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AGENDA NEGATIVA
Jornal diz que reportagem é correta; segundo a embaixadora no Brasil, caso não reflete opinião dos EUA
Dirceu, vice e congressistas repudiam "NYT"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após nota divulgada no final de
semana pelo Palácio do Planalto,
ontem foi a vez de o vice-presidente José Alencar (PL), de o ministro José Dirceu (Casa Civil), de
aliados do governo e até de a oposição no Congresso defenderem o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à reportagem publicada pelo jornal norte-americano
"The New York Times", anteontem, sobre supostos excessos alcoólicos do presidente.
A Advocacia Geral da União e o
Ministério da Justiça se reuniram
ontem para definir a reação jurídica do governo ao caso. A tendência era entrar com ação pedindo indenização por danos morais
diretamente na Justiça dos EUA,
caso o jornal não se retrate.
No domingo, o Planalto designou o embaixador do Brasil em
Washington, Roberto Abdenur,
para contatar o "NYT" e tentar reparar os danos à imagem de Lula.
Até o fechamento desta edição, a
embaixada ainda estudava quais
providências tomar. Segundo a
assessoria de imprensa, Abdenur
contatou a direção do jornal, e
uma das opções seria enviar carta
rebatendo as afirmações. Estuda-se também um pedido de direito
de resposta, o que depende de
análise da legislação americana.
"Ignomínia" e "ofensiva" foram
os termos usados por Alencar e
Dirceu, respectivamente, para
classificar a reportagem. "Quase
não acredito que seja verdade que
um jornal com a responsabilidade
do "New York Times" tenha publicado matéria ofensiva ao Brasil, à
instituição da Presidência da República, ao presidente Lula, ao cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. É
uma matéria grosseira", disse
Dirceu. "Respeito o direito à liberdade de imprensa, mas considero
a matéria ofensiva ao país."
Já Alencar afirmou que "é uma
ignomínia". "O presidente é um
homem de bem, jamais poderia
ser acusado de uma coisa daquelas. Nós todos, brasileiros, temos
que nos revoltar. É um desrespeito ao nosso presidente", afirmou.
O ministro Guido Mantega
(Planejamento) disse que há interesses econômicos no caso. Para
ele, o "NYT" não publicaria o texto na primeira página se não fosse
para enfraquecer Lula. "O presidente passou a incomodar muita
gente com a sua política externa
mais autônoma", disse, citando o
fortalecimento do Mercosul.
O jornal, um dos principais dos
EUA e mais influentes do mundo,
publicou na edição de anteontem
reportagem com o título "Hábito
de bebericar do presidente vira
preocupação nacional". O texto é
de Larry Rohter, um dos correspondentes do "NYT" no Brasil.
Uma das fontes que teriam dado declarações sobre Lula, citada
pela reportagem, foi o ex-governador do Rio, Leonel Brizola. Sua
assessoria informou que ele viajou ontem para o Uruguai.
A Folha tentou entrar em contato com Rohter, mas o escritório
do jornal no Rio disse que ele está
fora do Brasil. Rohter também
não respondeu ao e-mail enviado.
A reportagem procurou o
"NYT" para falar sobre o texto,
mas a única resposta que recebeu,
da sua vice-presidente de comunicação corporativa, Catherine
Mathis, foi esta: "Acreditamos
que nossa reportagem é correta".
Ontem, a embaixadora dos
EUA no Brasil, Donna Hrinak,
disse que "o "New York Times"
não representa o ponto de vista
do governo americano".
Senado e Câmara
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), considerou a
reportagem do "NYT" "uma coisa preconceituosa, inverídica, que
chega perto da difamação". Ele
defendeu "uma reação de natureza moral" por parte do Brasil.
Já o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), fez um longo discurso,
no qual considerou a reportagem
"ofensiva à dignidade do país" e
uma "grosseria", que merecem
sua "repulsa". Em nome do partido, prestou solidariedade a Lula.
O líder do governo na Câmara,
Professor Luizinho (PT-SP), comparou o episódio ao caso Jayson
Blair, escândalo por que passou o
"NYT" depois de descobrir que
um de seus repórteres inventava
matérias. "Pasmem, o jornal é pego em vexame internacional novamente, só que, dessa vez, por
um irresponsável correspondente
que mora em Ipanema [bairro da
zona sul carioca]."
O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), disse: "O paralelo que fez com o governo Jânio
Quadros e as condições para o
golpe militar são um delírio, parece que ele é que estava bêbado".
Colaboraram RAFAEL CARIELLO, de Nova York, FERNANDO CANZIAN, de Washington, e a Sucursal do Rio
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