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IMPRENSA
Ministro vê "deslizes" e "fabricação de notícias" em setores da mídia
Nem liberdade de imprensa é valor absoluto, diz Gushiken
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao comentar a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo, o ministro Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica) citou ontem "deslizes"
de setores da mídia, falou em "fabricação" e "interpretação" de
notícias e, ao comentar a liberdade de imprensa, afirmou que "nada é absoluto" numa sociedade.
"Vocês [jornalistas] são profissionais que sabem o limite da
ação, sabem que a liberdade de
imprensa é um valor definitivo na
democracia, mas sabem também
que numa sociedade nada é absoluto", afirmou ontem. Em entrevista, Gushiken tentou se esquivar
da polêmica. "Esse é um assunto
que vocês, jornalistas, e o Congresso devem discutir."
Em abril, Gushiken afirmou que
o critério da imprensa deveria ser
a "agenda positiva", e não a "exploração do contraditório, que fomenta discórdias e conflitos de
egos". A declaração gerou polêmica, o que forçou o ministro a
dizer que em nenhum momento
sugeriu o cerceamento.
Ontem, Gushiken disse que a
maioria da imprensa trabalha
com liberdade, mas, alguns deslizes ocorrem no setor. "Acho que a
grande parte da imprensa brasileira vive em clima de total liberdade de expressão. Aqui em nosso país não há nenhuma restrição.
Agora, evidentemente, alguns
deslizes podem existir. Vocês da
área sabem melhor do que eu isso.
E vocês convivem diariamente
com pessoas fazendo, fabricando
notícias, dando interpretação."
No Rio, o ministro José Dirceu
(Casa Civil) disse que não identifica no projeto a intenção de propiciar uma "interferência no conteúdo, na linha editorial, na independência e na liberdade de imprensa". Comparou o conselho de
jornalismo a conselhos de outras
categorias: "Da mesma maneira
que temos a OAB, o Conselho Federal de Medicina, o Crea, os jornalistas podem e devem ter o seu
conselho federal, mas garantida a
liberdade de informação e de expressão, direito constitucional de
todos nós, que, felizmente, reconquistamos no Brasil", afirmou.
Na opinião de Dirceu, o conselho "é um organismo de auto-regulamentação da profissão de jornalista": "Se no projeto houver algum artigo, algum viés, que leve a
isso [cerceamento dos órgãos de
imprensa], nós devemos modificá-lo no Congresso Nacional".
Em Brasília, o presidente do STJ
(Superior Tribunal de Justiça),
Edson Vidigal, que já foi jornalista, colocou-se contrário à proposta: "Qualquer tentativa que possa
configurar o cerceamento, quer
na busca da informação quer no
repasse das informações à sociedade, é inconstitucional, não há
por que ser considerado, não merece nem discussão". Para o presidente do STJ, a Constituição já
concede à Justiça poderes para
punir eventuais abusos da mídia.
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