São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FORA DO PLANALTO
Presidente da CUT diz que não será "inocente útil" que dividirá oposição e chama FHC de "cara-de-pau"
Vicentinho reage à tentativa de isolar MST

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu ontem lideranças da Contag, numa tentativa de isolar politicamente o MST. O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, participou da audiência (a Contag é filiada à CUT) e reivindicou que FHC receba também os representantes do MST. Em manifestação em Brasília, Vicentinho chamou FHC de "cara-de-pau".
"Não queremos ser inocentes úteis para ajudar o governo a dividir a mobilização dos trabalhadores", disse Vicentinho. Ele apontou como reivindicação comum das entidades a revogação do pacote agrário, que impede desapropriação de terras invadidas.
Segundo Vicentinho e o presidente da Contag, Manoel dos Santos, o presidente disse que iria receber os líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), apesar de ter criticado os métodos dos militantes.
"Ele disse que já tinha recebido na mesma sala os militantes do MST várias vezes", afirmou Vicentinho.
O ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) contestou a afirmação de Vicentinho. Disse que, para reabrir canal de negociação com o governo, o MST precisa negociar primeiramente com os ministros designados para essa missão -ele próprio e o ministro da Justiça, José Gregori.
O MST insiste em que só aceita negociar com o governo em reunião da qual participe um dos ministros da área econômica ou mesmo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, desde que possa decidir.
Jungmann afirmou que o governo não pensa pelo menos nesta semana em negociar com o MST. A prioridade, segundo ele, é garantir o encaminhamento das demais reivindicações da Contag.
Segundo ele, as medidas atendem também a reivindicações do MST. Por exemplo, a redução de juros beneficia os assentados ligados à entidade que contraíram empréstimos anteriores pelo Pronaf. "Existe uma série de medidas que contemplam reivindicações do MST", disse Jungmann.
Os principais líderes do MST não foram localizados ontem. A entidade deve divulgar uma nota hoje comentando as medidas adotadas pelo governo ontem.
À tarde, em discurso na manifestação do "Grito da Terra", em frente ao Congresso, Vicentinho chamou FHC de "cara-de-pau".
"O presidente sempre nos recebe com sorrisos, e parece que vai resolver tudo. É muita cara-de-pau. Ele deveria lavar o rosto com óleo de peroba. Sempre fala, fala e depois ferra. É igual a anestesista, só que o anestesista salva a vida das pessoas", afirmou.
O comentário foi feito quando Vicentinho relatava aos manifestantes como havia sido o encontro com FHC.

Censura
O presidente da CUT disse que cobrou explicações de FHC sobre a censura da TV Educativa do Rio a uma entrevista do líder do MST João Pedro Stedile.
A entrevista não foi ao ar por determinação do ministro Andrea Matarazzo (Comunicação de Governo).
Segundo Vicentinho, FHC respondeu que não tinha nada a ver com a decisão. "Olha só a cara-de-pau", afirmou o presidente da CUT, repetindo o ataque.
Até o fechamento desta edição, a assessoria de imprensa da Presidência não havia se manifestado sobre as ofensas dirigidas ao presidente por Vicentinho.


Texto Anterior: Governo pretende mudar conceito de invasão de terra
Próximo Texto: Laudo sobre armas deve sair hoje no PR
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.