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CRISE NO GOVERNO/VIOLAÇÃO DE SIGILO
Encontro se deu no mesmo dia em que ministro da Justiça apresentou advogado a ex-colega
Lula se reuniu com Palocci e Bastos após acerto de defesa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No mesmo dia em que se reuniram na casa do então ministro
Antonio Palocci para definir estratégias de sua defesa, o ministro
Márcio Thomaz Bastos e o próprio Palocci estiveram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
até as 22h. Já outros participantes
da reunião na casa de Palocci, o
ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso e o advogado Arnaldo Malheiros, seguiram para um encontro com a cúpula da estatal num apartamento
da Asa Sul, em Brasília.
Antes de partir para destinos diferentes, Palocci, Thomaz Bastos,
Mattoso e Malheiros trataram, no
dia 23 de março, da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, conforme revelou a
revista "Veja".
Na versão de Malheiros, houve
uma discussão genérica sobre o
que seria o crime de violação de
sigilo. De acordo com ele, não entraram em detalhes, como uma
eventual confissão de Palocci de
que seria o mandante da violação.
Na versão do ministro da Justiça,
ele apenas apresentou o advogado criminalista ao então ministro
da Fazenda.
No entanto, essas versões se
chocam com os bastidores apurados pela Folha a respeito da reunião da noite entre Lula, Thomaz
Bastos e Palocci. A partir daquela
data, Lula passou a estudar nomes
para substituir Palocci e sondou o
então presidente do BNDES, Guido Mantega, que assumiria a Fazenda na semana seguinte.
Mais: na noite daquele dia, Thomaz Bastos disse a Lula, na frente
de Palocci, que achava que o ministro da Fazenda deveria deixar
o governo. Ou seja, há indícios de
que o ministro da Justiça tinha
mais informações do que apenas
as obtidas numa discussão genérica sobre o crime de violação de
sigilo, como relata Malheiros.
Na reunião com Lula e Thomaz
Bastos, Palocci ficou contrariado,
mas reconheceu que perdera "as
condições políticas" de permanecer na Fazenda. No entanto, de
acordo com a versão de membros
da cúpula do governo, ele continuou a negar até o dia de sua demissão, 27 de março, segunda-feira, a autoria da violação e do vazamento do sigilo.
Ordem para Mattoso
A Folha apurou que Palocci deu
a ordem para Mattoso violar o sigilo. O então presidente da Caixa
entregou o extrato a Palocci no
dia 16 de março e esteve na casa
do então ministro com Malheiros
e Thomaz Bastos no dia 23, uma
semana depois.
Ao sair da casa de Palocci, Malheiros e Mattoso seguiram juntos, segundo a Folha apurou, para
um apartamento na Asa Sul, em
Brasília. Lá, se reuniram com a a
vice-presidente de Tecnologia da
CEF, Clarice Copetti, o consultor
da presidência Ricardo Schumann e o chefe-de-gabinete de
Mattoso, Philippe Torelly.
Na versão contada ontem à Folha, o objetivo desse encontro foi
reconstituir o processo de extração de dados da conta do caseiro
Francenildo Costa na Caixa. Não
há relato sobre eventual oferta de
dinheiro para que um funcionário da estatal assumisse a responsabilidade pela violação. Reportagem da revista "Veja" diz que essa
hipótese foi discutida nessa data e
que a oferta seria de R$ 1 milhão.
Os supostos envolvidos negam.
A tentativa de suborno realmente aconteceu, segundo disseram à Folha dois funcionários
que participaram do acesso aos
dados bancários do caseiro. Mas,
oficialmente, os funcionários negam que tenham recebido tal proposta.
Detalhes
Conforme a Folha apurou, na
reunião na casa de Palocci, ele
próprio e Thomaz Bastos estavam
preocupados em saber detalhes
de toda a operação. Mattoso disse
que ele mesmo não dispunha de
detalhes, mas iria levantá-los com
sua equipe. A violação dos dados
ocorrera havia uma semana.
Depois, Mattoso e Malheiros
ouviram a descrição de Clarice
Coppeti. Ela teria deixado claro
que todos os procedimentos estavam registrados pelos equipamentos da Caixa e seriam "facilmente reconstituíveis". Frisou,
inclusive, que, àquela altura, a comissão de sindicância da própria
instituição já tinha condições de
reconstituir toda a operação, passo a passo.
O primeiro a sair foi Malheiros,
cerca de 40 minutos depois.
Mattoso ainda continuou no
apartamento, com os assessores.
Dois dias antes dessa reunião no
apartamento da Asa Sul, Copetti
recebeu, ao lado de Mattoso, uma
comissão de senadores da CPI
dos Bingos. Na ocasião, expôs dificuldades para rastrear o acesso
aos dados bancários do caseiro.
Uma sindicância fora aberta na
Caixa para apurar eventuais responsabilidades. Depois de tentar
evitar seu depoimento à Polícia
Federal, Mattoso assumiu a responsabilidade pela violação dos
dados bancários do caseiro -que
prefere classificar de cumprimento de uma rotina burocrática-
na segunda-feira, 27 de março,
data de sua demissão.
Ontem, os supostos participantes da reunião negaram a presença no encontro ou se recusaram a
falar sobre ele. Philippe Torelly
afirmou, por meio da assessoria
de imprensa, que não tomou conhecimento da reunião. Clarice
Copetti também nega. Ricardo
Schumann, que reassumiu ontem
o cargo no comando da estatal depois de um período de licença,
não respondeu à Folha.
Lula segura ministro
Em reunião ontem da Coordenação de Governo, grupo que
reúne os ministros que discutem
com o presidente as diretrizes da
gestão petista, Lula pediu a eles
apoio irrestrito a Thomaz Bastos
ao debater a revelação da revista
"Veja" desta semana de que o ministro da Justiça foi à casa de Palocci com Malheiros.
Foi decidido que o ministro da
Justiça se colocaria à disposição
para ir ao Congresso o mais rápido possível. Lula acha que Thomaz Bastos agiu corretamente entre "a solidariedade a Palocci e a
firmeza para apurar a violação",
segundo expressão ouvida pela
Folha ontem no Planalto.
Além da avaliação da situação
de Thomaz Bastos, Lula e auxiliares ouviram uma exposição do
ministro da Fazenda, Guido Mantega. O novo titular da Fazenda
disse que, no auge da campanha
eleitoral, a economia estará crescendo a uma taxa de 4% ao ano.
(KENNEDY ALENCAR, ELIANE CANTANHÊDE e MARTA SALOMON)
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