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Comissão da Aeronáutica vai apontar qual é o melhor caça
Decisão pode constranger Lula, que anunciou a abertura de negociação só com franceses
Três concorrentes têm até a sexta-feira da semana que vem, quando chega ao fim a análise técnica das ofertas, para melhorar as propostas
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá sofrer constrangimento ao anunciar oficialmente a opção do Brasil por
um dos três caças que disputam
a renovação da frota da FAB,
pois o presidente da comissão
responsável pelo processo de
seleção, brigadeiro Dirceu Tondolo Noro, disse que irá indicar
um vitorioso técnico. A partir
daí a decisão será política.
"Dentro da metodologia que
foi aprovada pelo Alto Comando da Aeronáutica, eu vou dizer: dentro desses métodos
aqui, o mais pontuado é esse
aqui", disse Noro à Folha, explicando que o resultado sairá
de uma confrontação de dados,
com pesos específicos, sobre
cada um dos concorrentes.
Estão na disputa o Rafale, da
empresa francesa Dassault, o
F-18, da norte-americana
Boeing, e o Gripen, da sueca
Saab. Se a opção técnica não
coincidir com a vontade política de Lula de comprar os 36 caças da França, o presidente terá que explicitar que a escolha
é política e estratégica.
Na segunda-feira, durante a
divulgação de um mega-acordo
militar entre Brasil e França
para compra de submarinos de
propulsão nuclear e helicópteros, o governo brasileiro surpreendeu ao anunciar que tinha aberto negociação para adquirir os aviões franceses.
Depois do comunicado que
indicava a preferência brasileira pelos Rafale, Noro se reuniu
na terça e na quarta com os três
concorrentes e disse ontem
que as três aceitam melhorar
suas ofertas tanto de preços
quanto de condições.
"Todos têm autorização [de
seus governos] de melhorar
formalmente suas ofertas. Está
tudo escrito, não é nada de boca nem daqui para lá, nem de lá
para cá", informou Noro.
Segundo ele, as três empresas têm até dia 18 para melhorar suas propostas e torná-las
mais competitivas, porque é
nessa data que ele vai fechar o
processo de coleta de dados,
que já dura um ano e reúne
mais de 26 mil páginas.
"Todos os três têm as mesmas condições, dentro do que
foi negociado na oferta original, na oferta revisada e na
oferta final. Eles sabem muito
bem em que cada um pode melhorar, no preço também. Eles
não têm dúvidas quanto a isso."
As áreas analisadas pela comissão são: 1) técnica, como garantias; 2) operacional, como
armamento e capacidade de
carregamento de armas; 3)
transferência de tecnologia,
que significa averiguar o que
essa parceria vai dar e vai render para o Brasil hoje e no futuro nesse componente; 4) offset,
que pode ser direto no avião
que está sendo comprado ou
pode ser para um outro projeto
estratégico, ou de materiais, ou
de sistema, ou de mísseis, que
aquele fabricante domina e
transfere para o Brasil; 5) comercial, e aí se incluem preços
e condições do negócio.
Segundo ele, o processo de
seleção, comandado pela Copac (Comissão Coordenadora
do Programa Aeronave de
Combate), vem sendo consolidado desde a década de 1980,
com o programa AMX, do consórcio Brasil-Itália. Hoje, isso
tudo está regido e organizado
por diretriz do Comando da
Aeronáutica, responsável pelo
"desenvolvimento, introdução
na FAB, apoio e serviço e finalmente desativação de aeronaves e de sistemas. É um ciclo".
A questão da transferência
de tecnologia é estratégica, diz.
"Para que um avião desses possa efetivamente defender o
país, eu preciso ter acesso e
controle sobre o que é o avião e
o que eu posso dispor dele. E se
eu quiser colocar nele um míssil da empresa X ou Y, nós temos que ter autonomia para fazer isso. Se não, o avião não é
nosso", explica Noro.
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