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ONG ligada à Universal é alvo de ação da AGU
Advocacia-Geral da União pede bloqueio de bens da Sociedade Pestalozzi de SP, investigada por fraudes atribuídas à máfia dos sanguessugas
Justiça Federal vai ouvir a
defesa preliminar de todos
os acusados para decidir se
acolhe o pedido; governo
quer devolução de R$ 800 mil
ELVIRA LOBATO
EM SÃO PAULO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A AGU (Advocacia-Geral da
União) pediu à Justiça Federal
de São Paulo o bloqueio dos
bens da Sociedade Pestalozzi
de São Paulo para garantir a devolução, ao Fundo Nacional de
Saúde, de R$ 800 mil gastos na
compra de ambulâncias por
meio de licitações sob suspeita
de fraude e de superfaturamento. O processo é um desdobramento da máfia dos sanguessugas, descoberta em 2006 pela
Polícia Federal.
A Pestalozzi de SP, que presta atendimento a crianças e jovens com deficiência mental, é
dirigida por integrantes da Iurd
(Igreja Universal do Reino de
Deus) e tem como parceira a
Rede Record de Televisão.
A ação da AGU foi proposta
em novembro de 2008. O juiz
da 24ª Vara Cível Federal, Victorio Giuzio Neto, como prevê a
lei, está notificando os responsáveis pela ONG, empresários e
servidores da saúde a apresentarem suas defesas preliminares, para então decidir se acolhe ou não o pedido.
A AGU moveu a ação civil pública, por suposta improbidade
administrativa, baseada em
três auditorias da Controladoria-Geral da União e do Ministério da Saúde que apontaram
irregularidades em três convênios destinados à compra de
seis ambulâncias. Ao todo, a entidade recebeu R$ 960 mil de
seis emendas parlamentares
propostas entre 2002 e 2004
por ex-deputados federais integrantes da Universal.
Os advogados da União cobram a devolução do dinheiro
de três emendas -uma, de R$
300 mil, do ex-deputado Bispo
Wanderval; outra de R$ 60 mil,
da ex-deputada Edna Macedo,
irmã do bispo Edir Macedo, líder da igreja; e a terceira, de R$
120 mil, proposta pelo ex-deputado Marcos Abramo.
A Procuradoria da República
de São Paulo investiga os outros três convênios: dois de R$
60 mil de emendas do ex-deputado bispo João Batista Ramos
da Silva, e outro de R$ 120 mil
de emenda de Edna Macedo. A
prestação de contas das emendas de Ramos da Silva foi rejeitada pelo Ministério da Saúde,
que quer o dinheiro de volta.
Bispos no comando
Com mais de 50 anos de atividade, a filantrópica está sob o
comando da Universal desde
1993. Todos os seus dirigentes
são ligados à igreja -que, no
entanto, negou, em e-mail enviado à Folha, qualquer ingerência sobre a ONG.
As acusações da AGU recaem
sobre as gestões de Graciene
Conceição Pereira, mulher do
bispo Ademar Gonçalves, e de
Marilene da Silva e Silva, mulher do bispo e ex-deputado
Ramos da Silva -com quem a
Polícia Federal apreendeu, em
2005, R$ 10,2 milhões atribuídos a dízimos de fiéis. Graciene
presidiu a filantrópica de 2003
a 2005, e Marilene ocupou o
cargo de 1995 a 2002.
Oficialmente, a Pestalozzi de
São Paulo é uma instituição independente, mas os vínculos
efetivos com a Universal são de
tal ordem que as assembleias
para eleição de diretoria e
aprovação das contas acontecem em um prédio administrativo da igreja.
A atual presidente da entidade, Márcia Aparecida Rocha, é
mulher do bispo José Rocha.
Ela já prestou depoimento no
inquérito do Ministério Público Federal. A primeira vice-presidente, Ana Cláudia Raposo, é casada com o presidente
da TV Record, Alexandre Raposo. A primeira secretária,
Rosana Gonçalves de Oliveira,
é mulher do bispo Honorilton
Gonçalves, vice-presidente da
Rede Record, e braço direito de
Edir Macedo. A tesoureira da
Iurd, Denise Justo Dias, é também tesoureira da filantrópica.
No dia 8 de agosto deste ano,
o Ministério Público do Estado
de São Paulo abriu ação criminal contra Edir Macedo e outros nove integrantes da Igreja
Universal sob a acusação de
formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Dois dos réus
daquele processo integram a
atual administração da Pestalozzi de São Paulo: Alba Maria
Alves da Costa, do conselho fiscal, e Maurício Albuquerque e
Silva, do conselho consultivo.
Os ex-deputados da igreja já
são réus em outras ações, na
Justiça Federal de Mato Grosso, por suposto envolvimento
com a máfia das sanguessugas.
Fraude
A participação dos deputados
consistia na apresentação das
emendas para liberação dos recursos. A empresa Planan, de
Cuiabá (MT), é acusada de
montar uma rede de empresas
fantasmas e fraudar licitações
públicas de mais de mil ambulâncias em todo o país.
A Planan e seus acionistas, os
empresários Luis Antonio e
Darci Vedoin, são também réus
na ação proposta pela AGU
contra a Pestalozzi de SP.
As três auditorias feitas em
2006 pelo Ministério da Saúde
concluíram que a Pestalozzi de
São Paulo pagou valor acima do
de mercado pelas ambulâncias,
falseou informações sobre o
quadro de pessoal e mentiu ao
dizer que as ambulâncias seriam usadas para atendimento
à população rural pelo SUS
(Sistema Único de Saúde). A
instituição só atende na área
urbana de São Paulo e, quando
os convênios foram assinados,
não era credenciada do SUS.
Os resultados das auditorias
foram anexados à ação proposta pela AGU. Segundo os auditores, a filantrópica comprou
três ambulâncias Fiat Iveco,
em junho de 2003, com os R$
300 mil da emenda do ex-deputado Bispo Wanderval. Três
anos e três meses depois, apresentavam rodagem de 3.476
km, 5.210 km e 77,8 mil km.
Com a frota já ociosa, em junho de 2005 a entidade comprou mais três ambulâncias,
com recursos da União provenientes de emendas apresentadas pelos ex-deputados Edna
Macedo e Marcos Abramo.
Quinze meses depois, uma tinha rodado 362 km; outra, 550
km, e a terceira, 779 km.
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