São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Apreensão de papéis sigilosos da Abin agrava tensão com PF

Ao apurar vazamento da Satiagraha, policiais levaram dados destinados à Presidência

Os documentos contêm informações sobre controle de fronteiras, exploração mineral e monitoramento de movimentos sociais


Rafael Andrade/Folha Imagem
Tarso Genro almoça com petistas no Rio antes de reunião na PF

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

LUCAS FERRAZ
HUDSON CORRÊA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Entre os documentos apreendidos pela Polícia Federal para o inquérito que apura o vazamento da Operação Satiagraha estão informações estratégicas da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Alguns desses dados, segundo a Folha apurou, são utilizados em relatórios confidenciais destinados à Presidência da República.
Há dados operacionais sobre temas sensíveis de interesse político, militar e econômico. Os arquivos também conteriam nomes de informantes e funcionários de inteligência, inclusive adidos estrangeiros que cooperam com a agência.
A Folha apurou ainda que entre o material apreendido há dados sobre exploração mineral no país, controle de fronteiras, espionagem internacional e contra-espionagem, além de trabalhos voltados ao monitoramento de movimentos sociais e terrorismo.
Na Abin, o clima é de irritação com a ação da PF, considerada despropositada. Também há tensão pelo eventual vazamento dos dados, que poderia colocar em risco a vida de funcionários infiltrados ou o sucesso de operações em curso.
Caso ocorra o vazamento, os agentes de inteligência ameaçam revidar. Ou seja, vazariam também informações sigilosas de agentes da Polícia Federal, mesmo sem autorização da cúpula. Também causou indignação entre os agentes da Abin a revelação pela imprensa do nome de vários funcionários do serviço secreto. Alguns tiveram até o endereço revelado.
Por enquanto, a Abin estuda medidas judiciais para preservar o sigilo dos dados, e dispositivos tecnológicos que garantam a inviolabilidade dos computadores dos agentes.
Na semana passada, policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão no Centro de Operações da Superintendência da Abin, no Rio, e nas residências de Thelio Braun D'Azevedo, diretor de operações da Coordenação de Inteligência Estratégica, e Luiz Eduardo Melo, funcionário da Receita Federal cedido à Abin.
Oficialmente, a Abin e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) ainda não comentam a apreensão. Mas a reportagem apurou que a PF apreendeu seis desktops e três laptops, além de mídia digital (CDs e DVDs). Alguns desses equipamentos seriam de uso pessoal dos servidores. Ontem, a ação da PF foi principal tema da reunião de trabalho da cúpula do GSI, órgão de assessoramento do presidente e ao qual se subordina a Abin.
O general Jorge Felix, ministro-chefe do GSI, tenta contornar a crise. "Isso está sendo resolvido com diálogo. Vamos resolver logo. Nós [eu e Tarso], desde quarta-feira passada, estamos conversando", disse o ministro à Folha. Ele, porém, preferiu não falar sobre o grau de sigilo do material apreendido nas diligências da PF.
A direção geral da Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça. Tarso afirmou que a PF vai resguardar o sigilo dos dados.
A assessoria de imprensa da PF informou que está sendo feita uma triagem do material apreendido para selecionar apenas o que interessa ao inquérito. O resto será devolvido. O presidente da Asbin (Associação dos Servidores da Abin), Nery Kluwe, disse que a operação expôs os agentes de inteligência, gerando revolta na categoria. Segundo Kluwe, a associação defende que o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, atualmente afastado da função, deixe de vez o cargo, mesmo provando não ter cometido nenhuma irregularidade na Operação Satiagraha. Kluwe quer a nomeação de um funcionário de carreira para dirigir o órgão.


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