São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2005

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VIAGEM PRESIDENCIAL

Presidente defende a eliminação dos "pesados subsídios" praticados pelos países desenvolvidos

Lula convoca Camarões a lutar contra ricos

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A IAUNDÊ (CAMARÕES)

Recebido ontem à tarde por milhares de pessoas nas ruas de Iaundê (capital de Camarões), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou o colega camaronês Paul Biya, no cargo desde 1982, a "lutar" contra os "pesados" subsídios e as medidas protecionistas dos países ricos.
"Precisamos mudar as relações de força no mundo. Não podemos ser observadores passivos de decisões que afetam diretamente o nosso destino. (...) Juntos, temos de lutar pela eliminação dos pesados subsídios e de outras medidas protecionistas praticadas pelos países ricos", disse Lula, em jantar oferecido à comitiva brasileira no palácio presidencial.
Um dos principais focos da visita que iniciou ontem a cinco países africanos é ampliar o bloco de articulações do G20 para que os países em desenvolvimento tenham sustentação para romper as barreiras impostas por EUA e União Européia na OMC (Organização Mundial do Comércio). "Só assim conseguiremos derrubar o muro que divide a humanidade entre ricos e pobres."
Apesar de o comércio entre Brasil e Camarões estar hoje em cerca de US$ 30 milhões (contra US$ 4 bilhões da Nigéria, por exemplo), a visita de Lula ao país ganhou um destaque poucas vezes visto no país, segundo a imprensa local.
A TV estatal camaronesa exibiu ao vivo o jantar oferecido pelo presidente local à comitiva brasileira. Uma hora antes, já havia imagens dos convidados chegando ao palácio presidencial. A chegada de Lula ao país, por volta das 17h30 (13h30 no Brasil), também atraiu a atenção da população.
O trajeto de cerca de 20 km entre o aeroporto e o centro da cidade foi tomado por curiosos. Vestidos com trajes típicos e munidos de instrumentos musicais, os populares aplaudiam a passagem do comboio presidencial.
O cenário entre o aeroporto e o hotel em que a comitiva brasileira está hospedada lembra a capital haitiana, Porto Príncipe, com entulhos jogados às margens das ruas, esgoto a céu aberto, iluminação pública quase inexistente e inúmeras feiras livres.
Com 16 milhões de habitantes, Camarões tem 48% de sua população abaixo da linha da pobreza, segundo a CIA (serviço de inteligência dos EUA). No Brasil, segundo o IBGE, há cerca de 11 milhões de famílias nessa situação.
Há 23 anos no cargo, o presidente camaronês declarou ontem apoio à principal obsessão da política externa brasileira -uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU. "A reforma da ONU deve dar o lugar que o Brasil merece, em razão de seu peso e de seu papel no cenário internacional", disse durante discurso.
A figura de Biya, reeleito no ano passado com 70% dos votos, é vista com adoração na cidade. Em cada esquina, há uma foto do presidente, aplaudido pela população até em discursos na TV.
Hoje, Lula vai para a Nigéria. A viagem inclui passagens por Gana, Guiné-Bissau e Senegal.


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