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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/2006 EM JOGO
Relação apresentada por Paulo Pimenta (PT) traz 128 nomes de supostos sacadores em 98
Lista apócrifa causa guerra entre PSDB e petistas na CPI
LEILA SUWANN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O surgimento de uma nova lista
com nomes de políticos de Minas
Gerais, sobretudo do PSDB, PFL,
PTB e PP, provocou uma guerra
entre petistas e tucanos durante
sessão conjunta das CPIs do Mensalão e dos Correios.
O PSDB acusou o vice-presidente da CPI do Mensalão, o deputado petista Paulo Pimenta
(RS), de "esquentar uma falsa" e
protocou no Conselho de Ética da
Câmara pedido de cassação do
mandato do deputado.
O episódio acabou acirrando os
ânimos entre os dois partidos,
que vinham costurando nos bastidores um acordo político.
O documento, que é apócrifo e
não tem recibos de pagamentos,
identifica 128 nomes que teriam
dividido R$ 10,8 milhões do esquema de Marcos Valério Fernandes de Souza na campanha
eleitoral de 1998.
A lista é composta por um calhamaço de papéis que tem como
capa uma cópia de pesquisa da internet no site do Supremo Tribunal Federal onde Marcos Valério,
Eduardo Azeredo (senador do
PSDB e ex-governador de Minas)
e Clésio Andrade (vice-governador de Minas Gerais) aparecem
como réus. Pelo documento, os
supostos pagamentos são destinados a vários candidatos a deputados estaduais e federais de Minas Gerais.
Entre os citados estão o governador de Minas, Aécio Neves
-candidato a deputado federal
em 98-, os deputados Carlos
Melles (PFL-MG) e Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG).
Além do PSDB, PFL, PTB e PP,
há candidatos vinculados a pequenos partidos, como PRN, PSL,
PSB, PSN e PSD. O PT é citado como beneficiário de R$ 850 mil,
mas não há identificação de nomes. Outros supostos destinatários seriam prefeitos e vereadores
que ajudariam nas campanhas
políticas.
Os papéis já estavam com a CPI
dos Correios, mas não foram divulgados por falta de provas. Muitos na CPI do Mensalão não sabiam de sua existência, o que alimentou a confusão e gritaria de
uma hora na reunião conjunta
para o depoimento do sócio de
Marcos Valério Cristiano Paz.
O próprio Valério, em seu depoimento anteontem, confirmou
que havia uma outra relação com
nomes de políticos que teriam se
beneficiado de repasses de suas
empresas, mas disse que não a
apresentaria porque não era possível comprovar se os pagamentos haviam sido feitos.
Na há uma coluna onde está escrito "Total". Ao lado, outra anotação: "Valor Pago". O governador Aécio Neves, de acordo com o
documento, teria recebido R$ 110
mil em sua campanha a deputado
em 1998. Carlos Melles (PFL), que
foi ministro dos Esportes de Fernando Henrique Cardoso, também teria recebido R$ 130 mil.
Lael Varela (PFL), segundo o documento, seria destinatário de R$
135 mil. Todos citados negam o
recebimento.
O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), não comentou ontem o fato de o seu nome aparecer na lista. No lugar da
manifestação do governador, a
assessoria de Aécio enviou a nota
do PSDB nacional (leia texto na
página A7).
Dupla ocorrência
Alguns dos políticos que aparecem nesta também constam de
outro documento entregue por
Valério à CPI, anteontem, onde
são elencados 75 nomes. O relator
da CPI do Mensalão, Ibrahim Abi
Ackel (PP-MG), por exemplo, é
citado como destinatário de R$
100 mil na de ontem. Em seu favor
há apenas um depósito, de R$ 50
mil, feito em nome de seu filho,
Paulo Abi-Ackel.
Situação semelhante tem o ex-líder do PSDB, Custódio Matos.
Na relação de ontem, ele surge como beneficiário de R$ 250 mil, via
uma pessoa identificada como
Arcuri. Na relação de Marcos Valério entregue à CPI, Custódio recebeu R$ 20 mil. Abi Ackel confirmou que seu filho recebeu R$ 50
mil do esquema de Marcos Valério, e Custódio assentiu que ganhou R$ 20 mil.
Versões
A confusão entre os parlamentares que se preparavam para ouvir Cristiano Paz aconteceu porque o deputado Júlio Redecker
(PSDB-RS) afirmou que viu Paulo
Pimenta entrar no carro de Marcos Valério ontem de madrugada,
depois do encerramento do depoimento do empresário à CPI.
Redecker cobrou explicações.
Primeiramente, Pimenta confirmou que se dirigiu ao veículo
de Marcos Valério para pegar
uma com novos nomes. Provocado por Redecker, o petista deu a
seguinte explicação: "Ao final dos
trabalhos, saímos juntos. Fui até o
carro e o advogado [de Marcos
Valério, Marcelo Leonardo] me
entregou um documento com
mais nomes, além dos 79. Nomes
que não têm recibo".
Enquanto Marcelo Leonardo,
que também é advogado de Cristiano Paz e o acompanhava em
seu depoimento, gesticulava negativamente com a cabeça, o plenário irrompeu em gritos. Muitos
deputados correram para ver a e
começaram a provocar: "tem tucano, tem gente importante".
Com o bate-boca, o presidente
da CPI do Mensalão, Amir Lando
(PMDB-RO), suspendeu a sessão
e se reuniu com o deputado Paulo
Pimenta no corredor.
Quando a sessão voltou, Pimenta apresentou uma nova versão:
"Era uma que estava circulando
durante a sessão (...) Verifiquei
que os nomes que estavam na não
conferiam com os 75 nomes na
entregue pelo Marcos Valério.
Deduzi que essa havia sido trazida
pelo Marcos Valério, mas aguardei pacientemente até o final da
sessão para buscar essa informação. Já fui informado que essa não
partiu do senhor Marcos Valério
ou de seus advogados".
A explicação não convenceu o
PSDB. No final do dia, o líder tucano na Câmara, Alberto Goldman (SP), deu entrada na presidência da Câmara em um pedido
de cassação do deputado petista.
Se ele for aceito, se juntará aos
pedidos de cassação de nove deputados, entre eles o petista José
Dirceu. Outros 14 pedidos aguardam na fila para serem encaminhados ao Conselho de Ética.
Goldman argumenta que o parlamentar "faltou com a verdade"
ao apresentar mais de uma versão
para explicar seu encontro com
Marcos Valério ontem de madrugada, no estacionamento do Senado. O tucano pede, ainda, o
afastamento do petista da vice-presidência da CPI do Mensalão.
Ao deixar a sessão, Pimenta disse que se "expressou mal" na primeira fala e que agiu com "prudência" no encontro.
Para os tucanos, Pimenta quis
"esquentar" a lista utilizando-se,
para tanto, do argumento de que
o documento teria partido de
Marcos Valério. "É lógico que ele
quis dar vida à , uma vez que ela
não tem validade porque não tem
procedência e não poderia ser investigada pela CPI", afirmou Redecker.
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