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CRISE NO NINHO
Partido se mobiliza para evitar racha com disputa Serra-Tasso
Para marqueteiro de FHC, 2002 leva PSDB à autofagia
SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL
A "ausência de critério explícito" para a escolha do candidato
do PSDB à sucessão do presidente
Fernando Henrique Cardoso "está conduzindo o partido à autofagia [ato de autodevorar-se"".
Essa é a avaliação do sociólogo
Antônio Lavareda, que trabalhou
nas campanhas de 1994 e de 1998
de FHC e que faz pesquisas de
opinião pública para o governo.
Para Lavareda, o acirramento da
disputa entre os principais presidenciáveis do PSDB, o ministro
José Serra (Saúde) e o governador
Tasso Jereissati (CE), "enfraquece
a imagem do partido e deixa os
militantes tucanos perplexos".
Após uma semana de turbulências entre Tasso e Serra por causa
da participação dos pré-candidatos do PSDB no horário eleitoral
do partido, o alerta para uma possível "autofagia" soou no ninho
tucano na sexta-feira passada.
Líderes do PSDB passaram a defender a fixação de critérios para a
definição do candidato do partido. O próprio Tasso saiu em defesa dessa tese e denunciou a existência de um "jogo de intrigas".
O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), da ala de Serra,
juntou-se ao coro. "Passamos por
uma turbulência baseada em intrigas. Defendo que se defina um
critério claro para a escolha do
candidato. É a única forma de
acatamento um recíproco do resultado", disse. "Do jeito que está,
é desgastante para o partido."
O presidente do PSDB, José
Aníbal (SP), ainda diz acreditar
que o partido vá chegar a um nome de consenso. "É hora de conversarmos. Se definirmos o candidato sem prévias, vai ser melhor.
A convergência é muito melhor."
E Aníbal, acusado de ser partidário de Tasso, ainda terá de gastar
muita saliva. "Pelo jeito, está difícil [de sair um candidato de consenso"", disse Tasso.
Inconformado com o aquecimento da controvérsia, o senador
Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL)
disse que vai sugerir a FHC que
converse com Serra e com Tasso
para acalmá-los. "Considero extremamente positivo que o partido tenha vários candidatos, mas
preocupa o acirramento pessoal.
Isso deve ser interrompido. Estão
valorizando muito a futrica", afirmou. Disse que tanto Serra como
Tasso estão "preparados" para ser
presidente da República. "Houve
mais fumaça do que fogo. É hora
de acabar como o fumaceiro."
Marqueteiros
A temperatura entre os tucanos
começou a subir na semana retrasada, quando Tasso passou a defender a aparição dos presidenciáveis nos programas do partido.
Serra era contrário. Para o ministro, o horário eleitoral deveria ser
utilizado apenas para divulgar as
ações do governo, entre as quais
as realizações de seu ministério.
O publicitário Nelson Biondi foi
um dos principais conselheiros de
Serra no episódio. Segundo a Folha apurou, Biondi, que está cotado para ser o marqueteiro-chefe
de uma eventual campanha presidencial do ministro, crê que o uso
do horário gratuito para expor os
seus presidenciáveis fará o PSDB
perder o seu principal argumento
contra o crescimento da governadora Roseana Sarney (PFL-MA)
nas pesquisas para presidente.
Os tucanos têm dito que Roseana só cresceu porque foi ostensivamente exposta pelo seu partido.
A diferença é que o PFL dedicou
somente à governadora maranhense quase todo o tempo do
horário eleitoral gratuito. Só que,
no PSDB, há quatro pré-candidatos (Serra, Tasso, o ministro Paulo
Renato Souza, da Educação, e o
governador Dante de Oliveira, do
Mato Grosso).
Outro detalhe na avaliação de
Biondi: além de ter muito tempo
de TV, a governadora é mulher, é
novidade e aparece muito bem no
vídeo. Com uma exposição menor do que a de Roseana, Serra e
Paulo Renato, conhecidos por sua
atuação em seus ministérios, teriam pouco espaço para crescer.
O marqueteiro oficial do PSDB,
Paulo de Tarso Santos, também
defendia que os programas do
partido deveriam divulgar apenas
as realizações do governo.
Diante de avaliações como essas, Serra viajou para o Qatar, no
Oriente Médio, sem deixar gravada sua participação no programa.
Na noite de terça, na queda-de-braço, Tasso levou a melhor. A
Executiva do PSDB decidiu incluir os presidenciáveis nas inserções do partido. Mas Serra não
saiu de mãos abanando: conseguiu a garantia do PSDB de que
ninguém será apresentado como
pré-candidato. O PSDB está usando imagens de Serra gravadas para o programa do partido que foi
ao ar em abril. Tasso gravou especialmente para o horário gratuito.
Enquanto Serra tem Biondi como conselheiro, Tasso segue à risca a cartilha do publicitário Nizan
Guanaes -responsável também
pelos programas de Roseana. Nizan, assim como Antônio Lavareda (que também trabalha para
Tasso e Roseana), defende a exposição dos pré-candidatos tucanos.
Nizan, que trabalhou nas campanhas de FHC em 1994 e em
1998, tem atuado como conselheiro da comunicação do Planalto
desde o anúncio da saída do ministro Andrea Matarazzo da Secretaria de Comunicação. A influência de Nizan na comunicação do governo contribuiu para
que o publicitário Luiz Macedo
desistisse de suceder Matarazzo.
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