São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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AGENDA NEGATIVA

Jornal diz que reportagem é correta; segundo a embaixadora no Brasil, caso não reflete opinião dos EUA

Dirceu, vice e congressistas repudiam "NYT"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após nota divulgada no final de semana pelo Palácio do Planalto, ontem foi a vez de o vice-presidente José Alencar (PL), de o ministro José Dirceu (Casa Civil), de aliados do governo e até de a oposição no Congresso defenderem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à reportagem publicada pelo jornal norte-americano "The New York Times", anteontem, sobre supostos excessos alcoólicos do presidente.
A Advocacia Geral da União e o Ministério da Justiça se reuniram ontem para definir a reação jurídica do governo ao caso. A tendência era entrar com ação pedindo indenização por danos morais diretamente na Justiça dos EUA, caso o jornal não se retrate.
No domingo, o Planalto designou o embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenur, para contatar o "NYT" e tentar reparar os danos à imagem de Lula. Até o fechamento desta edição, a embaixada ainda estudava quais providências tomar. Segundo a assessoria de imprensa, Abdenur contatou a direção do jornal, e uma das opções seria enviar carta rebatendo as afirmações. Estuda-se também um pedido de direito de resposta, o que depende de análise da legislação americana.
"Ignomínia" e "ofensiva" foram os termos usados por Alencar e Dirceu, respectivamente, para classificar a reportagem. "Quase não acredito que seja verdade que um jornal com a responsabilidade do "New York Times" tenha publicado matéria ofensiva ao Brasil, à instituição da Presidência da República, ao presidente Lula, ao cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. É uma matéria grosseira", disse Dirceu. "Respeito o direito à liberdade de imprensa, mas considero a matéria ofensiva ao país."
Já Alencar afirmou que "é uma ignomínia". "O presidente é um homem de bem, jamais poderia ser acusado de uma coisa daquelas. Nós todos, brasileiros, temos que nos revoltar. É um desrespeito ao nosso presidente", afirmou.
O ministro Guido Mantega (Planejamento) disse que há interesses econômicos no caso. Para ele, o "NYT" não publicaria o texto na primeira página se não fosse para enfraquecer Lula. "O presidente passou a incomodar muita gente com a sua política externa mais autônoma", disse, citando o fortalecimento do Mercosul.
O jornal, um dos principais dos EUA e mais influentes do mundo, publicou na edição de anteontem reportagem com o título "Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional". O texto é de Larry Rohter, um dos correspondentes do "NYT" no Brasil.
Uma das fontes que teriam dado declarações sobre Lula, citada pela reportagem, foi o ex-governador do Rio, Leonel Brizola. Sua assessoria informou que ele viajou ontem para o Uruguai.
A Folha tentou entrar em contato com Rohter, mas o escritório do jornal no Rio disse que ele está fora do Brasil. Rohter também não respondeu ao e-mail enviado.
A reportagem procurou o "NYT" para falar sobre o texto, mas a única resposta que recebeu, da sua vice-presidente de comunicação corporativa, Catherine Mathis, foi esta: "Acreditamos que nossa reportagem é correta".
Ontem, a embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak, disse que "o "New York Times" não representa o ponto de vista do governo americano".

Senado e Câmara
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), considerou a reportagem do "NYT" "uma coisa preconceituosa, inverídica, que chega perto da difamação". Ele defendeu "uma reação de natureza moral" por parte do Brasil.
Já o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), fez um longo discurso, no qual considerou a reportagem "ofensiva à dignidade do país" e uma "grosseria", que merecem sua "repulsa". Em nome do partido, prestou solidariedade a Lula.
O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), comparou o episódio ao caso Jayson Blair, escândalo por que passou o "NYT" depois de descobrir que um de seus repórteres inventava matérias. "Pasmem, o jornal é pego em vexame internacional novamente, só que, dessa vez, por um irresponsável correspondente que mora em Ipanema [bairro da zona sul carioca]."
O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), disse: "O paralelo que fez com o governo Jânio Quadros e as condições para o golpe militar são um delírio, parece que ele é que estava bêbado".


Colaboraram RAFAEL CARIELLO, de Nova York, FERNANDO CANZIAN, de Washington, e a Sucursal do Rio

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