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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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Professor chileno contesta críticas ao novo modelo

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos principais especialistas chilenos em Previdência Social, Salvador Valdés, 46, professor da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade Católica do Chile, contesta as críticas feitas ao modelo privatizado adotado no país.
Na opinião de Valdés, o novo sistema permitiu um aumento de cerca de 40% dos benefícios recebidos. (JD)
 

Folha - Como o sr. avalia o sistema chileno depois da privatização?
Salvador Valdés -
Foi uma reforma muito bem sucedida em termos gerais. Uma parte importante do êxito se deve, entretanto, ao mercado muito grande de títulos da dívida indexados à inflação no Chile. Caso contrário, o risco que os trabalhadores teriam em seus investimentos seria excessivo.

Folha - Há estimativas de que até mais de 50% da força de trabalho chilena não contribui para o sistema.
Valdés -
No meu juízo isso é equivocado. Não se pode pedir ao sistema novo que tenha mais cobertura que o antigo. O antigo também não tinha muita cobertura. E a razão para isso é que em todos os sistemas, novos e antigos, há uma parte muito grande da força de trabalho que é informal.
Isso não depende da reforma previdenciária. Devemos atribuir isso à pobreza, que leva muita gente a trabalhar de forma precária e informal. Essas pessoas podem muito facilmente não depositar recursos para qualquer sistema de pensão. Se a economia estivesse melhor, qualquer sistema estaria melhor. Não só o privatizado, como o de repartição antigo.

Folha - Há queixas de que os valores dos benefícios caíram.
Valdés -
Isso é falso. Há muitos dados que mostram que é o contrário. A pensão no sistema novo é em média 40% mais alta que a pensão no antigo, no INP (Instituto de Normalización Previsional). O que acontece é que há alguns grupos de trabalhadores, por exemplo os funcionários públicos, que seus empregadores não contribuíram pela parte que lhe correspondia durante décadas. Então, alguns deles mudaram para o sistema novo e levaram as contribuições que haviam feito para o sistema anterior. Mas o empregador colocou muito pouco dinheiro. É um problema do sistema antigo, não do novo, que está repercutindo em alguns trabalhadores, principalmente do Estado.

Folha - O que poderia ser feito para deixar o sistema melhor?
Valdés -
Melhorar o sistema de ajuda aos pensionistas pobres - o sistema de pensão mínima traz distorções- e também baixar as contribuições que se pagam à iniciativa privada, que também são excessivas.

Folha - Os lucros das administradoras são muito grandes. O governo não poderia interferir?
Valdés -
São realmente muito grandes. Mas não é fácil controlar isso. Poderia fazer um controle de uma maneira inteligente, senão pode levar a mais problemas.


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