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ELEIÇÕES 2006 / ACRE
Jorge Viana esquece passado e se alia
a políticos que o PT antes combatia
Grupo do
governador, forte
candidato a um
ministério caso
Lula se reeleja,
fecha coligação
com PP
Um dos pais do acordo é o ex-deputado Ronivon
Santiago, envolvido nos escândalos da compra de votos
e dos sanguessugas
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO
Oito anos após ter despontado na política com a promessa
de tirar o Acre das páginas policiais, o grupo ligado ao governador Jorge Viana (PT) recorreu às mesmas personagens
que antes combatia para se
manter no poder.
Forte candidato para o ministério em um eventual segundo mandato de Luiz Inácio
Lula da Silva, Viana conquistou
o apoio do ex-governador Orleir Cameli (1995-1998), o mesmo que era caracterizado por
ele como responsável pelo
"desmonte" do Estado.
Cameli entrou no barco petista junto com seu primo Cesar Messias (PP), ex-prefeito de
Cruzeiro do Sul (segunda cidade do Estado), indicado vice na
chapa do PT ao governo.
Do lado do PP, um dos pais da
aliança é o ex-deputado Ronivon Santiago, presença constante nos grandes escândalos
dos últimos anos -compra de
votos, valerioduto e sanguessugas.
Mas ele não pôde ver o resultado final de seu trabalho. Foi
preso pela Polícia Federal poucas horas antes da apresentação da coligação, em 4 de maio.
Figura ainda na frente petista o PL de Aureliano Pascoal,
ex-secretário de Segurança Pública de Cameli e primo de Hildebrando Pascoal, símbolo do
"faroeste" que o PT combatia.
Hildebrando, preso desde 1999
por mandar matar um adversário com uma motosserra, comandava a PM do Estado.
Há oito anos, o PT dizia que o
Acre era palco de uma luta do
bem contra o mal, este simbolizado por Cameli e Ronivon. Como dizia Jorge Viana à época:
"São grupelhos que se organizaram e atuam como bandos.
Tudo coordenado por um governador [Cameli] que não tem
currículo, mas folha corrida".
A "folha corrida" de Cameli
incluía, além dos muitos CPFs,
acusações de desvio de recursos, a apreensão de um Boeing
de sua família com contrabando e a intermediação da compra de deputados para aprovar
a reeleição no Congresso.
O bem, no maniqueísmo vigente, era representado pelos
"meninos do PT" -Jorge, o senador Tião Viana e a ministra
Marina Silva (Meio Ambiente).
Hoje quarentões e grisalhos,
assumem o pragmatismo.
"Um governo que é aprovado
por 70% não pode ficar chutando pessoas que queiram apoiar
nosso projeto.[...] Qualquer
apoio estamos aceitando com
gosto", diz Viana, 46. Mas não
haverá concessão, nem há compromisso com a partilha do governo, promete. "Nosso projeto
não mudou um milímetro".
Os petistas agora tentam caracterizar Ronivon como uma
figura secundária. "O PP não
está preso a ele. O Ronivon não
negociou acordo nenhum",
afirma o governador.
Na verdade, o ex-deputado
continua apitando no partido.
Seu irmão Carlinhos Santiago
preside o diretório estadual do
PP. Segundo ele, Ronivon
-que, depois da prisão, tem se
mantido nas sombras e não
atendeu à Folha- teve "participação ativa" na aliança.
Cameli, embora formalmente afastado do PP e há oito anos
sem mandato, mantém-se influente na política acreana. Sua
base é o vale do Juruá, de 120
mil habitantes, na fronteira
com o Peru, que sempre foi reduto anti-petista.
"O Cameli é uma liderança
inquestionável, adorado na sua
região. Existe uma diferença
muito grande entre o que sai
nos jornais e o que a população
sente", diz Binho Marques,
candidato do PT ao governo.
A aproximação de PT e PP
veio aos poucos. Desde o início
do ano, Cameli passou a receber uma romaria de petistas e
antigos aliados. Vendiam a ele
as vantagens da união. "A
aliança abriu a perspectiva da
volta dele à política", diz o deputado José Bestene (PP).
Em 26 de maio, após o ex-governador ter sido devidamente
"amaciado" por meses, a cúpula do PT desembarcou em Cruzeiro do Sul para o lance final.
Do aeroporto, uma comitiva
liderada por Binho e Tião foi ao
escritório dele, no centro da cidade, buscar a bênção do "Barão do Juruá", como é conhecido. Os petistas pediram a Cameli que relevasse as rusgas em
nome da união do Acre.
O "Barão" ensaiou suspense:
queria antes garantias de que
seu sobrinho e herdeiro político, Gladson Cameli (PP), seria
um dos puxadores de voto da
coligação para deputado federal. Trato feito, o anúncio do
apoio do ex-governador veio no
início de julho. Ele diz que
apóia o PT por ter "a melhor
proposta" para o Acre.
O PT calcula que o ganho por
ter fincado bandeira no Juruá
compensa o desgaste. É um risco, pois o principal oposicionista, Márcio Bittar (PPS), não se
cansa de apontar "incoerência". "Estamos recebendo o
apoio de pessoas que nunca
gostaram de nosso projeto,
mas reconhecem que o Acre
mudou", diz Jorge Viana.
Os erros dos ex-adversários
não sumiram, afirma o governador. "Quem destruiu o Acre
tem que acertar as contas com
a Justiça. Mas, se querem votar
no PT, vamos impedir?".
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