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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO
Bebidas, roupas, jóias e brindes foram distribuídos para políticos e instituições com as quais as agências SMPB e DNA tinham contrato
PT e políticos ganharam presentes de Valério
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O publicitário mineiro Marcos
Valério Fernandes de Souza deu
um presente de R$ 17,2 mil para o
departamento financeiro do PT
no primeiro Natal após a vitória
de Luiz Inácio Lula da Silva nas
eleições de 2002, dois presentes de
R$ 4.700 ao todo para o governador do Distrito Federal, Joaquim
Roriz (PMDB), além de bebidas,
roupas, jóias e brindes para políticos, empresários e funcionários
públicos que ocupavam cargos-chave em órgãos com os quais
mantinha contratos.
Os registros dos presentes dados pelas empresas de Valério entre 2001 e 2004 estão na contabilidade oficial da SMPB Comunicação e da DNA Propaganda. O CD
com as informações, pesquisado
pela Folha, foi entregue à CPI dos
Correios e à Receita Federal pelo
próprio Valério.
A pesquisa revela que as empresas desembolsaram pelo menos
R$ 100 mil para presentear 23 políticos e executivos em Minas Gerais e Brasília, além de servidores
de primeiro e segundo escalões
geralmente vinculados às áreas de
propaganda e marketing de órgãos públicos.
O presente para o "Financeiro
PT", não especificado, foi comprado na joalheria mineira Manoel Bernardes Comércio e Indústria Ltda. Na época do presente, o publicitário já tinha sido
apresentado ao tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares pelo deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), outro presenteado, segundo
os documentos de Valério.
Ontem o publicitário, por meio
de sua assessoria, disse não se
lembrar do presente ao partido
nem se o presenteado era o ex-tesoureiro Delúbio Soares, mas alegou que o PT era "um cliente" -
uma de suas empresas havia atuado para a campanha do deputado
João Paulo Cunha (PT-SP) à presidência da Câmara - e seria
"uma prática normal" a distribuição de presentes a clientes.
A contabilidade indica a compra de presente de aniversário de
R$ 237,40 para o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz (PC do B-DF), em novembro de 2004 - a
SMPB tem contrato de R$ 10 milhões com o ministério. Pelo Código de Conduta da Alta Administração Federal, o servidor público não pode receber presentes
de valor superior a R$ 100.
Um registro de fevereiro de
2002 aponta presente de R$
509,40 para o então secretário secretário Nacional de Esportes,
Lars Grael, hoje secretário da Juventude, Esporte e Lazer do Estado de São Paulo. Grael nega ter recebido o presente.
O aniversário do governador do
DF, Joaquim Roriz, foi lembrado
no agosto de dois anos: 2003 e
2004. Um dos presentes, de R$
1.000, foi uma sela para montaria.
Sobre a natureza do outro, de R$
3.700, não há pistas.
O secretário de Articulação Institucional do governo do DF, Hélio Doyle, recebeu 12 CDs do cantor e compositor Chico Buarque,
mas achou que era um presente
pessoal de Eliane Lopes, então a
representante em Brasília mais
influente do grupo de Valério.
Só na última sexta-feira, após
consulta da reportagem, disse saber que se tratava de um mimo da
SMPB Comunicação. A empresa
mantém contrato com o governo
do DF.
Um alto executivo da siderúrgica Usiminas recebeu entre outros
mimos, "presente de Natal" de R$
15,5 mil da mesma joalheira Manoel Bernardes e produtos de até
R$ 3.000 comprados da grife Hugo Boss.
A Usiminas aparece no noticiário do escândalo do mensalão
quando a CPI revelou que dinheiro destinado por Valério à campanha do deputado Roberto
Brant (PFL-MG) teve como origem o caixa da siderúrgica.
Tucano na lista
O Banco Rural, um dos bancos
que teriam alimentado o caixa
dois do PT com supostos empréstimos, também aparece com destaque na lista dos presenteados. A
presidente do banco, Kátia Rabelo, que reconheceu em Valério
um "facilitador" nos negócios
com o governo, recebeu presente
de R$ 2.900 no Natal de 2002, seis
meses depois de a SMPB ter pago
R$ 1.400 por outro presente comprado para ela em loja da grife
Louis Vuitton.
Rabelo negou que o banco soubesse das triangulações envolvendo a instituição, as empresas de
Valério e o PT. "O banco foi usado", disse a presidente.
Outro personagem que freqüentou o noticiário, por empréstimos tomados no Banco Rural
com aval de Valério, o ex-ministro das Comunicações Pimenta
da Veiga (PSDB-MG) aparece na
contabilidade recebendo casaco
de couro adquirido por R$ 2.680.
De acordo com a contabilidade,
Andréa Neves, irmã do governador de Minas Gerais, Aécio Neves
(PSDB-MG), que na prática comanda a comunicação social do
governo, recebeu dois "brindes"
faturados por R$ 800.
A lista de Valério atesta que as
empresas do publicitário não economizavam em presentes. Há o
registro da compra, por R$ 520,
de um abridor de garrafas de vinho para presentear o executivo
de um shopping localizado em
Belo Horizonte, sede das empresas do grupo.
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