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Satiagraha espionou assessor da Casa Civil
Chefiados por Protógenes, agentes da Abin seguiram pessoas não investigadas oficialmente, afirma PF
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No rastro dos supostos lobistas do Grupo Opportunity que
tentavam se aproximar da ministra Dilma Rousseff, agentes
da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) chefiados pelo delegado Protógenes Queiroz levantaram números de telefone
da Casa Civil para saber quem
eram os contatos de investigados pela Operação Satiagraha
dentro do Palácio do Planalto.
A informação consta de um
relatório extraído do computador de Protógenes, apreendido
pela Corregedoria da PF. Os arquivos, criptografados, mostram que os agentes seguiram e
fotografaram pessoas não investigadas oficialmente pela
Satiagraha, entre elas o deputado federal José Carlos Araújo
(PR-BA), atual presidente do
Conselho de Ética.
Na Casa Civil, a Abin levantou dados sobre Bernardo Figueiredo, homem de confiança
de Dilma que deu expediente
no Planalto até junho de 2008,
quando virou diretor-geral da
ANTT (Agência Nacional de
Transportes Terrestres). Como
assessor da Subchefia de Articulação e Monitoramento, gerenciava projetos de rodovias e
ferrovias do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
Em relatório destinado a
Protógenes, um dos agentes informa ao delegado: "Bernardo
José Figueiredo Gonçalves de
Oliveira é o usuário do telefone
X da Casa Civil".
A anotação faz parte de documento de quatro páginas com a
descrição dos passos de Guilherme Sodré Martins, conhecido como Guiga, no dia 2 de
abril de 2008. Guiga é acusado
por Protógenes de ser lobista
do Opportunity, de Daniel
Dantas. Ele e Oliveira são amigos e haviam sido flagrados em
uma escuta telefônica dias antes. Guiga foi grampeado com
autorização da Justiça.
No grampo, Guiga liga para
Oliveira e pede a ele ajuda para
quebrar a resistência de Dilma
em recebê-lo. Seu interesse, segundo a Satiagraha, seria a criação da supertele, com a fusão da
Oi com a Brasil Telecom.
Disse Guiga: "Deixe eu lhe
pedir uma consulta de amigo.
Tem uma consulta hoje do pessoal do leite Longa Vida com a
Dilma. Eles são meus clientes e
me chamaram para ir. Não quero criar problema para mim e
muito menos para ela. Não sei
como é a temperatura dela em
relação a mim".
Procurado, Oliveira disse à
Folha desconhecer investigação contra ele e não quis falar.
Questionado na quarta na
CPI dos Grampos se havia
grampeado Oliveira, Protógenes disse que não se recordava.
Questionado especificamente
sobre a pessoa pelo cargo, reservou-se o direito de não falar.
A Folha não localizou Guiga.
Naquele 2 de abril, Guiga foi
seguido em Brasília até o restaurante Cielo, no Lago Sul, onde se encontrou com Araújo.
Após o almoço, em vez de seguir Guiga, formalmente investigado, os agentes acompanharam o congressista. E relataram: "O deputado e seu parceiro [motorista] embarcaram no
Mercedez-Benz [...] e se dirigiram para a Câmara".
"Estou surpreso. Como me
fotografam clandestinamente?", reagiu Araújo. "Nos encontramos para tratar de coisas republicanas."
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