São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Do temporal à seca

- Xô, urubu.
Era José Luiz Datena, apresentador do Brasil Urgente, em meio à narração das cenas de inundação do ABC, na Grande São Paulo.
Sem saber a quem atacar, culpou a sorte. No concorrente Cidade Alerta, o impacto das imagens também constrangeu a narração incriminatória de sempre.
As cenas eram apresentadas como mais uma tragédia, lado a lado com imagens do tsunami na Ásia, do deslizamento nos EUA e até de um incêndio na Austrália.
Foi o que fez o Jornal Nacional, que deu como primeira manchete:
- A chuva castiga.
Um castigo dos céus.
 
No contraste da Globo, os "temporais do Sudeste" convivem com a estiagem no Sul e no Nordeste. E aqui o vilão já foi escolhido:
- O Ministério da Integração Nacional não reconheceu a situação de emergência em nenhum município.
O problema é que, "sem o reconhecimento, não é liberado o dinheiro".
Lula anunciou "uma comissão para avaliar a situação", mas "por enquanto é apenas uma promessa".

BRASIL AFORA

Globo/Reprodução
No Rio, uma semana de fila


Até a inundação do ABC, a atenção da Globo estava em outro fenômeno da estação. Nos telejornais nacionais e regionais, falava do "absurdo" da disputa uma "vaga em escolas públicas" de São Paulo e Rio:
- Todo começo de ano é o que se vê, Brasil afora.
No Rio, "os pais esperam há uma semana na calçada", em cadeiras de praia. De uma mãe:
- Quem quiser dar um futuro melhor para o filho tem que dormir na rua.
Em São Paulo, a "indignação" é com o 0800 criado para pedidos de transferência, que "definitivamente não funciona". De um pai:
- Só dá ocupado, eles têm que fazer funcionar, nós queremos colocar nossos filhos para estudar.
Mais tarde, na Jovem Pan, a secretaria estadual pediu "que os pais tenham paciência" e garantiu "vagas para todos".

"Chore por nós"
Em reportagem intitulada "Argentina aperta credores" e com um quadro intitulado "Chore por nós", o "Wall Street Journal" avaliou:
- Parece que o governo da Argentina vai conseguir a maior parte do que deseja.
Era sobre a moratória do país e a reestruturação da dívida, que começa depois de amanhã. O "WSJ" acrescenta:
- A postura argentina, dura, ganhou a admiração de alguns formadores de opinião de países como o Brasil, que impôs uma austeridade pesada para seguir pagando seus credores.

Macho
Não só "formadores". De um internauta, em comentário no Blog do Colunista sobre o "WSJ" e a postura argentina:
- Terra de macho!!
De outro:
- Los hermanos estão certos. Lula preferiu se curvar às elites internacionais e nacionais.

A aposta
Por outro lado, os argentinos externavam ontem desconforto com a frase de um membro do governo espanhol, anteontem ao "El País" -de que "o Brasil tem que ser a aposta estratégica da Espanha na América do Sul". Seria "a nova orientação" do país para a região.
Entre outros, abordaram a mudança os argentinos "Clarín" e "La Razón", pasmos.

Bicudos
O blog tucano E-agora está em campanha há uma semana, através do colaborador fictício Antonio Fernandes, para evitar a aproximação entre o PSDB e o governo Lula.
José Serra é alvo constante, Aécio Neves também.

Evaporou
O "New York Times" publicou reportagem mostrando o que aconteceu, em duas catástrofes naturais recentes, aos milhões prometidos. Em Honduras, o sobrevivente de um povoado devastado seis anos atrás pelo furacão Mitch disse:
- Não sei quanto mandaram, mas eu gostaria de entender o que aconteceu com todo aquele dinheiro.
O quadro se repete no Irã, um ano após o terremoto que matou mais de 40 mil. Da promessa de US$ 1 bilhão, o país só recebeu US$ 17 milhões. O enunciado do "NYT" resume:
- Para Honduras e Irã, ajuda do mundo evaporou.

Realocação
Tem mais. Segundo jornais da Alemanha citados ontem pela BBC, o governo do país não sabe de onde tirar os US$ 650 milhões prometidos aos países atingidos pelo tsunami na Ásia.
Um deles observou que "seria irresponsável se crianças de Ruanda ou Sudão morressem de fome como resultado de uma realocação de fundos".

E tem o Haiti
E hoje, em pronunciamento na ONU, o chanceler brasileiro Celso Amorim deve sair dizendo que o Haiti vive "um tsunami socioeconômico" há séculos e não pode ser esquecido. Era o que ele adiantava ontem, para sites dos EUA e daqui.

Celebridade
A intelectual -e feminista- Germaine Greer deixou atônitos seus leitores ao aceitar participar do recém-iniciado Celebrity Big Brother, na Grã-Bretanha. Pois ontem, segundo o "Guardian", ela se disse "cheia" e foi embora, com suas 40 mil libras.


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