São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Insatisfação de Lula motivou as alterações na PF e na Abin

Petista quer ser informado sobre ações e avalia que atuação de agência é ineficiente

Mudança também permitiu que Antonio Carlos Biscaia e Romeu Tuma Júnior fossem convidados por Tarso para integrar a pasta da Justiça

ANDRÉA MICHAEL
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou trocas nos comandos da PF e da Abin porque deseja ter mais informações sobre as grandes operações da Polícia Federal e por avaliar que a Agência Brasileira de Inteligência é ineficiente.
Em conversas reservadas, Lula se queixa de saber de ações da PF pela imprensa, sobretudo no segundo mandato. Além disso, Paulo Lacerda, que deixou a PF para chefiar a Abin, não tinha boa relação com o ministro Tarso Genro (Justiça). Quando Márcio Thomaz Bastos chefiava a pasta, conversava com Lacerda diariamente pela manhã. Com Tarso, o contato passou a ser semanal.
A gota d'água para a mudança na Abin veio na tarde de 13 de julho, na abertura dos Jogos Pan-Americanos, quando Lula foi vaiado no Maracanã.
Dias depois, o presidente soube que a Abin mapeara a disposição das vaias por parte de grupos que foram ao evento como convidados da Prefeitura do Rio, do oposicionista Cesar Maia (DEM) -na versão da agência, que Maia sempre negou. Ainda assim, o informe não chegou ao conhecimento do presidente, o que foi visto como erro do então presidente da agência, Márcio Buzzaneli.
O relacionamento ruim entre Tarso e Lacerda e o episódio do Pan levaram Lula a pedir a Thomaz Bastos que sondasse o antigo diretor-geral da PF sobre a disposição de comandar a agência de inteligência. Lacerda deu resposta positiva.

Grampo presidencial
Na Operação Xeque-Mate, a voz do presidente da República chegou a ser gravada. Quando soube disso, Lula ficou contrariado. A PF não deu destaque ao teor do diálogo no inquérito da investigação sobre jogos ilegais. Avaliou que a conversa não tinha importância.
Segundo a Folha apurou, Dario Morelli, compadre de Lula e um dos alvos da Xeque-Mate, telefonou para uma pessoa que estava com o presidente. Essa pessoa teria passado o telefone para Lula. Na versão registrada pela PF, os dois conversaram sobre um conhecido que estava hospitalizado.
Assessores palacianos avaliavam que a PF estava fora de controle e que as autoridades do governo, muitas vezes, tomavam conhecimento de assuntos sensíveis pelos jornais.
O nome preferido de Lula para o lugar de Lacerda era o do então secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa. Delegado da PF, Corrêa mantém ligação estreita com o movimento sindical, o que lhe garantiu o apoio de lideranças petistas.
Corrêa ganhou a queda-de-braço com os militares para comandar a segurança do Pan. Foi o primeiro evento internacional do país cuja segurança não ficou sob a coordenação das Forças Armadas.
Terminada a competição, em agosto, Tarso avisou Corrêa da mudança. Tarso e Corrêa tiveram alguns atritos na Justiça. Para a cadeira de Corrêa foi designado o secretário nacional de Justiça, Antonio Carlos Biscaia, que fracassara na tentativa de se reeleger deputado federal pelo PT do Rio em 2006.
Quando convidou Biscaia para sua equipe, Tarso pensava em ter o colega petista à frente da Segurança Pública. Mas não poderia mexer nenhuma peça antes do final do Pan.
Outro fator que contou para as mudanças confirmadas na última semana foi o descontentamento de Tarso com a superexposição da PF nas megaoperações policiais desencadeadas na gestão de Lacerda. Várias vezes criticou publicamente o vazamento de informações.
Quando a PF foi encarregada de produzir o laudo para avaliar a capacidade financeira do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de arcar com as próprias despesas, o ministro chegou a dizer que iria buscar os responsáveis por alimentar a imprensa com dados que teriam caráter sigiloso.

Currículo na mesa
Tomada a decisão pela mudança, Tarso resolveu uma pendência antiga estimulado por Lula: levar para a pasta o delegado de Polícia Civil Romeu Tuma Júnior, cujo currículo estava no gabinete do ministério desde os tempos da gestão de Thomaz Bastos.
Filho do senador Romeu Tuma (DEM-SP), o delegado, filiado ao PMDB, perdeu a disputa pela reeleição para deputado estadual em São Paulo. Agora foi nomeado para secretário nacional de Justiça como sucessor de Biscaia. Tuma deverá ingressar no PMDB e passar a votar mais abertamente a favor do governo no Senado.


Texto Anterior: Polícia vai ouvir pessoas citadas pelo advogado que acusa políticos do PMDB
Próximo Texto: Vamos tirar a segurança da agenda eleitoral, diz Tarso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.