São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Valor já pago a Dantas pela Oi está no exterior, suspeita PF

Banqueiro pode ter remetido de forma fraudulenta R$ 139 mi recebidos pelo Opportunity

Dantas temia que seus bens fossem bloqueados, o que não ocorreu; banco deve receber mais de US$ 1 bilhão pela saída da Brasil Telecom

LEONARDO SOUZA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal suspeita que o banqueiro Daniel Dantas já tenha remetido para o exterior, de forma fraudulenta, pelo menos R$ 139 milhões referente à primeira parte recebida pelo Opportunity na transação de venda da BrT (Brasil Telecom) para Oi (antiga Telemar), segundo a Folha apurou.
Os investigadores que participaram da Operação Santiagraha detectaram indícios de aplicações financeiras ilegais no exterior após o Opportunity ter embolsado os primeiros milhões da Oi, entre o final de abril e começo de junho.
Segundo pessoas próximas à ação da PF, Dantas tinha medo de que seus bens fossem bloqueados, o que foi pedido pelo Ministério Público Federal e pela PF e negado pelo juiz federal de primeira instância Fausto Martins de Sanctis.
O Opportunity deve receber mais de US$ 1 bilhão pela saída da BrT. Esse total inclui a venda de sua participação na empresa mais um acordo para que as partes envolvidas no negócio extinguissem todas as ações na Justiça relacionadas à BrT. Por esse acordo, o Opportunity recebeu R$ 139 milhões.
A maior parcela da transação, aproximadamente US$ 1 bilhão, somente será desembolsada pela Oi após a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aprovar mudança nas regras do setor de telefonia que permitirá a aquisição da Brasil Telecom.
De acordo com os investigadores, o dinheiro recebido da Oi teria sido mandado para fora por meio da complexa estrutura criada pelo próprio Opportunity para realizar operações de evasão de divisas.
"Os laudos periciais permitem, neste momento das investigações, inferir o possível envolvimento dos administradores do Opportunity Fund no delito de evasão de divisas, porquanto não há notícia de que os valores de brasileiros tenham sido legalmente remetidos do país", informa relatório encaminhado à Justiça Federal pela PF e o Ministério Público.
O trecho acima é parte da explicação sobre os mecanismos empregados pelos gestores do Opportunity Fund.
"As conclusões do referido exame encontram respaldo quando cotejadas com um dos e-mails interceptados em 23.05.2008, às 16h39m23s", acrescenta o relatório. Na mensagem eletrônica, um funcionário do Opportunity acerta com um cliente brasileiro aplicação num fundo para investidores estrangeiros, o que a lei não permite.
Num e-mail do dia 6 de maio, uma outra funcionária do Opportunity, Gabriella Bouqueral, relata uma estrutura criada para aplicar dinheiro de brasileiros no exterior, em paraísos fiscais. "Gabriela tenta explicar uma estrutura que planeja criar para investidores brasileiros. Seria um fundo "offshore" [no exterior] criado em Bahamas, este tendo sua RTA [não há explicação sobre a sigla] localizado em Cayman e teria a estrutura dos fundos offshore do Opportunity (Opportunity Fund e Unique)."
Os recursos relacionados a esses fundos somariam cerca de US$ 700 milhões.
Foi justamente entre maio e junho que o Opportunity recebeu os R$ 139 milhões da Oi.
Desde o dia 26 de abril que Dantas sabia da operação da Polícia Federal que poderia levar à sua prisão. Foi nesse que a Folha publicou reportagem revelando que Dantas e outras pessoas do Opportunity eram alvos de investigação da PF sobre transações financeiras supostamente fraudulentas orquestradas por sua instituição financeira.


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