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Decisão escancara disputa entre STF e PF
Para Saulo Ramos, ex-ministro da Justiça, soltura e nova prisão de Daniel Dantas é "picuinha", apesar de "todos lutarem pela lei'
Procuradores da República consideraram "chocante" presidente do Supremo ter liberado Dantas mesmo diante de "provas robustas"
ANA FLOR
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Advogados acreditam que o
episódio de prisão, soltura e nova prisão do banqueiro Daniel
Dantas, ocorrido entre terça e
ontem, explicita uma guerra
entre Polícia Federal e Supremo Tribunal Federal. Eles divergiram sobre a "coragem" ou
a "interferência indevida" do
presidente do STF, Gilmar
Mendes, em soltar Dantas.
Saulo Ramos, ex-ministro da
Justiça, afirma que a contenda
entre PF e STF é uma "picuinha", apesar de "presumivelmente todos estarem lutando
pela lei". Ele também criticou a
atitude do ministro da Justiça,
Tarso Genro, que deveria ter se
preocupado em colaborar para
a harmonia entre PF e STF. "O
argumento dele não é o de um
jurista, mas um discurso de político em campanha."
Já o criminalista Tales Castelo Branco diz que tanto a decisão de pedir a segunda prisão,
pela PF, quanto sua aceitação,
pelo juiz, expressa uma "dor-de-cotovelo jurídica" provocada pela decisão do STF em favor da soltura. "Esta retaliação
judicial é extremamente negativa, como qualquer ressentimento ou motivação que tenham característica de represália". Castelo Branco diz ainda
que o "descontentamento" do
juiz de primeiro grau e do procurador regional "revela uma
má administração da Justiça".
"Chocante"
Em carta, oito procuradores
da República em São Paulo
consideraram "chocante" a
atuação do presidente do Supremo, "ao libertar o banqueiro
e pessoas ligadas a seu grupo
em menos de 24 horas, mesmo
diante de "provas robustas'".
Reclamam do fato de o presidente do STF haver requisitado
a convocação de funcionários
do TRF-3 (Tribunal Regional
Federal da 3ª Região), em São
Paulo, num feriado, para as
providências (como prestação
de informações) para a concessão da liminar. Entendem que
Mendes "atropelou" ao proferir
decisão monocrática, quando
deveria ser decisão colegiada.
Para liberar Dantas sem que
seus advogados precisassem
recorrer novamente a duas outras instâncias, Mendes converteu a natureza do habeas
corpus: de preventivo para liberatório. Para os criminalistas,
essa decisão foi correta, porque
o constrangimento seria o mesmo -receio da prisão. Mendes
entendeu que não havia necessidade de encarceramento para
o interrogatório, com o fim de
confrontar com as provas.
"Inusitado"
O vice-presidente do IBCCRIM (Instituto Brasileiro de
Ciências Criminais), Sérgio
Mazina, disse que há um "certo
caráter inusitado" na situação,
e que para a população "é tudo
um pouco estranho, porque parece ser contraditório", diz ele.
A procuradora regional da
República Janice Ascari disse
que o ministro Gilmar Mendes
jamais poderia ter concedido
um habeas corpus que estava
em trânsito havia um mês.
"Ocorrendo um fato novo, o objeto perde o poder", diz. "O STF
não se preocupa com a qualidade da investigação criminal. A
motivação colocada pelo ministro do STF é absurda, ela
protege o crime", afirma.
O procurador da República
Rodrigo de Grandis disse que a
decisão de Mendes é "inconstitucional", porque criou foro
privilegiado para Dantas. "A
decisão ofendeu os juízes naturais, das instâncias inferiores."
O advogado Fábio Konder
Comparato elogiou a PF. Mas
admite que há um "excesso de
prisões preventivas".
Sobre a decretação da prisão
preventiva de Dantas, horas
após a soltura decidida pelo
STF, o advogado Miguel Reale
Júnior disse: "Nunca vi isso".
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