São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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PERFIL

Senadora é referência na área ambiental

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nascida Maria Osmarina Silva de Lima, no Seringal Bagaço, a 70 km de Rio Branco (AC), a senadora reeleita Marina Silva só foi alfabetizada depois dos 15 anos de idade, pelo Mobral. Mas se transformou numa referência nacional e internacional do PT e da defesa do meio ambiente.
Aos 44 anos, formada em história pela Universidade Federal do Acre, Marina é autora dos principais projetos que tramitam no Congresso nessa área.
Exemplos: um regulamenta o acesso aos recursos da biodiversidade, outro veda durante três anos a comercialização (não a pesquisa) de transgênicos e um terceiro cria o "FPE verde", uma reserva de 2% do Fundo de Participação dos Estados para o desenvolvimento sustentável. Eleita aos 38 anos, foi a senadora mais jovem da história da República.
A ligação com o meio ambiente vem da origem e ligação política e de amizade com Chico Mendes, o líder ambientalista assassinado em dezembro de 1988, dois meses após Marina ser eleita para seu primeiro mandato, de vereadora.
Chico Mendes e ela -que foi empregada doméstica e fez o primeiro e o segundo graus pelo supletivo- criaram e foram os primeiros coordenadores da CUT no Acre. Eles também concorreram juntos à primeira eleição, em 1986. Ganharam em votos, mas não levaram. A legenda do PT não atingiu o mínimo exigido pela lei.
Hoje, o PT do Acre é uma das principais vitrines nacionais do partido. Foi uma reviravolta e tanto num Estado onde o deputado federal mais votado em 1998 foi Hildebrando Pascoal, depois cassado pela Câmara e hoje preso por formação de quadrilha.
Pessoal e politicamente, Marina também é capaz de grandes reviravoltas. Na adolescência chegou a ser noviça, mas desistiu de prestar os votos à última hora. Casou duas vezes, teve quatro filhos. Há cerca de três anos, silenciosamente, mudou de religião. A quase freira agora é evangélica.
Marina começou a militância política nas Comunidades Eclesiais de Base e no PRC (Partido Revolucionário Comunista), mas hoje é da tendência independente, do "Campo Majoritário" do PT.
Negociadora, é recebida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso até no Alvorada e elogiada pelo senador eleito Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Sempre foi considerada o "nome natural" do PT para o Ministério do Meio Ambiente. Se havia senões, eram sua saúde e sua ligação visceral com a Amazônia.
Muito magra, imagem frágil, teve malária, duas hepatites e uma séria contaminação por mercúrio, com tratamento inclusive no Chile. É, porém, tida como muito ativa, trabalhadora. Ela se contaminou com mercúrio provavelmente por meio de remédios, hoje condenados, para o tratamento de uma doença chamada leishmaniose, quando era criança.
Teve várias sequelas, como perda de visão, alterações no sistema nervoso central e perda de memória. Hoje, vive sob rigorosa dieta, da qual foram banidos os alimentos artificiais e enlatados.
Se havia restrições a ela, parecem ultrapassadas. Lula recebeu manifesto de apoio a Marina subscrito por 160 ONGs da área, inclusive Greenpeace-Brasil e WWF. Marina lidera a transição entre o "não pode" (utilizar as florestas, por exemplo) para o "como pode" (gerando benefícios para os povos, sem depredar o ambiente). (ELIANE CANTANHÊDE)


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