio exatamente das empresas engajadas em um lado do jogo político.
Nada enfraquece, porém, as perguntas que cada caso suscitou. E essa Bancoop provoca. Como foi possível que 3.000 pessoas pagassem por imóveis e não os recebessem da Bancoop? As cooperativas estão sujeitas a vários procedimentos de fiscalização governamental. Como foi possível que 19 prédios lançados pela Bancoop, ao que relatou Flávio Ferreira na Folha de ontem, nem saíssem do papel, mas retirassem dinheiro de cooperados?
Constatar, nos diferentes setores governamentais, quem e por que não exerceu a devida fiscalização legal é tão importante, como causa do dano sofrido por tantas pessoas de recursos escassos, quanto a atenção dada até agora a dirigentes da Bancoop postos sob suspeição. Agentes governamentais não são menos suspeitos das mesmas motivações, sejam pessoais ou partidárias, dos dirigentes cooperativos.
Para começar o percurso daquela tal tendência, o âmbito estadual para investigação da Bancoop e associados é muito insuficiente. E assim já se mostrou: a CPI da Bancoop aprovada na Assembleia Legislativa de São Paulo dormita por lá há dois anos. Por acaso?


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