São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ MOVIMENTAÇÕES SUSPEITAS

Retiradas foram feitas no Banco Rural, no DF; Clésio Andrade foi sócio de Marcos Valério

Entidade do vice de Aécio fez saque de R$ 7,4 mi em espécie

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Lula Marques - 25.mar.2004/Folha Imagem
O vice-governador de MG, Clésio Andrade, durante entrevista


O Idaq, entidade dirigida pelo vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade (PL-MG), sacou em dinheiro R$ 7,4 milhões entre 2003 e 2004 da agência do Banco Rural no Brasília Shopping -a mesma em que parlamentares da base aliada do governo Luiz Inácio Lula da Silva fizeram retiradas em espécie no esquema do valerioduto.
Em apenas uma semana de janeiro de 2004, os saques da conta do Idaq (Instituto de Desenvolvimento e Assistência Técnica e Qualidade em Transporte) ultrapassaram R$ 4 milhões. Ocorreram 20 retiradas entre agosto de 2003 e julho de 2004.
Clésio Andrade informou, por meio de sua assessoria, que não se manifestará sobre o assunto porque corre "sob segredo de Justiça" (leia texto nesta página).
A movimentação financeira foi caracterizada como suspeita pelo próprio Banco Rural.
Forçado por lei, o Rural fez as comunicações ao Banco Central na data de cada saque por dois motivos: "movimentação em espécie em negócios normalmente realizados por cheques ou outros" e "movimentação incompatível com o patrimônio ou atividade econômica".

Dinheiro sem origem
Segundo o banco informou ao Departamento de Combate a Ilícitos Cambiais e Financeiros do Banco Central, o faturamento médio mensal do Idaq no período dos saques era de R$ 663 mil. Em algumas operações, um único saque superava todo esse volume. Entre 6 e 12 de janeiro de 2004, houve quatro retiradas de mais de R$ 800 mil cada uma.
Nas comunicações, são citados os nomes de Clésio Andrade e da diretora administrativa financeira do Idaq, Lilian Carla de Souza. Mas não há menção à origem do dinheiro.
Criado em 1995, o Idaq é vinculado à CNT (Confederação Nacional dos Transportes), também presidida por Clésio Andrade. A CNT representa "40 mil empresas de transporte e 350 mil transportadores autônomos", segundo seu site na internet.
O Idaq foi criado para "estimular a competitividade" das empresas de transporte. Por meio da entidade, a CNT firmou em 1996 um convênio de cooperação técnica com a Petrobras, o Ministério de Minas e Energia e o Ministério dos Transportes.

Sociedade
Os documentos em poder do Banco Central confirmam o teor do depoimento do ex-gerente do Banco Rural José Francisco de Almeida Rego prestado no dia 6 de julho último ao delegado da Polícia Federal Pedro Ribeiro, um dos responsáveis pelas investigações sobre o esquema do mensalão.
Rego disse que, depois das agências de publicidade SMPB Comunicação e DNA Propaganda, o Idaq era o correntista que mais realizava saques em espécie na agência do Rural no shopping de Brasília.
Clésio Andrade foi sócio do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, um dos operadores do esquema do "mensalão", pelo qual o PT distribuída recursos para partidos da base aliada no Congresso.
Valério, segundo depoimento que prestou à PF, aproximou-se de Clésio em 1996, quando procurava um sócio para uma nova agência de publicidade, por considerá-lo "uma figura conhecida nacionalmente como grande empresário do ramo de transportes". Da sociedade nasceu a SMPB Comunicação.
Andrade afastou-se da sociedade com Valério em 1998 para concorrer ao cargo de vice-governador de Minas Gerais na chapa do então governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), candidato à reeleição.
As investigações da CPI dos Correios revelaram que Valério colaborou com pelo menos R$ 9 milhões no esquema de caixa dois para a campanha de Azeredo, por meio do tesoureiro tucano Cláudio Mourão. O publicitário tomava empréstimos no Banco Rural.
Há duas semanas, a CPI detectou o pagamento de R$ 1,4 milhão para as contas do Idaq entre 1997 e 1998. Clésio Andrade alegou que se tratava do pagamento pela venda de sua parte na sociedade com Valério.


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