São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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JANIO DE FREITAS

Aceitação forçada

Duas impressões muito freqüentes sobre o cenário eleitoral hoje, a partir do papel que nele tem a pré-candidatura de Geraldo Alckmin, merecem ser confrontadas com indicações do Datafolha que, se não as invalidam, pelo menos as tornam bem mais duvidosas.
É comum a explicação de que o baixo índice nacional de Alckmin deve-se a que é pouco conhecido no numeroso eleitorado do Nordeste, o que não se dá nos Estados do Sudeste e do Sul. Como comentário lateral, é irresistível esta observação: quem governou o Estado de São Paulo em dois mandatos consecutivos e não se tornou fartamente conhecido em todo o país ostenta um atestado de despreparo político. As dificuldades que tenha, sejam onde forem, valem como castigo pela reprovação. Alckmin está fazendo a velha segunda época.
Mas, de volta ao principal, o Datafolha constatou que a rejeição a Lula, nas três semanas desde 17 de março, caiu quatro pontos percentuais, de 33% para 29%. A rejeição a Garotinho diminuiu expressivos sete pontos, de 39% para 32%, quase o igualando a Lula. E a rejeição a Alckmin, neste momento de bondades do eleitorado? Bem, no seu caso, subiu. Um ponto, mas subiu, de 16% para 17%. Há a margem de erro, sim. Para os outros também.
E que regiões mais pesaram para a queda de Alckmin nas intenções atuais do eleitorado? Aquelas em que suas condições são consideradas mais favoráveis: Sudeste, onde caiu de 32% para 27% dos eleitores regionais, com a presença predominante de São Paulo; e Sul, onde desceu de 24 para 18%. No Nordeste, o seu pesadelo, foi onde melhor se saiu, com a queda de 10 para 9%.
A lógica é a de melhoria dos índices de Alckmin quando comece a propaganda do PSDB ou a sua própria, mas os dados atuais sugerem que seu drama não está apenas em ser menos ou mais conhecido, em tal ou qual região.
Daí se chega à outra impressão muito exposta, segundo a qual Lula se mostra inatingido ou até inatingível pelos escândalos que o circundam. Será mesmo esse o motivo maior de sua queda tão pequena, dois pontos que, a partir dos seus 42, equivalem à estabilidade apesar de tudo?
Considerados os problemas aí em cima do seu competidor imediato e, como complemento, a permanência de Garotinho na terceira posição, pode-se concluir que parte do eleitorado reage à falta de candidatos que o satisfaçam como alternativa a Lula.
Somada essa parte àquele eleitorado lulista de fato, nos seus permanentes 30 e poucos por cento, temos o que parece a liderança de Lula feita por indiferença aos escândalos, quando o problema é de insatisfação e não de indiferença. Em favor dessa conclusão há, ainda, as pesquisas do começo do ano, em que Lula era batido por Serra. Não pelo que de notável Serra estivesse fazendo na prefeitura, que de notável mesmo nada apareceu, mas por reprovação a Lula e aos escândalos.
O eleitorado está levando culpas que, por ora, não se provam.


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