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Servidor acusa Renan de ter manipulado processos
Segundo Santi, funcionários foram induzidos a se omitir sobre "coisas não corretas"
À Corregedoria ele também disse que os assessores eram orientados a procurar brechas nas ações para
que pudessem ser anuladas
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O servidor do Senado Marcos
Santi acusou Renan Calheiros
de ter usado o cargo e servidores da direção da Casa para manipular os processos que enfrenta de quebra de decoro.
Em depoimento sigiloso à
Corregedoria do Senado, no dia
29 de agosto, a que a Folha teve
acesso, ele afirmou: "Nós servidores estávamos sendo induzidos [por Renan] a raciocinar,
fazer coisas ou se omitir sobre
coisas que não eram corretas."
Santi era secretário-adjunto
da Mesa e lidava com várias
etapas do trâmite das primeira
representação contra Renan.
O senador Renato Casagrande (PSB-ES) disse que já elaborou requerimento para que
Santi deponha no Conselho de
Ética assim que a quinta denúncia contra Renan, que trata
de suposta espionagem contra
colegas, seja instaurada. "A
Corregedoria tinha a função de
avançar na investigação, não
sabemos o que levou o órgão a
não desdobrar o assunto", disse
o senador.
Segundo Santi, Renan orientava os assessores a procurar
brechas nos processos para que
pudessem ser anulados depois,
se resultassem na cassação do
mandato. "Houve, por parte do
presidente, uma condução, em
determinados momentos, que
a gente, como servidor, via que
não estava correta e o alertava,
que havia necessidade de corrigir, mas nenhuma providência
era tomada. Ficou evidente
uma condução do próprio processo pelo réu."
Como exemplo, Santi citou
que Renan encaminhou o primeiro pedido de investigação
que enfrentou ao Conselho
sem convocar a Mesa, procedimento irregular. "Já no início
do processo se criaram situações que visavam a gerar nulidades processuais, que posteriormente poderiam ser alegadas, atos esses praticados pelo
próprio senador Renan Calheiros", afirmou. "Não foi uma
coisa que pudesse ser interpretada como mero descuido."
Com relação à secretária-geral da Mesa, Claudia Lyra, revisar o depoimento de Renan ao
Conselho, Santi disse que não é
um procedimento normal e
que "ela identificou lacunas e
falas em que não havia o nome
do senador ao lado". Completou: "Duvido que a Claudia não
tenha sido pressionada a retardar a entrega" do texto para
evitar alimentar o noticiário
das revistas semanais.
Segundo Santi, Renan também mandou os responsáveis
pelos três órgãos técnicos com
competência para assessoramento na área jurídica da Casa
atuarem diretamente no Conselho de Ética. "No momento
em que se instalam os trabalhos, os três órgãos técnicos,
para nossa surpresa, receberam a ordem: "Se dirijam para
lá, estejam lá em todas as reuniões"," disse.
Tuma voltou a afirmar ontem que Santi "não citou o nome de Renan" em seu depoimento. Confrontado pela reportagem, disse: "Não estou
lendo o depoimento. Mas se
você leu, acredito." Ao fim do
depoimento, Tuma sugeriu que
Santi tirasse férias. "Ele seria
punido pela Casa", justificou.
Como corregedor, afirmou
ter encaminhado o depoimento à Diretoria da Casa, subordinada a Renan. Tuma pediu ajuda à PF para investigar a denúncia de que Renan teria
mandado espionar dois opositores: os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO).
Tuma quer que a PF encontre o ex-deputado e empresário
Pedro Abrão, peça chave na nova denúncia contra Renan.
O advogado Heli Dourado
disse, em entrevista gravada à
Folha, que Abrão fora procurado pelo ex-senador Francisco
Escórcio para tratar da suposta
espionagem. Ele negou depois
ter dito isso. Tuma recebeu de
Demóstenes a cópia da entrevista, que ele veiculou no Senado anteontem.
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