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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Empresário interessado em negociar licitações na estatal ordenou gravação em que Maurício Marinho é flagrado recebendo propina
Disputa comercial originou a fita dos Correios
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O estopim da maior crise política do governo Lula foi uma disputa comercial. Interessado em negociar novas licitações com os
Correios, o empresário Artur
Washeck Neto seria o mentor da
gravação em que o servidor Maurício Marinho foi flagrado recebendo R$ 3.000 em propina.
Washeck é sócio da Vetor Comercial e da Comam, empresas
que fornecem material ao governo federal. O empresário pediu
para gravar as conversas com Marinho, então chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios,
com a intenção de usar as fitas para negociar novas licitações, segundo a Folha apurou.
O advogado Joel Santos Filho e
o consultor de informática João
Carlos Mancuso Villela, presos
anteontem, em Curitiba, pela Polícia Federal, gravaram as fitas em
que Marinho é flagrado pedindo
propina. O deputado Gustavo
Fruet (PSDB-PR), da CPI dos
Correios, disse ontem que já tem
requerimento para ouvir os dois.
Washeck e Santos Filho são
amigos desde o governo Collor,
quando o advogado paranaense
-que teve seu registro cassado
na OAB do PR- trabalhava no
MEC (Ministério de Educação e
Cultura). Foi de Santos Filho a
idéia de apresentar João Carlos
Mancuso Villela a Marinho como
um representante de uma empresa americana de informática.
Na portaria do edifício-sede dos
Correios, Santos Filho e Villela registraram os nomes verdadeiros,
mas omitiram que o real destino
era o gabinete de Marinho. A entrada da dupla no prédio foi registrada pelo sistema de segurança.
Depois da gravação, entraram
em ação o militar reformado Arlindo Geraldo Molina e o capitão
reformado da PM mineira José
Santos Fortuna Neves, ambos
também presos anteontem. Eles
negociariam o material da gravação com o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), apontado por
Marinho como o chefe do esquema de corrupção.
Desde o governo Collor, a Vetor
Comercial e a Comam fornecem
materiais de informática e produtos médicos ao governo.
A entrega de uma das fitas para
a revista "Veja" acabou impedindo os idealizadores do esquema
de negociar com Jefferson.
Gravação
O nome de Washeck surgiu
apenas como "Artur" no depoimento de Joel Santos Filho à PF.
Ele disse ainda que uma outra
pessoa, chamada "Jairo", ligado à
comunidade de informações, participou da operação. Esse terceiro
personagem forneceu o equipamento, deu orientações sobre seu
uso e também de como proceder
no momento de gravar o servidor
em seu próprio gabinete.
Diante de Santos Filho, então
escondido sob o codinome Julio
Goldman, Marinho contou em
detalhes como funcionaria o suposto esquema de corrupção.
Na tentativa de esclarecer a
identidade de "Jairo", a Folha
procurou na tarde de ontem Jairo
Martins. Ele negou ser ligado à comunidade de informações. Disse
que é jornalista, que "vive disso",
e confirmou ter participado da
gravação, a pedido de Washeck.
Assumiu ter comprado o equipamento e dado orientação a Santos
Filho sobre como utilizá-lo.
Martins foi um dos emissários
do empresário do jogo Carlos Cachoeira responsáveis pelas gravações que levaram à cassação do
então deputado André Luiz.
Achacado pelo ex-deputado,
que lhe cobrava R$ 4 milhões para
deixá-lo sair sem problemas de
uma CPI na Assembléia Legislativa do Rio, Cachoeira encomendou, então, gravações que comprovassem a extorsão.
Segundo Jairo Martins, o combinado era que Washeck tornasse
o esquema público. "Como ele
não fez isso, eu fiz", afirmou. "E
entreguei a fita à "Veja"."
Na sede da Vetor Comercial, em
Brasília, a informação ontem era a
de que Washeck tinha viajado. Ele
teria, por meio de seus advogados, se colocado à disposição da
PF para prestar esclarecimentos.
Abin
A Abin, como órgão de assessoramento da Presidência, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional, entrou na investigação
antes de a gravação ser revelada
pela revista "Veja". Desde então,
servidores do órgão buscavam
"montar o quadro" do caso, uma
expressão utilizada pelo ministro
do GSI, general Jorge Felix.
Ao entrar na investigação, servidores da Abin buscaram informações sobre alguns personagens do
caso, entre eles o capitão da reserva da PM José Fortuna Neves, que
deve ser chamado para prestar
depoimento. Segundo Roberto
Jefferson, Fortuna estaria associado ao militar Arlindo Molina numa tentativa de extorqui-lo.
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