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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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SEGUNDA ONDA

Para Gushiken, seu partido deve ceder ministério a aliado

PT deve dar vaga a PMDB para compor, diz ministro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Luiz Gushiken defende que os ministros do PT, partido com mais postos no primeiro escalão, coloquem seu cargos à disposição para liberar uma vaga para composição política, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precise disso para firmar uma aliança com o PMDB.
Para ele, "é natural que o PMDB venha fazer parte do governo como integrante do primeiro escalão e não como mero apoiador no Congresso. Isso dá sentido a um governo amplo."
Um dos ministros mais próximos a Lula, com direito a reuniões diárias e conversas sobre os principais assuntos do governo, da economia à política, Gushiken rebate a crítica de que o governo apóia agora medidas que combateu no passado, como um dos pilares da reforma da Previdência: a cobrança previdenciária de 11% dos funcionários públicos aposentados que ganham acima de R$ 1.058. "Nosso governo fez aliança com vários partidos e juntou interesses de várias áreas da sociedade, como os Estados. É natural que a proposta não tenha apenas idéias do PT", afirma.

Folha - Como sr. se sente com o governo sendo acusado de renegar várias de suas críticas ao governo FHC e adotando várias das políticas tucanas? O que o sr. acha de o governo Lula pregar a taxação dos inativos e de o PFL criticá-la?
Gushiken -
Nosso governo fez aliança com vários partidos e juntou interesses de várias áreas da sociedade, como os Estados. É natural que a proposta não tenha apenas idéias do PT. Do contrário, não precisaria haver negociação para elaborar os projetos que foram enviados ao Congresso.

Folha - Mas o PT não teria de fazer um mea culpa em relação ao governo FHC? O ministro José Dirceu, por exemplo, era contra a cobrança dos inativos e agora enquadra os radicais para tentar aprová-la.
Gushiken -
Se o governo estivesse discutindo só a taxação dos inativos, talvez sim. Mas está discutindo uma reforma acordada com governadores. A taxação dos inativos é um ponto que importava quase nada para o governo federal. Foi incluída para atender compromisso com os Estados.

Folha - O governo tem dito que não colocou bodes nas reformas previdenciária e tributária e está enfrentando resistências, principalmente no PT e na base aliada, como o PDT. Como o governo vai aprovar as reformas sem o PMDB no ministério e com uma oposição que está subindo o tom?
Gushiken -
Quando o presidente juntou os governadores e fez uma análise da Previdência, encontrou um ponto de consenso. Eles vão atuar juntos.

Folha - Há um processo de aproximação com o PMDB, que sempre empaca na concessão do ministério. O partido terá um ministério? Quando? Antes ou depois de votar as reformas?
Gushiken -
É natural que o PMDB venha fazer parte do governo como integrante do primeiro escalão e não como mero apoiador no Congresso. Isso dá sentido a um governo amplo.

Folha - O presidente Lula tem resistido a dar o ministério agora. Acha que pode haver interpretação de barganha. O ministério virá só em dezembro, quando o governo pensa em fazer uma reforma ministerial?
Gushiken -
Isso depende exclusivamente do presidente.

Folha - No cronograma do governo, haverá reforma ministerial em dezembro?
Gushiken -
O presidente nunca fixou data. O bom senso diz que, se o governo sentir necessidade de mudança ministerial, ela tem de ser feita. Acho inclusive que, no caso de uma eventual mudança para composição com outros partidos, como o PMDB, por exemplo, o mais correto seria que os ministros, principalmente os do PT, o partido majoritário, coloquem seus cargos à disposição para o presidente fazer o ajuste da maneira mais livre e justa.

Folha - Outro dia o presidente falou que quatro anos era pouco tempo para mudar o país. Ele já pensa na reeleição?
Gushiken -
Não temos de nos preocupar com isso. Não há sentido. O governo mal começou.

Folha - Qual é hoje a maior preocupação que o presidente apresenta a vocês nas reuniões? O que ele mais tem pedido?
Gushiken -
Há várias. Uma delas é que as ações interministeriais sejam realizadas de maneira contínua. Eficiência maior do usos dos recursos depende de maior trabalho em equipe.

Folha - Trabalhar em equipe tem sido a maior dificuldade da área social? Haverá unificação, com coordenação única?
Gushiken -
Os ministros dessa área estão mais habilitados a falar, mas é público que a profusão de programas não obedece ao princípio da racionalidade. É necessário que haja esforço para ver o que poderá ser unificado, sem prejuízo de tal ou qual ministro. É claro que a eficácia dependerá da junção de alguns programas para que a população ganhe na ponta.

Folha - Haverá um novo ministro na área social, para coordenação geral? Aventou-se que Ciro Gomes (Integração Nacional) poderia ser esse ministro.
Gushiken -
Não vejo nada nesse sentido, nem acho prudente que se discuta mudanças ministeriais em função de medidas administrativas que precisam é de maior racionalidade.

Folha - As empresas de comunicação, de modo geral, estão atravessam um momento de grave dificuldade financeira. Haverá algum tipo de socorro financeiro, via BNDES, a esse setor? Um Proer para a mídia?
Gushiken -
Não tenho visto essa discussão com esse tema, mas acho que é um que deve ser objeto de preocupação de toda a sociedade. As empresas nacionais de mídia têm papel de muita relevância. Nós não poderíamos permitir que a comunicação sofra um processo de invasão de enlatados que venham do exterior para baratear custos. O governo deve pensar na capacidade criadora dos profissionais brasileiros. É preciso que essa diversidade cultural e essa riqueza criadora expressa em comunicação e em informação sejam produzidas por brasileiros.

Folha - Isso inclui uso de recursos públicos para financiar empresas?
Gushiken -
Não sei se haverá um Proer, mas sinto que esse assunto não é um assunto qualquer.

Folha - Esse assunto deve levar em conta um setor uma empresa. Uma Globo em dificuldades, uma empresa com enorme poder de pressão, merecerá ajuda ou não do governo?
Gushiken -
Não cheguei a uma conclusão sobre ajudar financeiramente, mas, com certeza, a capacidade que a Globo apresenta hoje em termos de criatividade e de produção genuinamente brasileira deve ser preservada. Penso que a Globo, hoje, é uma das mais importantes e eficientes organizações de comunicação do mundo. Na China, até hoje, a novela "Escrava Isaura" vai ao ar. Independente de saber se deve aportar recursos ou não, é uma questão decisiva e o país e o governo devem pensar nela.


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