São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006

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Mauro Paulino

Cabeça-feita

O APARENTE MARASMO dessa eleição oculta uma importante mudança no tráfego de opiniões do eleitorado brasileiro revelada pelos números das pesquisas. Menos influenciável, o eleitor de baixa renda e com poucos anos de estudo mostra-se convicto de seu voto e decide-se de forma mais objetiva, avaliando ganhos e necessidades imediatas. Já o eleitor com renda mais alta e acesso à universidade aparenta menos apego pelo exercício do voto e não exerce tanta influência sobre os "desinformados".
Como destacou Elio Gaspari ontem, pesquisas mais recentes mostram que Lula cresceu nos segmentos onde o adversário mantinha-se à frente. Pelo último Datafolha, a vantagem de Alckmin entre os que têm nível superior de escolaridade caiu de nove para dois pontos. E, entre os que pertencem a famílias com renda acima de dez salários, a vantagem do tucano encolheu de 13 para três pontos.
Na outra ponta, entre os menos abastados e com baixa escolaridade, nada mudou. Lula permanece com larga vantagem desde o início da disputa. A se confirmar esses resultados como tendências em próximas pesquisas, será a primeira vez, desde a volta das eleições diretas, que essa via terá mudado de mão de forma tão clara em uma disputa pela Presidência. Usualmente, as camadas mais privilegiadas do eleitorado dão o tom das alternâncias difundindo-as para o restante da população. Nessa eleição isso ainda não se deu.
O envolvimento com as candidaturas e com o noticiário político já não depende tanto da formação escolar do eleitor. Um indicativo disso pode ser medido comparando-se as menções espontâneas captadas pelo Datafolha em setembro de 1998, durante a campanha pela reeleição de Fernando Henrique, com as atuais.
Naquele ano, 71% dos que tinham nível superior de escolaridade indicavam um candidato sem que fossem estimulados com um cartão com os nomes.
Após oito anos, esse número permanece inalterado. Já os menos escolarizados mostram uma significativa evolução. Se, há um mês da eleição, em 98, apenas 46% conseguiam mencionar espontaneamente seu candidato, hoje já há 61% que o fazem.
O eleitor com nível universitário confere, é óbvio, uma importância maior ao voto do que o que estudou até o nível fundamental. Se o voto fosse facultativo, 52% dos menos escolarizados não iriam às urnas contra 37% entre os mais estudados. Só que, em relação à 98, estes apresentam um aumento de cinco pontos percentuais nessa taxa enquanto os de nível fundamental mostram-se estáveis.
Também o interesse pela eleição caiu mais entre os que cursaram uma faculdade do que entre os menos escolarizados.
Cabe então perguntar se a propalada apatia do eleitor por essa eleição é mesmo disseminada ou está localizada apenas na ponta da pirâmide.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha


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