São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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JANIO DE FREITAS

Marqueteiros a pleno gás

A divulgação da descoberta já anunciada foi apresentada por marqueteiros planaltinos como uma solução para a vulnerabilidade presidencial A ESTRONDOSA divulgação da descoberta de um oceano de petróleo na costa Sudeste-Sul, valendo-se da mais otimista e improvável estimativa de volume, foi uma operação marqueteira precipitada pelos temores, no governo, dos efeitos de duas atitudes pessoais desafortunadas.
A descoberta da reserva estava noticiada desde o começo do ano, e, com os estudos de sua avaliação ainda em fase preliminar, não houve nos últimos dias, ou mesmo semanas, fato técnico que justificasse a repentina retumbância da notícia reiterada. Houve outros fatos.
Por esquecimento ou por bondade, ao estourar a nova crise do gás, há duas semanas, a imprensa não relembrou os discursos de Lula assegurando, no ano passado e ainda neste, não haver mais possibilidade de desabastecimento, como os problemas com a Bolívia ameaçaram. A cúpula do governo estava dominada, agora, pelo temor de que algum agravamento da atual escassez custasse a Lula cobranças corrosivas - por aquelas garantias dadas, pelo estímulo a carros a gás e, como arremate à altura, por desprezar as advertências da Petrobras contra sua ordem de desviar gás da indústria e dos carros para termelétricas. A imagem de Lula foi posta em inesperada vulnerabilidade.
Nesse cenário já delicado, a recém-nomeada diretora de Gás e Energia da Petrobras, Graça Foster, decide dar uma entrevista ao "Globo". Poderia ser oportuna, para talvez tornar compreensível a tamanha luta da Presidência da República para derrubar o ex-diretor, Ildo Sauer, e nomeá-la. À nova diretora não bastou, porém, a afirmação, em pleno sumiço do gás para carros e já com aumento nas bombas, de que "hoje estamos estufados de gás". Parecia vir por ali uma propaganda de Luftal ou seus sucedâneos, mas o socorro abdominal foi substituído por algo menos vaporoso.
Na ocasião em que o governo reconhece a necessidade urgente de negociar com a Bolívia para obter mais gás, apesar dos incidentes passados e dos incidentes esperáveis, Graça Foster sustentou que o preço do gás no Brasil deve subir de 15% a 25% nos próximos meses. Efeito lógico: aumento do preço boliviano para as concessões e o gás que o Brasil precisa da Bolívia.
O anúncio da descoberta já anunciada e da quantidade fictícia de petróleo e gás foi apresentado pelos marqueteiros planaltinos, e aprovado por Lula, como solução simultânea para a vulnerabilidade presidencial e para o fortalecimento boliviano com a entrevista da protegida pela Presidência da República.
Para não fugir à regra, as ações da Petrobras estão incluídas nas de melhor valorização: subiram mais de 50%. Embora os resultados da empresa, como indicam sua divulgação anteontem e as análises subseqüentes, tenham ido em direção oposta.

Bom vingador
No dia 22 de outubro, Milton Zuanazzi disse, em entrevista, que não se demitiria da Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, apesar da pressão de Nelson Jobim. No dia 30, Zuanazzi deu entrevista para comunicar o pedido de demissão. Entre uma coisa e outra: a evidência de que a BRA iria explodir de uma hora para outra. No colo dele, Zuanazzi, que era o único diretor sobrevivente da prepotência com que Jobim empurrou da Anac os outros diretores, todos com mandatos em vigor.
As redações e os usuários da BRA souberam da implosão antes de Nelson Jobim, que nem ao menos se dera ao trabalho de assinar as nomeações de dois novos diretores já aprovados em aparente sabatina do Senado.


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