São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

O endereço

Data imprecisada, ou imprecisável, e não recente. Fernando Henrique Cardoso, no uso de toda a simpatia possível, discorre para os comensais suas apreciações sobre fatos diversos e pessoas várias. De repente, intervém a mulher de um brasileiro renomado, há muito tempo é figura internacional de justo prestígio, ministro mais de uma vez, com importantes livros e ensaios. Moradores íntimos de Paris por longos períodos, mas não só por vontade própria, consta que nela nada restringe a franqueza. Se alguém na conversa desconhecia a peculiaridade, ali testemunhou um motivo para não esquecê-la:
- Pois é, mas nós sabemos do apartamento que Sérgio Motta e você compraram na Avenue Foch.
Congelamento total dos convivas. Fernando Henrique é quem o quebra, afinal. Apenas para se levantar e afastar-se. Cara fechada, lívido, nenhuma resposta verbal.
A bela Avenue Foch, seus imensos apartamentos entre os preços mais altos do mundo, luxo predileto dos embaixadores de países subdesenvolvidos, refúgio certo dos Idi Amim Dada, dos Bokassa, dos Farouk e, ainda, de velhos aristocratas europeus.
Avenue Foch, onde a família Fernando Henrique Cardoso está instalada. No apartamento emprestado, é a informação posta no noticiário, pelo amigo que passou a figurar na sociedade da fazenda também comprada por Sérgio Motta e Fernando Henrique Cardoso, em Buritis.
Avenue Foch, é ela que traz de volta comentários sobre a historieta, indagações de sua autenticidade ou não, curiosidade em torno do que digam outros possíveis comensais.

Caso sério
Desde que Anthony Garotinho deixou o governo fluminense para se candidatar à Presidência, o seu grupo e o da sucessora, Benedita da Silva, brigam sem cessar. Na confusão dos números contraditórios -briga e números agravados agora pela nova governadora, Rosinha Garotinho- nenhuma das partes é convincente. Enrolaram-se em propósitos e defeitos semelhantes, quando não iguais.
E enrolados estão no desvio e extorsão praticados no setor de arrecadação financeira do Garotinho, já constatadas remessas de pelo menos US$ 33,4 milhões para a Suíça. Benedita da Silva fechou a Inspetoria de Contribuintes de Grande Porte, onde os ladrões operavam -mas por que o fechou? Se foi pela descoberta a ação criminosa, por que não levou prontamente o caso a investigações legais, preferindo proteger o crime com o silêncio e os autores com a tranquila impunidade? E por que dispensou multa de mais de R$ 600 milhões aplicada a uma fábrica de Coca-Cola?
Anthony Garotinho e Rosinha protestaram contra a extinção da inspetoria e a nova governadora tratou de incorporar ao seu governo, outra vez em lugar de destaque, um dos operadores, talvez o principal, dos desvios e extorsões. Por que o protesto, se nada tinham mais com o governo? Por que a restauração do esquema?
Esse é um caso cuja gravidade não pode ficar sob investigação estadual. A polícia fluminense está sob as ordens de Rosinha e a influência de Garotinho, partes do caso e inimigos, não só adversários políticos, da outra parte.
Diante das suspeitas que atingem os dois grupos evangélicos da política fluminense, seria absurdo deixar que todos apenas lavassem as mãos.

Enfim, um
Na mídia brasileira dão-se coisas únicas. José Eduardo Dutra continua sob ataques a pretexto de ser apenas um político posto na presidência da Petrobras, e não um conhecedor dos assuntos do petróleo.
O penúltimo presidente da Petrobras, Henri-Philipe Reichstul, assumiu o cargo dizendo que ia aprender sobre petróleo, assunto alheio à sua especialidade administrativa. Seu sucessor, Francisco Gros, é do "mercado" financeiro, da velha ciranda de bolsas, ganhos com juros e dólares.
O ex e admirável senador José Eduardo Dutra chegou à política pela porta sindical. Como funcionário da Petrobras. Funcionário qualificado: é geólogo. Não quer esbanjar altas quantias na troca do nome da empresa para Petrobrax, nem leva planos de altas compras de empresas argentinas. Mas é o primeiro a chegar à presidência da Petrobras com as condições funcionais e técnicas apropriadas.



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