São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE POLÍTICA
Partido retirou apoio na Assembléia do Rio, mas mantém cargos em secretarias
Governador dá ultimato aos petistas

FERNANDA DA ESCÓSSIA
LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

Depois de desafiar ontem o presidente nacional do seu partido, Leonel Brizola, o governador Anthony Garotinho (PDT), conseguiu uma vitória na crise com seu partido dando um ultimato ao PT e prometendo uma "recomposição" no governo.
Garotinho praticamente expulsou o PT do governo e exigiu do partido apoio integral, cobrando a resposta para ontem à noite. O PT retirou o apoio ao governo na Assembléia Legislativa, mas permanece com três secretarias. O ultimato acabou adiado para às 13h de hoje, quando o presidente nacional petista, José Dirceu, chega ao Rio para encontrar o governador.
"Se a bancada (da Assembléia) já decidiu abandonar, tem de entregar os cargos. Se não voltar atrás, vai ter que sair. Se não entregar, vou demitir. Ou está dentro, ou está fora", afirmou Garotinho, ao final da reunião com o Conselho Político do PDT.
Questionado se estava expurgando o PT para superar a crise, Garotinho reagiu: "Não estamos expurgando o PT. Não posso admitir que deputados do PT continuem dizendo: "Vamos sair da lama", como se fôssemos um Frankenstein. Se não prestamos, que nos deixem".
O PDT entrou na reunião em pé de guerra com Garotinho, pedindo a renúncia coletiva do secretariado, envolvido em denúncias de corrupção.
No corredor da sede do PDT, Garotinho -depois de chegar à reunião de surpresa- bateu boca com Brizola diante dos jornalistas e disse que não admitia a renúncia do secretariado, desafiando o líder pedetista.
Brizola disse que Garotinho ignorava o partido, chamou o governador de auto-suficiente e ameaçou radicalizar: "Pois agora vamos fechar a nossa posição no partido". O ex-governador acusou Garotinho de apoiar a corrupção: "Você está assinando fichas que não convêm ao partido, porque é uma banda podre no partido".
Na saída da reunião, recuo do PDT e vitória de Garotinho, que saiu fortalecido: ele conseguiu tornar superada a proposta de renúncia coletiva ao anunciar, sem citar nomes, que demitiria os acusados de corrupção e recomporia a equipe.
Há oito secretarias vagas, incluindo os dois auxiliares que deixaram os cargos depois da divulgação das denúncias de corrupção. Garotinho não deu detalhes da recomposição nem deixou claro como ela acontecerá, mas prometeu "sanear" o governo e apurar as denúncias.
Disse, porém, que não afastará nem o secretário de Administração, Hugo Leal, nem o secretário do Gabinete Civil, Jonas Lopes de Carvalho, citados em dossiês contra o governo. "Existem denúncias e denúncias", afirmou.
Garotinho disse que há ""interesses poderosos" orquestrando as denúncias de corrupção contra seu governo. Voltou a citar a investigação sobre o envolvimento do documentarista João Moreira Salles com o traficante Márcio Amaro de Oliveira, Marcinho VP. "Queriam que a lei do João das couves não valesse para o João do banco", afirmou.
Questionado sobre quem estaria à frente da campanha contra ele, disse que era a Febraban (federação dos bancos). A família de Salles é dona do Unibanco.
A Folha tentou, sem sucesso, localizar a assessoria da Febraban para comentar o caso ontem no começo da noite.
Garotinho disse que a reunião foi melhor do que ele esperava. "O que houve foi uma recuada do Brizola e do PDT", afirmou.
Brizola voltou atrás com os líderes pedetistas. Disse que a "banda podre" era força de expressão e que, com a promessa de recomposição da equipe, a renúncia coletiva não era necessária. Garotinho e o PDT deixaram prevista uma "agenda positiva" de encontros e consultas.
É uma promessa de Garotinho de consertar o pouco espaço que o PDT julga ter nas decisões políticas de governo.
O deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ), um dos defensores da renúncia coletiva do secretariado, afirmou que Garotinho prometeu consultar o partido para indicar os novos nomes de seu gabinete.


Texto Anterior: "Acusações são genéricas'
Próximo Texto: Vice Benedita é surpreendida com decisão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.