São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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Servidor acusa Renan de ter manipulado processos

Segundo Santi, funcionários foram induzidos a se omitir sobre "coisas não corretas"

À Corregedoria ele também disse que os assessores eram orientados a procurar brechas nas ações para que pudessem ser anuladas

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O servidor do Senado Marcos Santi acusou Renan Calheiros de ter usado o cargo e servidores da direção da Casa para manipular os processos que enfrenta de quebra de decoro.
Em depoimento sigiloso à Corregedoria do Senado, no dia 29 de agosto, a que a Folha teve acesso, ele afirmou: "Nós servidores estávamos sendo induzidos [por Renan] a raciocinar, fazer coisas ou se omitir sobre coisas que não eram corretas."
Santi era secretário-adjunto da Mesa e lidava com várias etapas do trâmite das primeira representação contra Renan.
O senador Renato Casagrande (PSB-ES) disse que já elaborou requerimento para que Santi deponha no Conselho de Ética assim que a quinta denúncia contra Renan, que trata de suposta espionagem contra colegas, seja instaurada. "A Corregedoria tinha a função de avançar na investigação, não sabemos o que levou o órgão a não desdobrar o assunto", disse o senador.
Segundo Santi, Renan orientava os assessores a procurar brechas nos processos para que pudessem ser anulados depois, se resultassem na cassação do mandato. "Houve, por parte do presidente, uma condução, em determinados momentos, que a gente, como servidor, via que não estava correta e o alertava, que havia necessidade de corrigir, mas nenhuma providência era tomada. Ficou evidente uma condução do próprio processo pelo réu."
Como exemplo, Santi citou que Renan encaminhou o primeiro pedido de investigação que enfrentou ao Conselho sem convocar a Mesa, procedimento irregular. "Já no início do processo se criaram situações que visavam a gerar nulidades processuais, que posteriormente poderiam ser alegadas, atos esses praticados pelo próprio senador Renan Calheiros", afirmou. "Não foi uma coisa que pudesse ser interpretada como mero descuido."
Com relação à secretária-geral da Mesa, Claudia Lyra, revisar o depoimento de Renan ao Conselho, Santi disse que não é um procedimento normal e que "ela identificou lacunas e falas em que não havia o nome do senador ao lado". Completou: "Duvido que a Claudia não tenha sido pressionada a retardar a entrega" do texto para evitar alimentar o noticiário das revistas semanais.
Segundo Santi, Renan também mandou os responsáveis pelos três órgãos técnicos com competência para assessoramento na área jurídica da Casa atuarem diretamente no Conselho de Ética. "No momento em que se instalam os trabalhos, os três órgãos técnicos, para nossa surpresa, receberam a ordem: "Se dirijam para lá, estejam lá em todas as reuniões"," disse.
Tuma voltou a afirmar ontem que Santi "não citou o nome de Renan" em seu depoimento. Confrontado pela reportagem, disse: "Não estou lendo o depoimento. Mas se você leu, acredito." Ao fim do depoimento, Tuma sugeriu que Santi tirasse férias. "Ele seria punido pela Casa", justificou.
Como corregedor, afirmou ter encaminhado o depoimento à Diretoria da Casa, subordinada a Renan. Tuma pediu ajuda à PF para investigar a denúncia de que Renan teria mandado espionar dois opositores: os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO).
Tuma quer que a PF encontre o ex-deputado e empresário Pedro Abrão, peça chave na nova denúncia contra Renan.
O advogado Heli Dourado disse, em entrevista gravada à Folha, que Abrão fora procurado pelo ex-senador Francisco Escórcio para tratar da suposta espionagem. Ele negou depois ter dito isso. Tuma recebeu de Demóstenes a cópia da entrevista, que ele veiculou no Senado anteontem.


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