São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NO NINHO

Partido se mobiliza para evitar racha com disputa Serra-Tasso

Para marqueteiro de FHC, 2002 leva PSDB à autofagia

SANDRA BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

A "ausência de critério explícito" para a escolha do candidato do PSDB à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso "está conduzindo o partido à autofagia [ato de autodevorar-se"".
Essa é a avaliação do sociólogo Antônio Lavareda, que trabalhou nas campanhas de 1994 e de 1998 de FHC e que faz pesquisas de opinião pública para o governo. Para Lavareda, o acirramento da disputa entre os principais presidenciáveis do PSDB, o ministro José Serra (Saúde) e o governador Tasso Jereissati (CE), "enfraquece a imagem do partido e deixa os militantes tucanos perplexos".
Após uma semana de turbulências entre Tasso e Serra por causa da participação dos pré-candidatos do PSDB no horário eleitoral do partido, o alerta para uma possível "autofagia" soou no ninho tucano na sexta-feira passada.
Líderes do PSDB passaram a defender a fixação de critérios para a definição do candidato do partido. O próprio Tasso saiu em defesa dessa tese e denunciou a existência de um "jogo de intrigas".
O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), da ala de Serra, juntou-se ao coro. "Passamos por uma turbulência baseada em intrigas. Defendo que se defina um critério claro para a escolha do candidato. É a única forma de acatamento um recíproco do resultado", disse. "Do jeito que está, é desgastante para o partido."
O presidente do PSDB, José Aníbal (SP), ainda diz acreditar que o partido vá chegar a um nome de consenso. "É hora de conversarmos. Se definirmos o candidato sem prévias, vai ser melhor. A convergência é muito melhor." E Aníbal, acusado de ser partidário de Tasso, ainda terá de gastar muita saliva. "Pelo jeito, está difícil [de sair um candidato de consenso"", disse Tasso.
Inconformado com o aquecimento da controvérsia, o senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL) disse que vai sugerir a FHC que converse com Serra e com Tasso para acalmá-los. "Considero extremamente positivo que o partido tenha vários candidatos, mas preocupa o acirramento pessoal. Isso deve ser interrompido. Estão valorizando muito a futrica", afirmou. Disse que tanto Serra como Tasso estão "preparados" para ser presidente da República. "Houve mais fumaça do que fogo. É hora de acabar como o fumaceiro."

Marqueteiros
A temperatura entre os tucanos começou a subir na semana retrasada, quando Tasso passou a defender a aparição dos presidenciáveis nos programas do partido. Serra era contrário. Para o ministro, o horário eleitoral deveria ser utilizado apenas para divulgar as ações do governo, entre as quais as realizações de seu ministério.
O publicitário Nelson Biondi foi um dos principais conselheiros de Serra no episódio. Segundo a Folha apurou, Biondi, que está cotado para ser o marqueteiro-chefe de uma eventual campanha presidencial do ministro, crê que o uso do horário gratuito para expor os seus presidenciáveis fará o PSDB perder o seu principal argumento contra o crescimento da governadora Roseana Sarney (PFL-MA) nas pesquisas para presidente.
Os tucanos têm dito que Roseana só cresceu porque foi ostensivamente exposta pelo seu partido. A diferença é que o PFL dedicou somente à governadora maranhense quase todo o tempo do horário eleitoral gratuito. Só que, no PSDB, há quatro pré-candidatos (Serra, Tasso, o ministro Paulo Renato Souza, da Educação, e o governador Dante de Oliveira, do Mato Grosso).
Outro detalhe na avaliação de Biondi: além de ter muito tempo de TV, a governadora é mulher, é novidade e aparece muito bem no vídeo. Com uma exposição menor do que a de Roseana, Serra e Paulo Renato, conhecidos por sua atuação em seus ministérios, teriam pouco espaço para crescer.
O marqueteiro oficial do PSDB, Paulo de Tarso Santos, também defendia que os programas do partido deveriam divulgar apenas as realizações do governo.
Diante de avaliações como essas, Serra viajou para o Qatar, no Oriente Médio, sem deixar gravada sua participação no programa.
Na noite de terça, na queda-de-braço, Tasso levou a melhor. A Executiva do PSDB decidiu incluir os presidenciáveis nas inserções do partido. Mas Serra não saiu de mãos abanando: conseguiu a garantia do PSDB de que ninguém será apresentado como pré-candidato. O PSDB está usando imagens de Serra gravadas para o programa do partido que foi ao ar em abril. Tasso gravou especialmente para o horário gratuito.
Enquanto Serra tem Biondi como conselheiro, Tasso segue à risca a cartilha do publicitário Nizan Guanaes -responsável também pelos programas de Roseana. Nizan, assim como Antônio Lavareda (que também trabalha para Tasso e Roseana), defende a exposição dos pré-candidatos tucanos.
Nizan, que trabalhou nas campanhas de FHC em 1994 e em 1998, tem atuado como conselheiro da comunicação do Planalto desde o anúncio da saída do ministro Andrea Matarazzo da Secretaria de Comunicação. A influência de Nizan na comunicação do governo contribuiu para que o publicitário Luiz Macedo desistisse de suceder Matarazzo.


Texto Anterior: A defesa
Próximo Texto: Serra é quem mais usa rede nacional
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.