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ELIO GASPARI
Chega de malas,
é tempo de bornais
Finalmente uma novidade do PT Federal no mundo
da moda. A tradicional figura
da mala poderá ser substituída
pelo bornal. Foi com uma dessas delicadas sacolas que a família do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, carregou o numerário com que comprou 32 alqueires de terras em Buriti Alegre,
no cerrado goiano. De acordo
com a escritura registrada no
cartório da cidade, havia R$ 150
mil em dinheiro vivo no bornal.
A esse preço, em notas de R$ 10,
o fardo pesaria uns 15 quilos.
O bornal está na indumentária dos sertanejos, esteve na dos
guerrilheiros dos anos 70. A política brasileira ganharia estilo
popular se os hierarcas circulassem com bornais, em vez de malas. Os de Lampião eram lindos,
tinham flores bordadas pelo
próprio cangaceiro. Muito melhores que uma maleta Kenneth
Cole de US$ 250. (Apertando,
ela agüenta o enxoval de duas
noites ou US$ 1 milhão em notas de cem.)
O doutor Delúbio está docemente associado à novidade do
bornal. Aos 48 anos, o tesoureiro do PT é dos símbolos da nobiliarquia do companheiro Lula.
Tem a barba dos velhos militantes e os charutos Cohiba dos
novos poderosos. Pena que não
retire o anel da grife e repouse a
peça em cinzeiros impróprios.
Não se deve maltratar um charuto de R$ 100, por baixo.Também não se deve exibi-lo.
Professor de matemática da
rede pública, Delúbio é um personagem recente na política nacional, mas vale conhecê-lo por
aquilo que diz. Aqui vão seis
exemplos:
1) Em novembro de 2003,
quando se estranhou que ele tivesse sido incluído na comitiva
de Lula numa viagem à África:
"Qual o problema? Não sou ladrão! Represento uma entidade,
o PT".
2) Um ano depois, quando lhe
perguntaram se tinha dificuldades para marcar audiências
com autoridades, respondeu:
"Com burocrata de ministério?
É só ligar e marcar para quatro,
cinco dias depois".
3) O melhor momento do tesoureiro Delúbio, que em repetidas ocasiões louvou a transparência petista, deu-se em abril.
Numa reunião do Diretório Nacional, ele detonou a proposta
de um grupo de parlamentares
para que o partido colocasse
sua lista de doadores de campanha na internet, em tempo real.
Há duas versões para o centro
de sua argumentação. Numa,
teria dito que esse tipo de sugestão era "ingenuidade". Noutra:
"Transparência assim é burrice".
4) Em junho, quando se desbaratou o ninho dos vampiros
do Ministério da Saúde, resultou que um deles (Laerte Corrêa) estivera em diversas ocasiões com o tesoureiro petista. O
comissário explicou: "O sindicato das empresas farmacêuticas
pediu ao Laerte que ajudasse
nos contatos. Eu o conheci na
campanha. Ele ia lá no comitê
com vários empresários da
área. Depois da eleição, veio várias vezes aqui ao PT. Disse que
queria ficar perto do PT, que
queria filiar pessoas ao partido".
5) Em fevereiro passado, antes
do caso Waldomiro Diniz: "O
ministro com quem eu mais
converso é o Zé Dirceu".
6) Em abril, depois do caso
Waldomiro: "Convivi com o Zé
Dirceu quase que integralmente
de 1995 até a posse do Lula. Hoje nos vemos ocasionalmente.
Mas gosto muito, muito dele".
Delúbio Soares é um daqueles
coriscos que atravessam o céu
de Brasília sem que se possa assegurar que venham a ser relevantes, podendo-se garantir
que serão inesquecíveis.
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