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JANIO DE FREITAS
Os renans
Não há como imaginar outro motivo, em quem ainda faça a sustentação de Renan, que não seja a identificação pessoal
AOS SENADORES QUE há quatro
meses e meio pedem a Renan
Calheiros que se licencie da
presidência do Senado, impõe-se
uma pergunta cordial como têm sido com o colega: provado que não se
cansam, até quando pretendem
manter essa ladainha ridícula?
Sem a cordialidade, a pergunta poderia questionar, entre outras possibilidades, se os senadores tão gentis
supõem que, entre a falsa paciência
e a farsa ostensiva, ninguém aqui fora percebe o acovardamento que os
tolhe.
Não só os "aliados de Renan" estão com ele. Exceto três ou quatro
dos que pedem sua renúncia, a conduta dos pedintes difere na forma e
se iguala na finalidade ao favorecimento a Renan Calheiros feito pelo
governo Lula e pelos senadores do
governismo. É óbvio para todos ali,
porque nem falta o testemunho histórico, que a recusa à renúncia é a tática mais lógica para Renan, cuja licença lhe imporia enfraquecimento
automático, como se deu um dia
com Jader Barbalho. Logo, todos os
maneirosos pedintes da renúncia
sabem, desde o início do processo de
agressão ao Senado, que deveriam
confrontar Renan e o governo com
atitudes de pressão objetiva. As peculiaridades do Senado não facilitam o suborno que o governo pratica
a granel na Câmara, com cargos e
verbas.
Os senadores Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Agripino Maia, vozes
orientadoras da oposição, definiram
e divulgaram a atitude em defesa de
alguma moralidade: obstrução às
votações, contra a qual a minoria governista nada pode, como pressão
para Lula e seu governo suspenderem a sustentação de Renan. Veio a
segunda denúncia contra o presidente do Senado, vieram a terceira e
a quarta, entra em cena a quinta, todas em crescendo de gravidade como atos e de degradação do Senado
-e nada de reação menos farsante e
mais objetiva. Dizia ontem Agripino
Maia que a CPMF, agora entregue à
decisão do Senado, ali terá tramitação "correta, normal e regimental".
Renan Calheiros e o governo agradecem, o primeiro por poder continuar com a solidariedade de Lula e
seus governistas; o governo por não
ficar sob pressões de transposição
improvável ou difícil.
A cobertura dada a Renan Calheiros pelos governistas ultrapassou há
muito a proteção ao direito de defesa, que jamais esteve, e o jogo político entre governo e oposição, no qual
o presidente do Senado tem operado com muita eficiência para o Planalto. No nível a que chegou a decomposição moral no Senado, portanto, não há como imaginar outro
motivo, em quem ainda faça a sustentação de Renan Calheiros, que
não seja a identificação pessoal.
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