São Paulo, Quarta-feira, 12 de Janeiro de 2000


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CRIME ORGANIZADO
Deputado teve, de 90 a 95, movimentação bancária até 1.138% acima do que recebia como delegado
Contas de sub-relator superam salário

ABNOR GONDIM
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília


De 1990 a 95, o deputado federal Wanderley Martins (PDT-RJ), sub-relator da CPI do Narcotráfico, apresentou movimentação bancária superior em até 1.138% aos salários recebidos em cada ano como delegado da Polícia Federal.
Martins anunciou que irá pedir uma devassa da Receita Federal nas suas contas bancárias e em seu patrimônio pessoal. Segundo ele, isso irá comprovar a origem legal dos recursos recebidos em suas contas.
O pico de movimentação em quatro contas bancárias ocorreu em 1994, quando Martins disputou pela primeira vez uma vaga na Câmara dos Deputados. Seu extrato bancário foi também superior à soma dos salários em 90 (31%), 92 (360%), 93 (279%) e 95 (414%). Apenas em 91 ele teve movimentação bancária inferior aos salários em 20%.
Essas informações sobre a movimentação bancária do deputado constam de perícia judicial feita pelo Instituto Nacional de Criminalística, órgão da PF, em quatro contas abertas por ele no Banco do Brasil, Bradesco, Banco Mercantil do Brasil e Unibanco.
A perícia faz parte de denúncia por corrupção passiva apresentada pelo Ministério Público Federal ao Supremo Tribunal Federal.

Parecer
A denúncia aguarda, desde maio do ano passado, parecer do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
"Tenho como provar cada dinheiro depositado na minha conta bancária", disse o deputado. "Parte foi obtida com a venda de bônus eleitorais durante campanha eleitoral, outra foi de venda de imóveis e até dinheiro de empréstimo tomado em banco."
Martins está sendo investigado pela própria CPI e pelo Ministério Público Federal por suposto envolvimento com o libanês Elias Kanaan, acusado de cometer crime financeiro, e com o traficante de drogas Walter Gomes de Carvalho Filho, o Waltinho.
Do primeiro, ele recebeu em 92 um depósito de Cr$ 10 milhões (US$ 2.600) na sua conta 301.053-8, da agência 0435-9, do Banco do Brasil. O nome dele constava de uma agenda apreendida na casa de câmbio do empresário libanês. Por isso, ele é acusado de corrupção passiva.
Segundo o deputado, o valor foi depositado por Kanaan em troca de dólares que ele havia dado a um office-boy enviado pelo empresário.
Em relação a Waltinho, Martins é acusado de ter faltado ao cumprimento de seu dever, quando não o prendeu em maio de 97 durante a inauguração de uma entidade que recebia assistência de sua campanha eleitoral.
Em uma fita com imagens da inauguração, Martins e Waltinho aparecem se cumprimentando durante três minutos.

Reação da CPI
O deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) disse que Martins deveria sair da CPI enquanto as denúncias não forem esclarecidas. Para o relator da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), não há motivos para o afastamento de Martins.
"A CPI agiu como em todas as denúncias que chegaram às nossas mãos, inclusive com quebra de sigilos. Não demos nenhuma deferência ao Wanderley", disse.
O líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ), afirmou que não há elementos para afastar o deputado da CPI. "Se houver provas contra ele, reúno a bancada e tomo uma decisão", disse.


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