São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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Publicitário diz que foi usado e inclui Genoino

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Ao completar 14 horas de depoimento à CPI do Mensalão, na madrugada de ontem, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou que resumia seu papel no esquema de repasses de recursos que desencadeou a crise política com uma frase: "Eu fui usado pelo PT".
A frase de Valério, repetida alguns minutos depois, foi feita em tom de desabafo, quando lamentava ter perdido as contas de publicidade que mantinha no governo e fazia previsões de dificuldades para retomar seus negócios depois do escândalo. Foi dita no meio da madrugada, quando a comissão já estava esvaziada. O depoimento terminou pouco depois das 2h.
O desfecho do terceiro depoimento de Valério ao Congresso foi marcado por diversas reações emocionadas do publicitário. "O que eu penso? Todo mundo sempre quis saber, não é? Eu fui usado pelo PT, em português claro é isso", disse.
Em seguida, Valério foi pressionado pelo últimos deputados relacionados para questioná-lo para que citasse os nomes de "quem o teria usado". O publicitário hesitou, mas acabou listando o que chamou de "cúpula do PT".
"O PT me usou durante um período, toda a cúpula do PT, o Delúbio [Soares], Silvio Pereira, Marcelo Sereno, [José] Genoino e o José Dirceu", disse, incluindo o ex-presidente do PT José Genoino, até então preservado por ele no depoimento. À tarde, ele havia dito não saber se Genoino tinha conhecimento do esquema de repasse de dinheiro ao PT.
Valério também mostrou sinais de irritação em resposta a afirmações de deputados de que ele "fazia um conluio" para blindar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros integrantes do governo. "Fiz um conluio para foder a minha vida? Porque sou petista de coração? Estraguei a minha vida, errei sim, mas não fiz conluio. O que a minha filha está passando não vale conluio nenhum."

Bate-boca
A exemplo do depoimento de Roberto Jefferson (PTB-RJ), o de Valério também terminou com bate-boca. A primeira discussão ocorreu entre o presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), e o deputado Carlos Willian (PMDB-MG). O deputado se exaltou devido ao excesso de perguntas sobre repasses financeiros em Minas Gerais, cobrou intervenção de Lando e acabou perdendo o direito à palavra.
"Vou falar mesmo sem microfone. Essa CPI não vai chegar a lugar nenhum", gritava Willian. Lando respondeu dizendo que o deputado era "impertinente".
Em seguida, também houve discussão entre o grupo de deputados tucanos mobilizados para usar a palavra nos instantes finais da comissão -pelo menos sete ficaram até as últimas horas do depoimento- e evitar novos ataques ao PSDB mineiro. "É uma comparação ridícula, em nenhum momento tivemos a direção partidária envolvida", disse o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), sobre os discursos de que o esquema atual seria similar ao utilizado pelos tucanos em 1998, em Minas Gerais.
A resposta veio do vice-presidente da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). "Mobilizar a bancada do PSDB para estar aqui até as 2h não é um fato qualquer. Se foi atingida de forma tão profunda é porque estamos diante de um fato real. Seria hipocrisia não reconhecer os fatos", disse.
Valério acompanhou a discussão e disse apenas que o senador Eduardo Azeredo, então candidato do PSDB ao governo de Minas Gerais, sabia dos repasses.
O relator da comissão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), reclamou "da falta de empenho" dos congressistas em fechar o foco para apurar a veracidade do "mensalão". "Muito pouco se fez e quase nada se produziu", disse, em suas considerações finais.


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