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JANIO DE FREITAS
Marqueteiros a pleno gás
A divulgação da descoberta já anunciada foi apresentada por marqueteiros planaltinos como uma solução para a vulnerabilidade presidencial
A ESTRONDOSA divulgação da
descoberta de um oceano de
petróleo na costa Sudeste-Sul, valendo-se da mais otimista e
improvável estimativa de volume,
foi uma operação marqueteira precipitada pelos temores, no governo,
dos efeitos de duas atitudes pessoais
desafortunadas.
A descoberta da reserva estava noticiada desde o começo do ano, e,
com os estudos de sua avaliação ainda em fase preliminar, não houve
nos últimos dias, ou mesmo semanas, fato técnico que justificasse a
repentina retumbância da notícia
reiterada. Houve outros fatos.
Por esquecimento ou por bondade, ao estourar a nova crise do gás,
há duas semanas, a imprensa não relembrou os discursos de Lula assegurando, no ano passado e ainda
neste, não haver mais possibilidade
de desabastecimento, como os problemas com a Bolívia ameaçaram. A
cúpula do governo estava dominada,
agora, pelo temor de que algum
agravamento da atual escassez custasse a Lula cobranças corrosivas -
por aquelas garantias dadas, pelo estímulo a carros a gás e, como arremate à altura, por desprezar as advertências da Petrobras contra sua
ordem de desviar gás da indústria e
dos carros para termelétricas. A
imagem de Lula foi posta em inesperada vulnerabilidade.
Nesse cenário já delicado, a recém-nomeada diretora de Gás e
Energia da Petrobras, Graça Foster,
decide dar uma entrevista ao "Globo". Poderia ser oportuna, para talvez tornar compreensível a tamanha luta da Presidência da República para derrubar o ex-diretor, Ildo
Sauer, e nomeá-la. À nova diretora
não bastou, porém, a afirmação, em
pleno sumiço do gás para carros e já
com aumento nas bombas, de que
"hoje estamos estufados de gás". Parecia vir por ali uma propaganda de
Luftal ou seus sucedâneos, mas o socorro abdominal foi substituído por
algo menos vaporoso.
Na ocasião em que o governo reconhece a necessidade urgente de
negociar com a Bolívia para obter
mais gás, apesar dos incidentes passados e dos incidentes esperáveis,
Graça Foster sustentou que o preço
do gás no Brasil deve subir de 15% a
25% nos próximos meses. Efeito lógico: aumento do preço boliviano
para as concessões e o gás que o Brasil precisa da Bolívia.
O anúncio da descoberta já anunciada e da quantidade fictícia de petróleo e gás foi apresentado pelos
marqueteiros planaltinos, e aprovado por Lula, como solução simultânea para a vulnerabilidade presidencial e para o fortalecimento boliviano com a entrevista da protegida
pela Presidência da República.
Para não fugir à regra, as ações da
Petrobras estão incluídas nas de melhor valorização: subiram mais de
50%. Embora os resultados da empresa, como indicam sua divulgação
anteontem e as análises subseqüentes, tenham ido em direção oposta.
Bom vingador
No dia 22 de outubro, Milton
Zuanazzi disse, em entrevista, que
não se demitiria da Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, apesar
da pressão de Nelson Jobim. No dia
30, Zuanazzi deu entrevista para
comunicar o pedido de demissão.
Entre uma coisa e outra: a evidência de que a BRA iria explodir de
uma hora para outra. No colo dele,
Zuanazzi, que era o único diretor
sobrevivente da prepotência com
que Jobim empurrou da Anac os
outros diretores, todos com mandatos em vigor.
As redações e os usuários da BRA
souberam da implosão antes de
Nelson Jobim, que nem ao menos
se dera ao trabalho de assinar as
nomeações de dois novos diretores
já aprovados em aparente sabatina
do Senado.
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