São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PT SOB SUSPEITA

João Setti Braga é o quarto a confirmar pagamento em Sto. André

Empresário afirma ter pago R$ 2,5 mi a prefeitura do PT

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário do setor de transporte ouvido ontem pela CPI criada em Santo André para investigar suposta propina cobrada para financiar campanhas do PT afirmou que cerca de R$ 2,5 milhões (valor desatualizado) foram retirados do caixa da empresa Nova Santo André para ser entregue a "pessoas da prefeitura", entre o final de 1997 e o início de 2000.
"[O dinheiro" era para ser entregue a pessoas da prefeitura como um custo político para poder operar as linhas com tranquilidade na cidade", afirmou João Antônio Setti Braga, sócio da Nova Santo André de 1997 a 2000, que depôs à CPI por uma hora e 20 minutos.
Setti Braga é o quarto empresário a confirmar à comissão que entregava dinheiro à prefeitura supostamente como propina. Os três outros foram: Rosangela Gabrilli, Luiz Alberto Gabrilli Neto e Sebastião Passarelli.
Para o empresário, o prefeito Celso Daniel foi assassinado, em janeiro deste ano, por ter descoberto indícios de corrupção na prefeitura. "Pode ter sido queima de arquivo", disse.
Segundo Setti Braga, os pagamentos mensais de R$ 100 mil eram feitos em dinheiro pelo também sócio da empresa Ronan Maria Pinto -acusado pelo Ministério Público de ser um dos mentores de um suposto esquema de extorsão na cidade.
A Nova Santo André, que venceu concorrência em meados de 1997 e passou a operar no final do mesmo ano, sempre foi formada por um pool de empresários de Santo André. No início, além de Setti Braga e Ronan, eram sócios Luiz Alberto Gabrilli Filho, Baltazar José de Sousa e Carlos Sófio. Baltazar e Sófio já depuseram à CPI confirmando movimentação de dinheiro sem fins conhecidos.

Ronan
"A quantia era entregue em dinheiro vivo pelo Ronan [Maria Pinto, um dos sócios da empresa"", disse Setti Braga, que não soube informar a quais pessoas eram levadas a propina e se os pagamentos prosseguiram após ter deixado a empresa. "Só posso dizer que [os receptores" eram pessoas da Prefeitura de Santo André. Mas nunca presenciei nada."
Setti Braga, sócio hoje de quatro empresas de transporte na Grande São Paulo, disse à CPI que deixou a Nova Santo André no início de 2000 por não concordar com os métodos da administração da empresa -à época, a cargo de Ronan e Gabrilli. "Saí, pois não compactuava." O depoente afirmou que distribuiu aos demais sócios os 24% que tinha na empresa, pois não tinha como negociar cotas de "algo endividado".
"O custo de R$ 100 mil foi trazido a nós [sócios da empresa" pelo Ronan, que foi nomeado pelo Klinger [Luiz de Oliveira Souza" como uma espécie de interlocutor entre a empresa e a prefeitura. Como a maioria concordou, eu tive de acatar [o pagamento de propina"." Setti Braga não soube dizer aos vereadores de que forma esses R$ 100 mil eram lançados nos balanços da Nova Santo André.
Segundo a denúncia do Ministério Público, os empresários Sérgio Gomes da Silva e Ronan Maria Pinto, e o secretário afastado de Serviços Municipais de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Souza, teriam cobrado propina de empresários que tinham contratos com a Prefeitura de Santo André, durante a gestão de Celso Daniel (1997 a 2002). A arrecadação teria sido interrompida após o assassinato do prefeito.
Depoimentos dos Gabrilli e de João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel, formam a base da ação dos promotores.
"Nos poucos encontros que tive com o Klinger, em reuniões que envolviam a questão do transporte municipal, ele sempre foi muito truculento", disse Setti Braga, que já prestou depoimento sobre o caso ao MP. Além de ex-sócio, Setti Braga é amigo particular de Luiz Alberto Gabrilli Filho.
O Ministério Público calcula que Luiz Alberto Gabrilli Filho, dono da Viação José e da Expresso Guarará, pagou cerca de R$ 2 milhões de propina entre 1997 e 2001. A empresa Guarará, que teria cometido irregularidades durante um contrato de concessão municipal, é alvo de uma auditoria da Prefeitura de Santo André.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Defesa de Klinger vê ilegalidade em provas do MP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.