São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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LIVROS

Serra publica biografia autorizada

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Sempre compartilhei a reflexão de Borges de que ninguém tem o sucesso que acredita nem fracassa como imagina", diz José Serra no livro-entrevista "O Sonhador que Faz", a ser lançado em São Paulo nesta quarta-feira. "Sempre consegui energia para enfrentar adversidades. Amigos acham que sou melhor na adversidade do que na prosperidade."
O leitor faz conexão entre a frase e o atual momento da campanha presidencial do tucano. Só o tempo dirá até que ponto a adversidade se explica por características do próprio Serra e em que medida se deve ao ambiente desfavorável a uma candidatura, qualquer que fosse, do governo.
A obra resulta de mais de duas dezenas de sessões de entrevistas dadas ao jornalista Teodomiro Braga a partir de junho de 2001.
Como em todo livro de candidato, há pouco espaço para espírito crítico. Na introdução, Braga diz que a biografia do senador "não registra contradições". Não é que tenha poucas, o que já seria meritório. "Não registra."
O autor avisa que evitou entrevistas "cheias de questionamentos". Assim, Serra fica à vontade para ser reticente sobre episódios que mereceriam análise, como a recusa de Mário Covas em apoiar sua candidatura. "Não houve nenhum desentendimento."
O mesmo ocorre quando avalia suas relações com a imprensa, tão próximas quanto conturbadas. Sua queixa, diz, limita-se à divulgação de "fatos que não aconteceram" -nada mais justo. No mais, considera-se "tolerante" com as críticas -autoavaliação que a história não respalda.
Descontadas as limitações inerentes ao propósito do livro, são vários os seus méritos. A começar pela maneira como Serra se expressa, ressaltada pelo formato "pingue-pongue". As respostas são bem articuladas e ao mesmo tempo diretas, nada rebuscadas.
E não lhe faltam histórias para contar: da presidência da UNE, do exílio no Chile, dos trabalhos na Constituinte, do governo FHC, de suas idéias sobre o Brasil.
E da vida pessoal. O menino criado na Mooca era "bonzinho em casa, briguento na rua e barulhento na escola". No futebol, "não era bom para driblar, mas para desarmar adversários". O adulto reservado lamenta não ter dedicado mais tempo aos filhos.
Serra conta ter ouvido de um dirigente partidário "que as pessoas não votariam em mim por causa do meu excesso de didatismo". E pergunta, em referência a quem lhe fez o comentário: "Não é um país esquisito, o nosso?"
Há tanto tempo ele se prepara para ser presidente que é difícil não imaginá-lo, nos últimos dias, achando tudo muito esquisito.


O SONHADOR QUE FAZ
Autor das entrevistas: Teodomiro Braga
Editora: Record



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