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Brizola lê a carta-testamento na convenção
DA ENVIADA ESPECIAL
Apelando à imagem do trabalhismo, o presidente do PDT,
Leonel Brizola, leu ontem durante
a convenção a carta-testamento
de Getúlio Vargas: ""Getúlio não é
um suicida. Ele morreu para salvar a clareza do povo em conhecer obstáculos à sua vida para realizar seu destino", declarou Brizola, antes do início da leitura.
Enquanto imprimia ao documento um tom dramático, Brizola fazia comentários sobre o texto.
"Ele está aqui conosco", afirmou
sobre o presidente, considerado o
fundador do trabalhismo no país.
Ciro sempre cita Getúlio e Juscelino Kubitschek como exemplos de
homens públicos. Leia a seguir a
íntegra da carta-testamento:
"Mais uma vez, as forças e os interesses contra o
povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não
me combatem, caluniam e não me dão o direito de
defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a
minha ação, para que eu não continue a defender,
como sempre defendi, o povo e principalmente os
humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois
de decênios de domínio e espoliação dos grupos
econômicos e financeiros internacionais, fiz-me
chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho
de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos
internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.
A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas
através da Petrobras e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás
foi obstaculada até o desespero. Não querem que o
trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja
independente. Assumi o governo dentro da espiral
inflacionária que destruía os valores do trabalho.
Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam
até 500% ao ano. Nas declarações de valores do
que importávamos existiam fraudes constatadas
de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a
crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi
uma violenta pressão sobre a nossa economia, a
ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado
mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma
pressão constante, incessante, tudo suportando
em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim
mesmo, para defender o povo, que agora se queda
desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser
meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue
de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco.
Quando vos humilharem, sentireis minha alma
sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à
vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para
a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a
reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu
nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de
meu sangue será uma chama imortal na vossa
consciência e manterá a vibração sagrada para a
resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos
que pensam que me derrotaram respondo com a
minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui
escravo não mais será escravo de ninguém. Meu
sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu
sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a
espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do
povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos
dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para
entrar na história."
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