São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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Atuação em governo petista racha PSB

Lula Marques/Folha Imagem
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, abraça Anthony Garotinho, durante encontro na sede do PSB, em Brasília


MURILO FIUZA DE MELO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de declarar apoio formal ontem à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, o PSB está dividido sobre a participação do partido num possível governo petista.
O assunto foi retirado da pauta da reunião da Executiva Nacional do partido, em Brasília, por falta de consenso. A maior oposição partiu do ex-governador Anthony Garotinho (RJ), que já anunciou que pretende ser candidato à Presidência em 2006.
De manhã, depois da reunião da Executiva, ele voltou a criticar o PT e Lula, mas à noite ao lado do candidato petista, do presidente nacional do PT, José Dirceu, e de outras lideranças do partido, amenizou o discurso. Disse que se empenhará na campanha de Lula.
"Não existe faz-de-conta. Faremos a sua campanha. Não ficaremos em cima do muro e não vamos pregar o voto nulo", afirmou Garotinho, que prometeu participar do programa eleitoral de tevê de Lula e acompanhá-lo em comícios pelo país.
Em entrevista publicada ontem pela Folha, o ex-governador afirmou que um eventual governo Lula terá problemas por aliar uma "área econômica conservadora e uma área social progressista".

Convite
O candidato petista esteve no início da noite na sede do PSB. No discurso, o petista agradeceu o apoio do partido e voltou a convidar o PSB para integrar o comando da campanha.
"Eu gostaria que essa aliança não fosse apenas um apoio formal, mas que o PSB participasse do comando da campanha. Queremos fazer uma campanha com igualdade de condições."
Durante seu discurso, Garotinho criou constrangimento ao dizer que, em 1994, quando disputou o segundo turno ao governo do Rio contra o PSDB, o PT pregou voto nulo. Lula interferiu, afirmando que ele tinha aderido a campanha de Garotinho. O ex-governador insistiu: "Vocês pregaram, sim, o voto nulo."
De manhã, na reunião da Executiva, Garotinho defendeu que os socialistas assumam uma posição independente em relação a um provável governo petista. Entre os que se mostraram dispostos a participar de um provável governo Lula estavam o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, e o senador Ademir Andrade (PA).
O ex-governador disse que o apoio do PSB a Lula será "desinteressado". "Ninguém aqui está querendo uma boquinha. O PSB é um partido que tem princípios".
Em 2000, o então governador disse que havia um "PT da boquinha" no Rio, que só estava interessado em manter seus cargos no Estado. Logo depois, o PT rompeu com o governo estadual.
Para Lessa, o apoio a um governo Lula é fundamental para a governabilidade do país. "Não se trata de boquinha. Acho natural que o PSB integre o governo do Lula, até porque estamos dando apoio agora", disse.

Conflito
Na entrevista, Garotinho disse que há "conflito" na relação do PSB com o PT e deixou claro que o petista terá que buscar o apoio dos evangélicos, sua principal base eleitoral.
"Isso quem tem que fazer é o Lula. Vou pedir votos, mas eles não são obrigados a apoiá-lo. Quem tem que conquistar o apoio dos evangélicos é o Lula", disse.
Garotinho contou que terá hoje um almoço de agradecimento com as principais lideranças evangélicas que o apoiaram na campanha, mas que não irá pedir votos a Lula.
Ele voltou a dizer que no Rio, PSB e PT estarão em palanques diferentes e anunciou que o PSB organizará, hoje, um ato oficial de adesão à campanha de Lula na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no centro do Rio.
Primeiro a falar na entrevista, o presidente nacional do PSB, Miguel Arraes, disse que a aliança com o PT no segundo turno será "sem restrições". Na reunião, segundo alguns socialistas, Arraes disse a Garotinho que, quando foi governador de Pernambuco, também sofreu perseguições de petistas, que o chamavam de "Pinochet do Nordeste", mas nem por isso guardou mágoas do PT.


Colaborou LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília


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