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AJUSTE PETISTA
Setor supostamente poupado respondeu por 36% do aperto total
Lula impõe corte de R$ 5 bi a ministérios da área social
GUSTAVO PATÚ
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministérios mais ligados às
políticas sociais não escaparam
do bloqueio de gastos promovido
pelo governo Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) para elevar o pagamento de juros e deter a escalada da
dívida pública.
Segundo o detalhamento finalmente divulgado pela equipe econômica, a área social -Segurança Alimentar, Educação, Previdência, Saúde, Trabalho, Desenvolvimento Agrário, Cidades e
Assistência e Promoção Social-
perderá exatos R$ 5,038 bilhões
em relação ao Orçamento aprovado pelo Congresso Nacional.
O valor equivale a 36% do corte
total de R$ 14,1 bilhões aplicado
sobre a parcela das despesas públicas sobre a qual os ministros
têm poder de decisão, que, após a
tesourada, caiu de R$ 62 bilhões
para R$ 47,9 bilhões.
Mesmo após a divulgação dos
números, o governo Lula ainda
sustenta a afirmação dos últimos
dias, segundo a qual a área social
foi preservada, tarefa reforçada
ontem pelos ministros Antonio
Palocci Filho (Fazenda) e Guido
Mantega. Aos argumentos:
1) os gastos sociais "prioritários", caso do projeto Fome Zero
e do programa Bolsa-Escola, não
sofreram perdas. "A maioria esmagadora dos programas foi
mantida", disse Mantega, ao tentar justificar os cortes.
2) boa parte do bloqueio nos
ministérios sociais atingirá despesas da máquina administrativa, e
não projetos que beneficiam diretamente a população.
É preciso aguardar um detalhamento dos orçamentos de cada
pasta para avaliar essa tese. No
entanto, é improvável que cortes
como o de R$ 1,6 bilhão imposto à
Saúde atinjam apenas atividades
burocráticas;
3) não se deve falar em cortes, e
sim em contingenciamento, uma
vez que os programas afetados
podem ser retomados se houver
receitas imprevistas ou ganhos de
eficiência na gestão dos recursos.
Piora
Há ainda uma discussão algo bizantina, para a qual o governo
acabou contribuindo, em torno
do que sejam ou não os gastos sociais. Guido Mantega, por exemplo, citou entre eles os da Ciência
e Tecnologia. "Todas as ações do
governo podem ser consideradas
sociais", acabou emendando o
ministro.
O fato é que, diante da necessidade de separar cada vez mais dinheiro para o pagamento de juros
da dívida, o governo não tem tido
alternativa além de piorar, segundo seus próprios parâmetros, a
qualidade do Orçamento.
Compromissos que não figuram entre as prioridades, como
pessoal e benefícios da Previdência, crescem independentemente
da vontade dos ministros e consomem mais de 85% da receita federal de R$ 358 bilhões.
Resta achatar a parcela de despesas que compõe qualquer programa político: as obras, os investimentos e as ações sociais. Não
por acaso, ministérios como Cidades, Integração Nacional e
Transportes estão entre os mais
atingidos.
Ao menos, Palocci disse que
neste ano não será mais repetido
o expediente de elevar ou criar
novos impostos, no qual se basearam os ajustes feitos durante o segundo mandato do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
No final do ano passado, porém,
após o desfecho das eleições, o PT
teve de impedir a queda da alíquota mais alta do Imposto de
Renda da Pessoa Física, que passaria neste ano de 27,5% para
25%. O partido também apoiou a
manutenção da alíquota da CSLL
(Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) em 9% -estava prevista a redução para 8%.
A impossibilidade de abrir mão
de receitas torna um quebra-cabeça a proposta de uma reforma
tributária que beneficie o setor
produtivo, uma das bandeiras do
governo Lula cujo futuro permanece incerto.
Mais cortes?
Mantega lançou o que pretende
ser um programa destinado a elevar a eficiência do que os técnicos
chamam de gastos de custeio
-aqueles que vão da conta de telefone até os serviços de informática contratados.
Acredita-se que, combatendo o
desperdício, revisando contratos
e criando indicadores para o desempenho dos gestores, seja possível atenuar os efeitos da penúria
orçamentária.
Não há por que, porém, esperar
resultados salvadores das medidas. Ações como essa, ainda que
louváveis, produzem ganhos de
médio ou longo prazo. E todo o
custeio federal não chega a R$ 14
bilhões anuais.
No curto prazo, o que os dados
divulgados indicam é um cenário
econômico pessimista. A projeção oficial para o crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto) caiu
de 3% para 2,8% neste ano -e o
mercado trabalha com uma taxa
média de apenas 2%.
Menor crescimento significa arrecadação de impostos menor, o
que ajuda a explicar a cautela das
equipes da Fazenda e do Planejamento. Além do corte (ou contingenciamento) já anunciado, há
mais R$ 700 milhões em despesas
que dependem de autorização da
área econômica.
Outro risco é a política do Banco
Central, que ainda não conseguiu
convencer os investidores da viabilidade da meta de 8,5% para a
inflação de 2003. Segundo levantamento do próprio BC, na semana passada os bancos elevaram de
11,44% para 11,84% suas projeções para o IPCA.
Essa situação faz crescer a possibilidade de um novo aumento de
juros neste mês, o que elevará a
dívida pública. Enquanto os juros
não iniciarem a queda mais uma
vez mencionada ontem por Palocci e Mantega, há possibilidade
de mais cortes de gastos.
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