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Insatisfação de Lula motivou as alterações na PF e na Abin
Petista quer ser informado sobre ações e avalia que atuação de agência é ineficiente
Mudança também permitiu que Antonio Carlos Biscaia e Romeu Tuma Júnior fossem convidados por Tarso para integrar a pasta da Justiça
ANDRÉA MICHAEL
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou trocas nos
comandos da PF e da Abin porque deseja ter mais informações sobre as grandes operações da Polícia Federal e por avaliar que a Agência Brasileira
de Inteligência é ineficiente.
Em conversas reservadas,
Lula se queixa de saber de
ações da PF pela imprensa, sobretudo no segundo mandato.
Além disso, Paulo Lacerda, que
deixou a PF para chefiar a Abin,
não tinha boa relação com o
ministro Tarso Genro (Justiça). Quando Márcio Thomaz
Bastos chefiava a pasta, conversava com Lacerda diariamente
pela manhã. Com Tarso, o contato passou a ser semanal.
A gota d'água para a mudança
na Abin veio na tarde de 13 de
julho, na abertura dos Jogos
Pan-Americanos, quando Lula
foi vaiado no Maracanã.
Dias depois, o presidente
soube que a Abin mapeara a
disposição das vaias por parte
de grupos que foram ao evento
como convidados da Prefeitura
do Rio, do oposicionista Cesar
Maia (DEM) -na versão da
agência, que Maia sempre negou. Ainda assim, o informe
não chegou ao conhecimento
do presidente, o que foi visto
como erro do então presidente
da agência, Márcio Buzzaneli.
O relacionamento ruim entre Tarso e Lacerda e o episódio
do Pan levaram Lula a pedir a
Thomaz Bastos que sondasse o
antigo diretor-geral da PF sobre a disposição de comandar a
agência de inteligência. Lacerda deu resposta positiva.
Grampo presidencial
Na Operação Xeque-Mate, a
voz do presidente da República
chegou a ser gravada. Quando
soube disso, Lula ficou contrariado. A PF não deu destaque
ao teor do diálogo no inquérito
da investigação sobre jogos ilegais. Avaliou que a conversa
não tinha importância.
Segundo a Folha apurou,
Dario Morelli, compadre de
Lula e um dos alvos da Xeque-Mate, telefonou para uma pessoa que estava com o presidente. Essa pessoa teria passado o
telefone para Lula. Na versão
registrada pela PF, os dois conversaram sobre um conhecido
que estava hospitalizado.
Assessores palacianos avaliavam que a PF estava fora de
controle e que as autoridades
do governo, muitas vezes, tomavam conhecimento de assuntos sensíveis pelos jornais.
O nome preferido de Lula
para o lugar de Lacerda era o do
então secretário nacional de
Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa. Delegado da PF,
Corrêa mantém ligação estreita com o movimento sindical, o
que lhe garantiu o apoio de lideranças petistas.
Corrêa ganhou a queda-de-braço com os militares para comandar a segurança do Pan.
Foi o primeiro evento internacional do país cuja segurança
não ficou sob a coordenação
das Forças Armadas.
Terminada a competição, em
agosto, Tarso avisou Corrêa da
mudança. Tarso e Corrêa tiveram alguns atritos na Justiça.
Para a cadeira de Corrêa foi designado o secretário nacional
de Justiça, Antonio Carlos Biscaia, que fracassara na tentativa de se reeleger deputado federal pelo PT do Rio em 2006.
Quando convidou Biscaia para sua equipe, Tarso pensava
em ter o colega petista à frente
da Segurança Pública. Mas não
poderia mexer nenhuma peça
antes do final do Pan.
Outro fator que contou para
as mudanças confirmadas na
última semana foi o descontentamento de Tarso com a superexposição da PF nas megaoperações policiais desencadeadas
na gestão de Lacerda. Várias
vezes criticou publicamente o
vazamento de informações.
Quando a PF foi encarregada
de produzir o laudo para avaliar a capacidade financeira do
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), de arcar com as próprias despesas, o
ministro chegou a dizer que
iria buscar os responsáveis por
alimentar a imprensa com dados que teriam caráter sigiloso.
Currículo na mesa
Tomada a decisão pela mudança, Tarso resolveu uma
pendência antiga estimulado
por Lula: levar para a pasta o
delegado de Polícia Civil Romeu Tuma Júnior, cujo currículo estava no gabinete do ministério desde os tempos da
gestão de Thomaz Bastos.
Filho do senador Romeu Tuma (DEM-SP), o delegado, filiado ao PMDB, perdeu a disputa
pela reeleição para deputado
estadual em São Paulo. Agora
foi nomeado para secretário
nacional de Justiça como sucessor de Biscaia. Tuma deverá
ingressar no PMDB e passar a
votar mais abertamente a favor
do governo no Senado.
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