São Paulo, quinta-feira, 11 de outubro de 2007

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JANIO DE FREITAS

Os renans

Não há como imaginar outro motivo, em quem ainda faça a sustentação de Renan, que não seja a identificação pessoal

AOS SENADORES QUE há quatro meses e meio pedem a Renan Calheiros que se licencie da presidência do Senado, impõe-se uma pergunta cordial como têm sido com o colega: provado que não se cansam, até quando pretendem manter essa ladainha ridícula?
Sem a cordialidade, a pergunta poderia questionar, entre outras possibilidades, se os senadores tão gentis supõem que, entre a falsa paciência e a farsa ostensiva, ninguém aqui fora percebe o acovardamento que os tolhe.
Não só os "aliados de Renan" estão com ele. Exceto três ou quatro dos que pedem sua renúncia, a conduta dos pedintes difere na forma e se iguala na finalidade ao favorecimento a Renan Calheiros feito pelo governo Lula e pelos senadores do governismo. É óbvio para todos ali, porque nem falta o testemunho histórico, que a recusa à renúncia é a tática mais lógica para Renan, cuja licença lhe imporia enfraquecimento automático, como se deu um dia com Jader Barbalho. Logo, todos os maneirosos pedintes da renúncia sabem, desde o início do processo de agressão ao Senado, que deveriam confrontar Renan e o governo com atitudes de pressão objetiva. As peculiaridades do Senado não facilitam o suborno que o governo pratica a granel na Câmara, com cargos e verbas.
Os senadores Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Agripino Maia, vozes orientadoras da oposição, definiram e divulgaram a atitude em defesa de alguma moralidade: obstrução às votações, contra a qual a minoria governista nada pode, como pressão para Lula e seu governo suspenderem a sustentação de Renan. Veio a segunda denúncia contra o presidente do Senado, vieram a terceira e a quarta, entra em cena a quinta, todas em crescendo de gravidade como atos e de degradação do Senado -e nada de reação menos farsante e mais objetiva. Dizia ontem Agripino Maia que a CPMF, agora entregue à decisão do Senado, ali terá tramitação "correta, normal e regimental". Renan Calheiros e o governo agradecem, o primeiro por poder continuar com a solidariedade de Lula e seus governistas; o governo por não ficar sob pressões de transposição improvável ou difícil.
A cobertura dada a Renan Calheiros pelos governistas ultrapassou há muito a proteção ao direito de defesa, que jamais esteve, e o jogo político entre governo e oposição, no qual o presidente do Senado tem operado com muita eficiência para o Planalto. No nível a que chegou a decomposição moral no Senado, portanto, não há como imaginar outro motivo, em quem ainda faça a sustentação de Renan Calheiros, que não seja a identificação pessoal.


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