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Bancos pagam feriado na praia de 47 juízes
Febraban gasta R$ 182 mil e leva magistrados e suas famílias a Comandatuba, na Bahia, para discutir "spread" e crédito
Encontro contou ainda com outros 60 participantes; banqueiros dizem que evento visa um diálogo aberto com os juízes
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A COMANDATUBA
O feriado de Sete de Setembro foi especial para 16 ministros (dois aposentados) do STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
e 31 desembargadores de sete
Estados: eles receberam passagem e estada grátis no resort de
luxo Transamérica da Ilha de
Comandatuba, no litoral baiano, para assistirem a algumas
palestras sobre como funciona
a arquitetura do crédito do sistema bancário brasileiro.
O patrocínio do evento foi da
Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que arcou com
uma fatura de ao menos R$ 182
mil com hospedagem e transporte dos 47 juízes. Esse valor é
estimado com base no número
de magistrados presentes e de
seus acompanhantes multiplicado pelo preço básico promocional cobrado pelo pacote.
Os magistrados podiam trazer familiares para o hotel. A
lista completa de participantes
não foi divulgada.
A agenda em Comandatuba
foi leve. As palestras começavam às 16h. Terminavam por
volta de 20h30, com jantar e algum show. O restante do tempo
era livre. O domingo também
foi aberto para passeios.
O seminário "A importância
do crédito como fator de desenvolvimento econômico e social" teve como ponto alto, logo
na sessão de abertura -às
18h30 do dia 7 de setembro-
uma palestra de Pedro Moreira
Salles, presidente e acionista do
Unibanco. Com gráficos e tabelas projetadas num telão, o banqueiro tentou explicar aos juízes que o spread cobrado nas
operações de crédito no Brasil
não é tão alto como se pensa.
O spread é a diferença entre o
que o banco paga para captar o
dinheiro e a taxa que cobra de
quem pede recursos emprestados. Para Moreira Salles, esse
spread, após descontados custos do banco e impostos, seria
próximo de 1%. O banqueiro
disse que o lucro médio sobre o
patrimônio líquido médio das
dez maiores instituições financeiras do país seria menor do
que o apurado em mineração,
siderurgia, transportes e concessões e petróleo.
Os juízes só chegaram a Comandatuba na tarde de 7 de setembro num Air Bus fretado da
TAM que atrasou a saída de São
Paulo. O avião fez escala em
Brasília para pegar magistrados
de tribunais superiores. Aterrissou na pista do hotel Transamérica por volta das 16h.
Além dos magistrados, o
evento contou com outras 60
autoridades. Além de Pedro
Moreira Salles, compareceram
o presidente do Bradesco e da
Febraban, Marcio Cypriano, o
presidente do Itaú, Roberto Setúbal, o presidente do Banco
Real, Fábio Barbosa, e até Ivan
Moreira e Rodrigo Pacheco, do
Banco Rural, instituição que teve o nome ligado ao mensalão.
Quando indagados, os banqueiros explicam o evento como um diálogo com os juízes.
Uma maneira de "um conhecer
melhor o outro", na explicação
de Marcio Cypriano. Esse é o
terceiro encontro realizado
nesse formato nos últimos três
anos, sempre num resort de luxo e com o patrocínio da Febraban. Nada é feito de maneira escondida e a imprensa tem acesso a todos os debates.
No segundo dia, os juízes assistiram à apresentação
"Spread bancário: trabalho
científico sobre sua composição", feita pelo professor Alexandre Assaf, da FEA-USP,
contratado pela Febraban e
pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis,
Atuariais e Financeiras.
Com transparências projetadas na tela do auditório, Assaf
concluiu que o spread anual
médio dos bancos ficaria em
até 2%. No meio da apresentação, um quadro mostrava que o
lucro líquido dos bancos subiu
de 2002 a 2005 de 10,6% para
15,6% em relação ao chamado
"valor adicionado" (todas as riquezas produzidas pelo setor).
Um juiz que pediu anonimato,
saiu da sala e ironizou: "Bom, o
tal do spread eles estão dizendo
que é baixo, mas o lucro deles
cresceu 50% em quatro anos".
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