São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Dantas vê motivação política em prisão

Para banqueiro, informações que ele teria dado a promotores de Milão no caso Telecom Italia são uma das razões para operação da PF

Ao falar à Folha, Dantas demonstra temor de estar sendo monitorado de longe: conversa ao lado de uma coluna e com a mão na boca

Filipe Redondo/Folha Imagem
O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, durante coletiva na sede do Opportunity, em SP


CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O banqueiro baiano Daniel Dantas falou com exclusividade à Folha pouco antes de deixar o flat de luxo em que se hospedou ontem pela manhã, por cerca de duas horas, no Itaim, zona oeste da capital paulista. Ele tomou banho, fez a barba e vestiu roupas limpas.
Com evidente temor de estar sendo monitorado de longe, conversou com a reportagem ao lado de uma coluna, no lobby do hotel. Para evitar uma possível leitura labial por terceiros, levava a mão à boca enquanto respondia às perguntas.
Dantas disse que foi bem tratado nas dependências da PF, mas criticou o que chamou de "espetáculo desnecessário", em referência à Operação Satiagraha deflagrada na madrugada da última terça. Ele considerou "superficiais" as evidências reunidas no processo.
"São acusações totalmente infundadas. Estou convicto de minha inocência", declarou. O banqueiro se mostrou surpreso com a investigação liderada pelo delegado Protógenes Queiroz. Afirmou que acreditava que estaria tudo resolvido depois da saída dele da sociedade da Brasil Telecom e que a PF investiga coisas que já deveriam estar no passado.
"Falam que enviamos dinheiro pra fora, daqui pra lá, de lá pra cá. É bobagem, não há fundamento", afirmou. Para Dantas, sua prisão teve motivação política. Dentre as razões, especula sobre uma possível perseguição por parte do ex-ministro Luiz Gushiken (Núcleo de Assuntos Estratégicos), um claro opositor aos negócios do banqueiro com membros da cúpula do governo Lula.

Delação premiada
Mas a hipótese mais provável, na avaliação de Dantas, seriam as informações por ele fornecidas à Procuradoria de Milão na investigação sobre o esquema de corrupção e espionagem ilegal envolvendo a Telecom Italia e o grupo Opportunity pelo controle da operadora Brasil Telecom (BrT).
Com o benefício da delação premiada, Dantas teria acrescentado detalhes importantes ao processo, que está sob segredo de Justiça. Ex-executivos da BrT já haviam denunciado ao juiz Giuseppe Gennari o pagamento de propinas a políticos e policiais brasileiros, no intuito de afastar Dantas do comando da BrT, hoje em poder dos fundos de pensão estatais, denúncias não comprovadas.
Nesse sentido, a Operação Chacal, deflagrada pela PF em julho de 2004, foi decisiva. O Opportunity e a Kroll foram acusados de espionar o governo federal. Na ocasião, Dantas conseguiu escapar da prisão. À Folha disse esperar que o Ministério Público brasileiro se interesse pelo caso de Milão e negou que tenha dados contra o governo Lula ou o PT, como ameaçou seu advogado, Nélio Machado. O banqueiro deixou o flat num táxi. Descartou voltar ao Rio imediatamente, pois iria depor à tarde na PF. Ele ainda não sabia que seria alvo de nova ordem de prisão, agora preventiva, expedida pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, o mesmo que decretou a primeira.


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