São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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TRANSIÇÃO NO ESCURO

Empresário atribui alta do dólar a especuladores e critica colegas que aderiram a Lula no segundo turno

Ermírio ataca "covardes" que mudam de lado

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, sem citar nenhum nome, classificou ontem de covardes os empresários que declararam apoio ao presidenciável tucano, José Serra, no primeiro turno e passaram a apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno: "Tem muita gente covarde que já está pulando para o outro lado. Mas isso é falta de caráter".
Ele não fez coro ao presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que no dia anterior vinculou a tensão do mercado à falta de clareza das propostas dos candidatos à Presidência. Anteontem, Armínio disse que "existe hoje um clima de medo de que não se vai prosseguir numa trajetória de responsabilidade fiscal e transparência". Segundo ele, "não é suficiente repetir um discurso ou divulgar um comunicado" -referindo-se indiretamente a Lula.
Segundo Ermírio de Moraes, a subida do dólar para o patamar de R$ 4 se deve principalmente aos especuladores atentos ao endividamento do Brasil e de outros países do Terceiro Mundo.
"A dívida do Terceiro Mundo já vai a US$ 2,5 trilhões e cresce 8% ao ano. Só se paga os juros e ninguém paga o principal. E eles [os especuladores" estão sabendo disso", afirmou Ermírio depois de deixar o apartamento do presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo, com o qual conversou por cerca de uma hora.
Para o empresário, apenas "em parte" se pode atribuir a subida do dólar ao efeito da eleição presidencial: "Não é caso de Lula, não. O mundo inteiro está apavorado, e ponto final". Ermírio, que disse ter ido ao apartamento do presidente para convidá-lo para uma inauguração em uma fábrica da Votorantim, disse que continua apoiando José Serra à Presidência e se colocou à disposição para gravar novas participações no programa eleitoral dele e no do governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à reeleição.
Em relação a Serra, o empresário avaliou como "difícil" a chance dele vencer a disputa contra Lula: "Acho que não é fácil. Mas acho que... Eu vou votar no Serra. Não vou virar a casaca, né?".
Ermírio declarou que, no caso de uma eventual derrota de seu candidato, ele terá de viver "com governo ou sem governo": "Você tem de viver por competência, não por amizade ao governo".
Apesar disso, defendeu apoio ao novo presidente, qualquer que seja o resultado, "em defesa da nação". "Nós todos temos de lutar por esta nação. Não pode amanhã fugir porque, naturalmente, você está com A, B, C ou D na Presidência da República", declarou.


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