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Ritmo de desmate do cerrado é maior que o da Amazônia
Medido em emissões de CO2, o impacto da destruição do bioma supera o da indústria brasileira e o do setor de transportes juntos
Estudo do Meio Ambiente mostra que o cerrado perdeu 48,2% de sua vegetação; pasta diz que vai monitorar desmate como na Amazônia
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquanto as atenções do governo estavam voltadas a combater o desmatamento na Amazônia, o cerrado perdeu nos últimos anos uma área de vegetação nativa ainda maior: a diferença registrada pelos satélites
entre 2002 e 2008 é proporcional a 12 vezes a cidade de São
Paulo, mostra levantamento
divulgado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente.
Por ano, o cerrado perdeu,
em média, 21.260 quilômetros
quadrados de vegetação original, abrindo mais espaço para a
plantação de grãos ou servindo
à produção de carvão. O ritmo
do desmatamento equivale a
mais que o dobro da previsão de
abate de árvores na Amazônia
em 2009.
Medido em emissões de gás
carbônico -o vilão do aquecimento global-, o impacto do
desmatamento do cerrado é
equivalente ao da devastação
na floresta e supera as emissões
da indústria brasileira e de todo
o setor de transportes juntos:
350 milhões de toneladas de
carbono por ano, em média, segundo o ministério.
"Nós não estamos preocupados só com os bichinhos", disse
o ministro Carlos Minc (Meio
Ambiente). "Se as bacias continuarem sendo desmatadas nesse ritmo, vai faltar água para a
agricultura e a produção de
energia", completou. O cerrado
abriga metade do potencial hidrelétrico do país.
Minc anunciou que o desmatamento no cerrado será monitorado como na Amazônia. Ontem, o ministério lançou à consulta pública proposta de plano
de prevenção e controle do desmatamento no bioma, que tem
cerca de metade da extensão do
bioma amazônico.
De acordo com o levantamento, o cerrado já perdeu
quase metade (48,2%) da sua
vegetação original. A maior
parte da devastação ocorreu
entre as décadas de 70 e 90,
quando o bioma era visto como
principal fronteira agrícola do
país, e sua ocupação foi estimulada pelo governo.
Mas o ritmo continua acelerado e, em apenas seis anos, o
cerrado perdeu o equivalente a
metade do Estado de São Paulo
de sua vegetação nativa.
O Maranhão liderou o ranking dos Estados que mais desmataram entre 2002 e 2008.
Foi seguido por Mato Grosso,
Minas Gerais, Goiás e Bahia.
Segundo Minc, o combate ao
desmatamento no bioma enfrentará uma dificuldade extra.
A legislação só exige dos proprietários de terras do bioma a
preservação de 20% da vegetação nativa. A área de cerrado localizada nos limites da Amazônia Legal tem um percentual de
preservação maior exigido em
lei, de 35%.
Ou seja, a maior parte do desmatamento observou os limites da lei e não poderá ser punido. A solução proposta pelo Ministério do Meio Ambiente é
aumentar as áreas de proteção
integral ou de uso sustentável,
nas quais o desmatamento é
proibido, dos atuais 7,5% para
10% do bioma.
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