|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Publicitário diz que foi usado e inclui Genoino
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Ao completar 14 horas de depoimento à CPI do Mensalão, na madrugada de ontem, o publicitário
Marcos Valério Fernandes de
Souza afirmou que resumia seu
papel no esquema de repasses de
recursos que desencadeou a crise
política com uma frase: "Eu fui
usado pelo PT".
A frase de Valério, repetida alguns minutos depois, foi feita em
tom de desabafo, quando lamentava ter perdido as contas de publicidade que mantinha no governo e fazia previsões de dificuldades para retomar seus negócios
depois do escândalo. Foi dita no
meio da madrugada, quando a
comissão já estava esvaziada. O
depoimento terminou pouco depois das 2h.
O desfecho do terceiro depoimento de Valério ao Congresso
foi marcado por diversas reações
emocionadas do publicitário. "O
que eu penso? Todo mundo sempre quis saber, não é? Eu fui usado
pelo PT, em português claro é isso", disse.
Em seguida, Valério foi pressionado pelo últimos deputados relacionados para questioná-lo para
que citasse os nomes de "quem o
teria usado". O publicitário hesitou, mas acabou listando o que
chamou de "cúpula do PT".
"O PT me usou durante um período, toda a cúpula do PT, o Delúbio [Soares], Silvio Pereira,
Marcelo Sereno, [José] Genoino e
o José Dirceu", disse, incluindo o
ex-presidente do PT José Genoino, até então preservado por ele
no depoimento. À tarde, ele havia
dito não saber se Genoino tinha
conhecimento do esquema de repasse de dinheiro ao PT.
Valério também mostrou sinais
de irritação em resposta a afirmações de deputados de que ele "fazia um conluio" para blindar o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros integrantes do governo. "Fiz um conluio para foder a
minha vida? Porque sou petista de
coração? Estraguei a minha vida,
errei sim, mas não fiz conluio. O
que a minha filha está passando
não vale conluio nenhum."
Bate-boca
A exemplo do depoimento de
Roberto Jefferson (PTB-RJ), o de
Valério também terminou com
bate-boca. A primeira discussão
ocorreu entre o presidente da
CPI, senador Amir Lando
(PMDB-RO), e o deputado Carlos
Willian (PMDB-MG). O deputado se exaltou devido ao excesso de
perguntas sobre repasses financeiros em Minas Gerais, cobrou
intervenção de Lando e acabou
perdendo o direito à palavra.
"Vou falar mesmo sem microfone. Essa CPI não vai chegar a lugar nenhum", gritava Willian.
Lando respondeu dizendo que o
deputado era "impertinente".
Em seguida, também houve discussão entre o grupo de deputados tucanos mobilizados para
usar a palavra nos instantes finais
da comissão -pelo menos sete ficaram até as últimas horas do depoimento- e evitar novos ataques ao PSDB mineiro. "É uma
comparação ridícula, em nenhum
momento tivemos a direção partidária envolvida", disse o líder do
PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), sobre os discursos de
que o esquema atual seria similar
ao utilizado pelos tucanos em
1998, em Minas Gerais.
A resposta veio do vice-presidente da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). "Mobilizar a bancada do PSDB para estar aqui até
as 2h não é um fato qualquer. Se
foi atingida de forma tão profunda é porque estamos diante de um
fato real. Seria hipocrisia não reconhecer os fatos", disse.
Valério acompanhou a discussão e disse apenas que o senador
Eduardo Azeredo, então candidato do PSDB ao governo de Minas
Gerais, sabia dos repasses.
O relator da comissão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG),
reclamou "da falta de empenho"
dos congressistas em fechar o foco para apurar a veracidade do
"mensalão". "Muito pouco se fez
e quase nada se produziu", disse,
em suas considerações finais.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Não saio de casa, diz mulher de Valério Índice
|