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PERFIL
Senadora é referência na área ambiental
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nascida Maria Osmarina Silva
de Lima, no Seringal Bagaço, a 70
km de Rio Branco (AC), a senadora reeleita Marina Silva só foi alfabetizada depois dos 15 anos de
idade, pelo Mobral. Mas se transformou numa referência nacional
e internacional do PT e da defesa
do meio ambiente.
Aos 44 anos, formada em história pela Universidade Federal do
Acre, Marina é autora dos principais projetos que tramitam no
Congresso nessa área.
Exemplos: um regulamenta o
acesso aos recursos da biodiversidade, outro veda durante três
anos a comercialização (não a
pesquisa) de transgênicos e um
terceiro cria o "FPE verde", uma
reserva de 2% do Fundo de Participação dos Estados para o desenvolvimento sustentável. Eleita aos
38 anos, foi a senadora mais jovem da história da República.
A ligação com o meio ambiente
vem da origem e ligação política e
de amizade com Chico Mendes, o
líder ambientalista assassinado
em dezembro de 1988, dois meses
após Marina ser eleita para seu
primeiro mandato, de vereadora.
Chico Mendes e ela -que foi
empregada doméstica e fez o primeiro e o segundo graus pelo supletivo- criaram e foram os primeiros coordenadores da CUT no
Acre. Eles também concorreram
juntos à primeira eleição, em
1986. Ganharam em votos, mas
não levaram. A legenda do PT não
atingiu o mínimo exigido pela lei.
Hoje, o PT do Acre é uma das
principais vitrines nacionais do
partido. Foi uma reviravolta e
tanto num Estado onde o deputado federal mais votado em 1998
foi Hildebrando Pascoal, depois
cassado pela Câmara e hoje preso
por formação de quadrilha.
Pessoal e politicamente, Marina
também é capaz de grandes reviravoltas. Na adolescência chegou
a ser noviça, mas desistiu de prestar os votos à última hora. Casou
duas vezes, teve quatro filhos. Há
cerca de três anos, silenciosamente, mudou de religião. A quase
freira agora é evangélica.
Marina começou a militância
política nas Comunidades Eclesiais de Base e no PRC (Partido
Revolucionário Comunista), mas
hoje é da tendência independente,
do "Campo Majoritário" do PT.
Negociadora, é recebida pelo
presidente Fernando Henrique
Cardoso até no Alvorada e elogiada pelo senador eleito Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA).
Sempre foi considerada o "nome natural" do PT para o Ministério do Meio Ambiente. Se havia
senões, eram sua saúde e sua ligação visceral com a Amazônia.
Muito magra, imagem frágil, teve malária, duas hepatites e uma
séria contaminação por mercúrio, com tratamento inclusive no
Chile. É, porém, tida como muito
ativa, trabalhadora. Ela se contaminou com mercúrio provavelmente por meio de remédios, hoje
condenados, para o tratamento
de uma doença chamada leishmaniose, quando era criança.
Teve várias sequelas, como perda de visão, alterações no sistema
nervoso central e perda de memória. Hoje, vive sob rigorosa dieta,
da qual foram banidos os alimentos artificiais e enlatados.
Se havia restrições a ela, parecem ultrapassadas. Lula recebeu
manifesto de apoio a Marina
subscrito por 160 ONGs da área,
inclusive Greenpeace-Brasil e
WWF. Marina lidera a transição
entre o "não pode" (utilizar as florestas, por exemplo) para o "como pode" (gerando benefícios
para os povos, sem depredar o
ambiente).
(ELIANE CANTANHÊDE)
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