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Corregedoria da PF diz que Protógenes vazou operação
Para polícia, ao compartilhar dados da Satiagraha com Abin, ele abriu sigilo de caso
Em relatório final, delegado deve indiciar Protógenes por violação de sigilo funcional e quebra de segredo judicial de interceptação telefônica
RUBENS VALENTE
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatório produzido pelo delegado Amaro Vieira Ferreira,
da Corregedoria da Polícia Federal, em Brasília, atribuiu ao
delegado Protógenes Queiroz,
que chefiou a Operação Satiagraha, a responsabilidade por
vazamentos ocorridos ao longo
da investigação.
O delegado, que preside o inquérito aberto por determinação da direção geral do órgão,
tomou depoimentos de funcionários e diretores da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), de policiais da Satiagraha e de jornalistas. Os depoimentos relevam que pelo menos 62 funcionários lotados
nos escritórios da Abin em 12
Estados diferentes participaram da investigação.
Amaro também descreveu
que o pessoal da Abin fez fotos e
vídeos de investigados, teve
acesso ao sistema Guardião da
PF, que armazena gravações
feitas com ordem judicial, para
transcrever e analisar ligações
telefônicas, e utilizou material
da PF, como pelo menos 13 telefones Nextel.
Com base nesse relatório, o
juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara
Federal Criminal de São Paulo,
autorizou, na semana passada,
buscas e apreensões nas casas
de dois funcionários da Abin,
de um terceiro sargento da Aeronáutica, de um terceiro sargento da Polícia Militar do Distrito Federal, além de um escrivão da PF que atuou na Satiagraha e de três endereços relacionados a Protógenes.
O procurador da República
Roberto Dassié Diana foi contrário às buscas e apreensões.
O relatório do delegado Amaro, de 47 páginas, é preliminar e
não representa a condenação
de Protógenes. No documento
final, entretanto, ele deverá indiciar Protógenes e outros investigados por supostos crimes
de violação de sigilo funcional,
previsto no Código Penal, e infração à lei que regula as interceptações telefônicas.
A violação de sigilo funcional,
segundo o artigo 325 do Código
Penal, prevê pena de reclusão
de seis meses a seis anos. Já o
artigo 10 da Lei 9.296/96 prevê
de dois a quatro anos para
quem, entre outros atos, quebrar segredo de Justiça de interceptação telefônica.
Apresentado o documento
conclusivo, caberá ao Ministério Público Federal se manifestar. O caso será então julgado
pelo juiz Mazloum.
No relatório, o delegado afirma que há indícios de que equipe da TV Globo foi avisada por
Protógenes horas antes de as
prisões ocorrerem, em 8 de julho. Na operação, foram presos,
entre outros, o banqueiro Daniel Dantas, o ex-prefeito de
São Paulo Celso Pitta e o investidor Naji Nahas.
Como indício, Amaro diz que
a equipe da emissora realizou
outras reportagens em operações presididas por Protógenes. Nenhum dos três funcionários da TV Globo ouvidos por
Amaro confirmou a origem da
informação. Sobre o depoimento de um produtor, o delegado afirma que "ao negar resposta a algumas perguntas e ao
responder outras de modo restritivo ou taxativo, contrariou a
lógica natural e forneceu elementos que permitem inferir a
autoria, bem como atribuí-la ao
delegado Protógenes".
Reportagem
O delegado Amaro também
passou a investigar o vazamento ocorrido em abril, antes da
deflagração da operação. Reportagem da Folha revelou a
existência da apuração sobre
Dantas. A reportagem também
passou a ser alvo a partir de
uma manifestação do juiz da 6ª
Vara Federal Criminal, Fausto
De Sanctis. Ele oficiou à PF para pedir a apuração, e a polícia
enviou o documento ao inquérito de Amaro.
Na Satiagraha, Protógenes
pediu a prisão da jornalista autora da reportagem, Andréa
Michael, o que foi negado pelo
juiz De Sanctis.
No inquérito agora tocado
pela corregedoria, Protógenes
passou a ser suspeito de também ter participado desse vazamento. A lógica utilizada pela corregedoria é que, ao compartilhar os dados da Satiagraha com funcionários da Abin, o
delegado teria colaborado para
abrir o sigilo da investigação.
No decorrer da apuração sobre o vazamento, Amaro tomou o depoimento do diretor
de Inteligência Policial da PF,
Daniel Lorenz. Segundo o relatório, Lorenz contou ter ouvido
do delegado Paulo de Tarso a
informação de que Protógenes
detinha a gravação de uma conversa da jornalista Andréa feita
sem o seu conhecimento, num
restaurante em Brasília. Nessa
gravação, segundo os comentários ouvidos por Lorenz, havia
inferências de que ele estava
por trás do vazamento à Folha.
Lorenz, que nega ser o autor
do vazamento, disse a Amaro
que gostaria que a fita fosse
apreendida para que não fosse
usada para "descredenciá-lo".
Paulo de Tarso, segundo o relatório, contou ter tomado conhecimento da fita pelo próprio Protógenes.
A Folha apurou que essa gravação foi apreendida nas buscas da semana passada. Agora
deverá ser degravada e anexada
ao inquérito da corregedoria.
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