São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/2006 EM JOGO

Relação apresentada por Paulo Pimenta (PT) traz 128 nomes de supostos sacadores em 98

Lista apócrifa causa guerra entre PSDB e petistas na CPI

LEILA SUWANN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O surgimento de uma nova lista com nomes de políticos de Minas Gerais, sobretudo do PSDB, PFL, PTB e PP, provocou uma guerra entre petistas e tucanos durante sessão conjunta das CPIs do Mensalão e dos Correios.
O PSDB acusou o vice-presidente da CPI do Mensalão, o deputado petista Paulo Pimenta (RS), de "esquentar uma falsa" e protocou no Conselho de Ética da Câmara pedido de cassação do mandato do deputado.
O episódio acabou acirrando os ânimos entre os dois partidos, que vinham costurando nos bastidores um acordo político.
O documento, que é apócrifo e não tem recibos de pagamentos, identifica 128 nomes que teriam dividido R$ 10,8 milhões do esquema de Marcos Valério Fernandes de Souza na campanha eleitoral de 1998.
A lista é composta por um calhamaço de papéis que tem como capa uma cópia de pesquisa da internet no site do Supremo Tribunal Federal onde Marcos Valério, Eduardo Azeredo (senador do PSDB e ex-governador de Minas) e Clésio Andrade (vice-governador de Minas Gerais) aparecem como réus. Pelo documento, os supostos pagamentos são destinados a vários candidatos a deputados estaduais e federais de Minas Gerais.
Entre os citados estão o governador de Minas, Aécio Neves -candidato a deputado federal em 98-, os deputados Carlos Melles (PFL-MG) e Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG).
Além do PSDB, PFL, PTB e PP, há candidatos vinculados a pequenos partidos, como PRN, PSL, PSB, PSN e PSD. O PT é citado como beneficiário de R$ 850 mil, mas não há identificação de nomes. Outros supostos destinatários seriam prefeitos e vereadores que ajudariam nas campanhas políticas.
Os papéis já estavam com a CPI dos Correios, mas não foram divulgados por falta de provas. Muitos na CPI do Mensalão não sabiam de sua existência, o que alimentou a confusão e gritaria de uma hora na reunião conjunta para o depoimento do sócio de Marcos Valério Cristiano Paz.
O próprio Valério, em seu depoimento anteontem, confirmou que havia uma outra relação com nomes de políticos que teriam se beneficiado de repasses de suas empresas, mas disse que não a apresentaria porque não era possível comprovar se os pagamentos haviam sido feitos.
Na há uma coluna onde está escrito "Total". Ao lado, outra anotação: "Valor Pago". O governador Aécio Neves, de acordo com o documento, teria recebido R$ 110 mil em sua campanha a deputado em 1998. Carlos Melles (PFL), que foi ministro dos Esportes de Fernando Henrique Cardoso, também teria recebido R$ 130 mil. Lael Varela (PFL), segundo o documento, seria destinatário de R$ 135 mil. Todos citados negam o recebimento.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), não comentou ontem o fato de o seu nome aparecer na lista. No lugar da manifestação do governador, a assessoria de Aécio enviou a nota do PSDB nacional (leia texto na página A7).

Dupla ocorrência
Alguns dos políticos que aparecem nesta também constam de outro documento entregue por Valério à CPI, anteontem, onde são elencados 75 nomes. O relator da CPI do Mensalão, Ibrahim Abi Ackel (PP-MG), por exemplo, é citado como destinatário de R$ 100 mil na de ontem. Em seu favor há apenas um depósito, de R$ 50 mil, feito em nome de seu filho, Paulo Abi-Ackel.
Situação semelhante tem o ex-líder do PSDB, Custódio Matos. Na relação de ontem, ele surge como beneficiário de R$ 250 mil, via uma pessoa identificada como Arcuri. Na relação de Marcos Valério entregue à CPI, Custódio recebeu R$ 20 mil. Abi Ackel confirmou que seu filho recebeu R$ 50 mil do esquema de Marcos Valério, e Custódio assentiu que ganhou R$ 20 mil.

Versões
A confusão entre os parlamentares que se preparavam para ouvir Cristiano Paz aconteceu porque o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) afirmou que viu Paulo Pimenta entrar no carro de Marcos Valério ontem de madrugada, depois do encerramento do depoimento do empresário à CPI. Redecker cobrou explicações.
Primeiramente, Pimenta confirmou que se dirigiu ao veículo de Marcos Valério para pegar uma com novos nomes. Provocado por Redecker, o petista deu a seguinte explicação: "Ao final dos trabalhos, saímos juntos. Fui até o carro e o advogado [de Marcos Valério, Marcelo Leonardo] me entregou um documento com mais nomes, além dos 79. Nomes que não têm recibo".
Enquanto Marcelo Leonardo, que também é advogado de Cristiano Paz e o acompanhava em seu depoimento, gesticulava negativamente com a cabeça, o plenário irrompeu em gritos. Muitos deputados correram para ver a e começaram a provocar: "tem tucano, tem gente importante".
Com o bate-boca, o presidente da CPI do Mensalão, Amir Lando (PMDB-RO), suspendeu a sessão e se reuniu com o deputado Paulo Pimenta no corredor.
Quando a sessão voltou, Pimenta apresentou uma nova versão: "Era uma que estava circulando durante a sessão (...) Verifiquei que os nomes que estavam na não conferiam com os 75 nomes na entregue pelo Marcos Valério. Deduzi que essa havia sido trazida pelo Marcos Valério, mas aguardei pacientemente até o final da sessão para buscar essa informação. Já fui informado que essa não partiu do senhor Marcos Valério ou de seus advogados".
A explicação não convenceu o PSDB. No final do dia, o líder tucano na Câmara, Alberto Goldman (SP), deu entrada na presidência da Câmara em um pedido de cassação do deputado petista.
Se ele for aceito, se juntará aos pedidos de cassação de nove deputados, entre eles o petista José Dirceu. Outros 14 pedidos aguardam na fila para serem encaminhados ao Conselho de Ética.
Goldman argumenta que o parlamentar "faltou com a verdade" ao apresentar mais de uma versão para explicar seu encontro com Marcos Valério ontem de madrugada, no estacionamento do Senado. O tucano pede, ainda, o afastamento do petista da vice-presidência da CPI do Mensalão.
Ao deixar a sessão, Pimenta disse que se "expressou mal" na primeira fala e que agiu com "prudência" no encontro.
Para os tucanos, Pimenta quis "esquentar" a lista utilizando-se, para tanto, do argumento de que o documento teria partido de Marcos Valério. "É lógico que ele quis dar vida à , uma vez que ela não tem validade porque não tem procedência e não poderia ser investigada pela CPI", afirmou Redecker.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Os solidários
Próximo Texto: Mensalônicas - Saques: Empresário recua e diz que recebeu de Marcos Valério
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.