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JANIO DE FREITAS
Aceitação forçada
Duas impressões muito
freqüentes sobre o cenário
eleitoral hoje, a partir do papel
que nele tem a pré-candidatura
de Geraldo Alckmin, merecem
ser confrontadas com indicações do Datafolha que, se não as
invalidam, pelo menos as tornam bem mais duvidosas.
É comum a explicação de que
o baixo índice nacional de Alckmin deve-se a que é pouco conhecido no numeroso eleitorado
do Nordeste, o que não se dá nos
Estados do Sudeste e do Sul. Como comentário lateral, é irresistível esta observação: quem governou o Estado de São Paulo
em dois mandatos consecutivos
e não se tornou fartamente conhecido em todo o país ostenta
um atestado de despreparo político. As dificuldades que tenha,
sejam onde forem, valem como
castigo pela reprovação. Alckmin está fazendo a velha segunda época.
Mas, de volta ao principal, o
Datafolha constatou que a rejeição a Lula, nas três semanas
desde 17 de março, caiu quatro
pontos percentuais, de 33% para 29%. A rejeição a Garotinho
diminuiu expressivos sete pontos, de 39% para 32%, quase o
igualando a Lula. E a rejeição a
Alckmin, neste momento de
bondades do eleitorado? Bem,
no seu caso, subiu. Um ponto,
mas subiu, de 16% para 17%.
Há a margem de erro, sim. Para
os outros também.
E que regiões mais pesaram
para a queda de Alckmin nas
intenções atuais do eleitorado?
Aquelas em que suas condições
são consideradas mais favoráveis: Sudeste, onde caiu de 32%
para 27% dos eleitores regionais, com a presença predominante de São Paulo; e Sul, onde
desceu de 24 para 18%. No Nordeste, o seu pesadelo, foi onde
melhor se saiu, com a queda de
10 para 9%.
A lógica é a de melhoria dos
índices de Alckmin quando comece a propaganda do PSDB ou
a sua própria, mas os dados
atuais sugerem que seu drama
não está apenas em ser menos
ou mais conhecido, em tal ou
qual região.
Daí se chega à outra impressão muito exposta, segundo a
qual Lula se mostra inatingido
ou até inatingível pelos escândalos que o circundam. Será
mesmo esse o motivo maior de
sua queda tão pequena, dois
pontos que, a partir dos seus 42,
equivalem à estabilidade apesar
de tudo?
Considerados os problemas aí
em cima do seu competidor
imediato e, como complemento,
a permanência de Garotinho na
terceira posição, pode-se concluir que parte do eleitorado
reage à falta de candidatos que
o satisfaçam como alternativa a
Lula.
Somada essa parte àquele eleitorado lulista de fato, nos seus
permanentes 30 e poucos por
cento, temos o que parece a liderança de Lula feita por indiferença aos escândalos, quando o
problema é de insatisfação e
não de indiferença. Em favor
dessa conclusão há, ainda, as
pesquisas do começo do ano, em
que Lula era batido por Serra.
Não pelo que de notável Serra
estivesse fazendo na prefeitura,
que de notável mesmo nada
apareceu, mas por reprovação a
Lula e aos escândalos.
O eleitorado está levando culpas que, por ora, não se provam.
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