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CRIME ORGANIZADO
Deputado teve, de 90 a 95, movimentação bancária até 1.138% acima do que recebia como delegado
Contas de sub-relator superam salário
ABNOR GONDIM
LUIZA DAMÉ
da Sucursal de Brasília
De 1990 a 95, o deputado federal
Wanderley Martins
(PDT-RJ), sub-relator da CPI do Narcotráfico, apresentou movimentação bancária superior em até 1.138% aos salários
recebidos em cada ano como delegado da Polícia Federal.
Martins anunciou que irá pedir
uma devassa da Receita Federal
nas suas contas bancárias e em
seu patrimônio pessoal. Segundo
ele, isso irá comprovar a origem
legal dos recursos recebidos em
suas contas.
O pico de movimentação em
quatro contas bancárias ocorreu
em 1994, quando Martins disputou pela primeira vez uma vaga na
Câmara dos Deputados. Seu extrato bancário foi também superior à soma dos salários em 90
(31%), 92 (360%), 93 (279%) e 95
(414%). Apenas em 91 ele teve
movimentação bancária inferior
aos salários em 20%.
Essas informações sobre a movimentação bancária do deputado constam de perícia judicial feita pelo Instituto Nacional de Criminalística, órgão da PF, em quatro contas abertas por ele no Banco do Brasil, Bradesco, Banco
Mercantil do Brasil e Unibanco.
A perícia faz parte de denúncia
por corrupção passiva apresentada pelo Ministério Público Federal ao Supremo Tribunal Federal.
Parecer
A denúncia aguarda, desde
maio do ano passado, parecer do
procurador-geral da República,
Geraldo Brindeiro.
"Tenho como provar cada dinheiro depositado na minha conta bancária", disse o deputado.
"Parte foi obtida com a venda de
bônus eleitorais durante campanha eleitoral, outra foi de venda
de imóveis e até dinheiro de empréstimo tomado em banco."
Martins está sendo investigado
pela própria CPI e pelo Ministério
Público Federal por suposto envolvimento com o libanês Elias
Kanaan, acusado de cometer crime financeiro, e com o traficante
de drogas Walter Gomes de Carvalho Filho, o Waltinho.
Do primeiro, ele recebeu em 92
um depósito de Cr$ 10 milhões
(US$ 2.600) na sua conta 301.053-8, da agência 0435-9, do Banco do
Brasil. O nome dele constava de
uma agenda apreendida na casa
de câmbio do empresário libanês.
Por isso, ele é acusado de corrupção passiva.
Segundo o deputado, o valor foi
depositado por Kanaan em troca
de dólares que ele havia dado a
um office-boy enviado pelo empresário.
Em relação a Waltinho, Martins
é acusado de ter faltado ao cumprimento de seu dever, quando
não o prendeu em maio de 97 durante a inauguração de uma entidade que recebia assistência de
sua campanha eleitoral.
Em uma fita com imagens da
inauguração, Martins e Waltinho
aparecem se cumprimentando
durante três minutos.
Reação da CPI
O deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) disse que Martins
deveria sair da CPI enquanto as
denúncias não forem esclarecidas. Para o relator da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), não
há motivos para o afastamento de
Martins.
"A CPI agiu como em todas as
denúncias que chegaram às nossas mãos, inclusive com quebra
de sigilos. Não demos nenhuma
deferência ao Wanderley", disse.
O líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ), afirmou que não
há elementos para afastar o deputado da CPI. "Se houver provas
contra ele, reúno a bancada e tomo uma decisão", disse.
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