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Hoje Renan seria cassado, diz Mercadante
Petista, que se absteve na 1ª votação em que foi pedida a cassação do presidente da Casa, confirma agora conversa sobre licença
Para Mercadante, houve quebra de decoro, mas ele se esquiva de revelar se agora concordaria em tirar o mandato do peemedebista
MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL
O grau de ebulição em que se
encontra o Senado ficou transparente na sessão plenária da
terça-feira. Cobranças explícitas e revelações foram feitas.
Entre elas, uma conversa até
então sigilosa entre Aloizio
Mercadante (PT-SP) e Renan
Calheiros (PMDB-AL). Ao tornar público o diálogo, o petista
provocou reação de Renan, que
abandonou a tribuna e o deixou
falando sozinho. Inesperado, o
lance revelou um bastidor do
processo. A seguir, Mercadante
conta detalhes da conversa que
teve com Renan.
FOLHA - O senhor revelou no plenário [anteontem] uma conversa
com Renan antes da primeira votação pela cassação. Como foi?
ALOIZIO MERCADANTE - Na véspera da votação, ele me ligou e aí
falei para ele: "Renan, para
mim, a data limite é a votação.
Você tem que se afastar no dia
da votação. Você tem que, na
sessão, pedir licença do cargo,
se afastar, e deixar os senadores
com toda a liberdade para apurar as coisas. Você não pode estar na presidência e interferir
nesse processo".
FOLHA - Alguém mais participou
dessa conversa?
MERCADANTE - Não, eu e ele. Foi
por telefone. E aí ele falou:
"Mercadante, se eu me licenciar
agora vou me fragilizar demais
na minha defesa, vou ficar muito exposto, não tenho condições políticas de fazer isso. Mas
eu aceito discutir essa possibilidade após a votação". Ele não
disse assim: vou me licenciar.
Mas eu disse que achava fundamental que ele discutisse isso.
Porque não pode a presidência
do Senado ser usada para ficar
defendendo o mandato. E ele
disse que iríamos discutir. Aí
Renan [após a votação] deu
uma declaração dizendo que
era vitorioso e que, portanto,
não tinha a possibilidade de
pensar em licença. Depois disso, nós não nos falamos mais.
Para mim foi inaceitável o comportamento que ele teve. E não
foi só para mim.
FOLHA - Houve quebra de confiança? Ele deve ter falado sobre a licença a outros senadores.
MERCADANTE - Não era só eu que
tinha a expectativa de ele se licenciar. Um monte de senadores falou isso na sessão secreta.
FOLHA - A possibilidade de licença
teve influência na votação? E com a
permanência dele, o clima mudou?
MERCADANTE - O que estou dizendo é o seguinte: quem já votou pela cassação [35 votos] e
chegou à convicção que houve
quebra de decoro, eu avalio que
vá sustentar esse voto até o final do processo, lógico. Os outros [os que votaram contra a
cassação ou abstenção na primeira denúncia] acho que vão
analisar as outras denúncias e
podem considerar esses novos
elementos na decisão que vão
tomar agora. Meu voto de abstenção é um voto em que eu
sustei a minha decisão aguardando as investigações.
FOLHA - O senhor nega ter feito um
acordo com Renan pela licença. Mas
foi espécie de pacto, não?
MERCADANTE - Não, não. Ele
manifestou que essa possibilidade existiria e que ele estava
aberto a reavaliar a sua permanência na presidência. Só que
eu acho que ele desconsiderou
totalmente essa possibilidade e
isso agravou a situação dele.
Porque a percepção da ampla
maioria dos senadores é que ele
tem usado a condição de presidente para interferir no processo de apuração. Há questionamentos de assessores da Casa
em relação a esse comportamento. Há esse episódio agora,
grave, de um assessor dele
[Francisco Escórcio] envolvido
na tentativa de investigar outros senadores. Há procedimentos da Mesa e do Conselho
de Ética que claramente, na
condição de presidente, permitem a intervenção. A própria
pauta da Casa, o afastamento
de lideranças do PMDB da CCJ.
Tudo isso vai formando uma
convicção de que não é aceitável que Renan seja investigado
usando a presidência.
FOLHA - Se Renan fosse submetido
a novo processo de cassação hoje ele
perderia o mandato?
MERCADANTE - Pelo que conheço do Senado, se hoje fosse a
julgamento o senador Renan
Calheiros estaria cassado. Sinto que houve um aprofundamento da crise em função dos
fatos novos e da atitude que ele
teve ao longo do processo.
FOLHA - E o senhor não tem uma
convicção ainda? Mudou o voto?
MERCADANTE - A minha avaliação é que houve quebra de decoro quando se analisam as cinco representações e o conjunto
de indícios. No caso das rádios,
por exemplo, há provas materiais. A denúncia do Bruno [Miranda] sugere um tipo de relacionamento indevido. Mas não
vou prejulgar.
FOLHA - Não é óbvio que se houve
quebra de decoro deve haver cassação? O senhor não tem convicção?
MERCADANTE - A minha avaliação é que houve quebra de decoro. E acho que esse é o sentimento do Senado. Mas como é
um processo em curso vou me
reservar o direito de ler o conjunto de denúncias e formular
o meu voto final. Se eu considero hoje que houve quebra de
decoro significa que meu voto
seria pela cassação. Não vou antecipar meu voto. Confirmarei
minha convicção quando concluída a investigação.
FOLHA - O fato de o senhor ter votado pela abstenção no primeiro
processo lhe dá legitimidade, agora,
para defender o afastamento dele?
MERCADANTE - Evidente. São
coisas distintas. Não estávamos
decidindo ali [na votação do
primeiro processo] a continuidade dele na presidência do Senado. Nós estávamos decidindo
se já havia, naquele primeiro
processo, os elementos para
cassação de mandato. A minha
avaliação, ali, é que eu deveria
aguardar o processo de investigação para ter mais elementos
e formar uma convicção definitiva. Exatamente por isso, mais
do que muitos, eu tenho autoridade política e moral de chegar
para ele e dizer o que eu penso.
FOLHA - A avaliação de que o PT
salvou Renan na primeira votação
condiz com a verdade?
MERCADANTE - A oposição nunca votou unida no caso do Renan. Há senadores de outros
partidos que já declararam que
se abstiveram. Não foram do
PT os seis votos [abstenções].
Nunca articulei no PT nem fora
do PT voto pela abstenção.
FOLHA - E agora o PT levará Renan
Calheiros à guilhotina?
MERCADANTE - Renan aprofundou o seu isolamento, cometeu
erros muito graves exatamente
pela forma como usou a presidência. Gerou um ambiente
muito adverso a ele. O homem
público, quando cai, a primeira
coisa que precisa fazer é ter humildade e parar de cavar.
FOLHA - O senhor foi porta-voz do
Planalto? O governo esperava que
Renan se licenciasse?
MERCADANTE - Não posso afirmar isso.
FOLHA - Nem negar.
MERCADANTE - Acho que todo
mundo assistiu aos pronunciamentos do governo neste processo. Aí podem fazer a sua avaliação. Mas eu não fui porta-voz. Nunca o presidente [Lula]
me pediu para votar de uma
forma ou de outra. E a nossa
bancada disse que cada um votaria conforme a sua convicção.
FOLHA - A última denúncia -que
Renan teria dossiês contra colegas- não expõe que só quando a
cabeça dos senadores é perseguida
eles se revoltam?
MERCADANTE - Não. Se há denúncia em relação a algum senador, ela deve ser formalizada.
Se há erro, irregularidade, que
se denuncie e que se apure.
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