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Mauro Paulino
Cabeça-feita
O APARENTE MARASMO dessa eleição
oculta uma importante mudança no
tráfego de opiniões do
eleitorado brasileiro revelada pelos números das
pesquisas. Menos influenciável, o eleitor de baixa
renda e com poucos anos
de estudo mostra-se convicto de seu voto e decide-se de forma mais objetiva,
avaliando ganhos e necessidades imediatas. Já o
eleitor com renda mais alta e acesso à universidade
aparenta menos apego pelo exercício do voto e não
exerce tanta influência sobre os "desinformados".
Como destacou Elio
Gaspari ontem, pesquisas
mais recentes mostram
que Lula cresceu nos segmentos onde o adversário
mantinha-se à frente. Pelo
último Datafolha, a vantagem de Alckmin entre os
que têm nível superior de
escolaridade caiu de nove
para dois pontos. E, entre
os que pertencem a famílias com renda acima de
dez salários, a vantagem
do tucano encolheu de 13
para três pontos.
Na outra ponta, entre os
menos abastados e com
baixa escolaridade, nada
mudou. Lula permanece
com larga vantagem desde
o início da disputa. A se
confirmar esses resultados como tendências em
próximas pesquisas, será a
primeira vez, desde a volta
das eleições diretas, que
essa via terá mudado de
mão de forma tão clara em
uma disputa pela Presidência. Usualmente, as camadas mais privilegiadas
do eleitorado dão o tom
das alternâncias difundindo-as para o restante da
população. Nessa eleição
isso ainda não se deu.
O envolvimento com as
candidaturas e com o noticiário político já não depende tanto da formação
escolar do eleitor. Um indicativo disso pode ser
medido comparando-se as
menções espontâneas
captadas pelo Datafolha
em setembro de 1998, durante a campanha pela
reeleição de Fernando
Henrique, com as atuais.
Naquele ano, 71% dos que
tinham nível superior de
escolaridade indicavam
um candidato sem que
fossem estimulados com
um cartão com os nomes.
Após oito anos, esse número permanece inalterado. Já os menos escolarizados mostram uma significativa evolução. Se, há
um mês da eleição, em 98,
apenas 46% conseguiam
mencionar espontaneamente seu candidato, hoje
já há 61% que o fazem.
O eleitor com nível universitário confere, é óbvio,
uma importância maior
ao voto do que o que estudou até o nível fundamental. Se o voto fosse facultativo, 52% dos menos escolarizados não iriam às urnas contra 37% entre os
mais estudados. Só que,
em relação à 98, estes
apresentam um aumento
de cinco pontos percentuais nessa taxa enquanto
os de nível fundamental
mostram-se estáveis.
Também o interesse pela
eleição caiu mais entre os
que cursaram uma faculdade do que entre os menos escolarizados.
Cabe então perguntar se
a propalada apatia do eleitor por essa eleição é mesmo disseminada ou está
localizada apenas na ponta da pirâmide.
MAURO PAULINO é diretor-geral
do instituto Datafolha
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