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JANIO DE FREITAS
Jefferson de volta
A mais forte (e contraditória) acusação de Roberto
Jefferson a Lula, a propósito de
envolvimento com o mensalão e
similares, ficou soterrada por
um assunto forçado nos últimos
dias ao estrelato discutível, que
é a lista de doações "não contabilizadas" atribuída a Dimas
Toledo, ex-diretor de Furnas.
A acusação está a meio da entrevista feita por Josias de Souza
e provocada pela afirmação de
Jefferson, à Polícia Federal, de
que recebeu os R$ 75 mil ligados
a seu nome na fartura de 156
doações, a políticos de vários
políticos, citadas na listagem.
Roberto Jefferson diz que José
Dirceu lhe propôs destinar ao
PTB R$ 1,5 milhão por mês, dos
R$ 4 milhões coletadas por Furnas entre os seus fornecedores.
O acordo teria sido fechado por
Dimas Toledo em visita à casa
de Jefferson, cuja narrativa seguiu assim: "Foi quando Lula
deu pra trás. "Não, esse cara
[Dimas Toledo] é um traidor.
Ele é tucano. Botamos R$ 1,5
milhão na Cemig, para o programa Luz para Todos nas favelas e ele só botou placa do Aécio".
O que está implícito na descrição feita por Jefferson é o conhecimento do esquema ilegal por
Lula, na condição de palavra final e decisiva. A descrição faz
depreender também que, não
fosse a omissão em uma placa, o
acordo seria aprovado. Lula
não "daria pra trás" como não
"deu para trás" se, em outra
afirmação de Jefferson, a verba
mensal já existia e até então ficava para o PT e um grupo seleto deputados de outros partidos.
O "homem inocente" dos depoimentos iniciais de Jefferson,
do qual José Dirceu devia afastar-se para não o comprometer,
já havia desaparecido em suas
narrativas subseqüentes. Mas o
recente envolvimento de Lula
diferencia-se dos anteriores:
tem verossimilhança dada por
uma corrente de fatos comprováveis. A propaganda do programa existiu. Fosse ou não para beneficiar o governador Aécio Neves, nela não foi incluída
referência à contribuição federal. Lula ficou indignado com a
omissão, a ponto de mencioná-la em público como traição ou
injustiça ao governo federal. E
houve de fato vasta movimentação para manter no cargo o
ameaçado diretor de Furnas.
A lista de doações atribuída a
Dimas Toledo é posta em dúvida, mas não por tratar de coleta
e distribuição de dinheiro político a partir de Furnas. Imprecisões e referências impossíveis à
época da data nela inscrita,
além de ser fotocópia de fotocópia, são indícios de falsificação,
seja total ou parcial. Não lhe
comprovar autenticidade, porém, caso isso ocorra mesmo,
não é razão bastante para relegar Furnas a assunto secundário nas investigações da corrupção política, como está ocorrendo. O esquema Furnas aparenta um conduto com probabilidade de extensões e implicações
mais graves do que as constatadas pelas investigações até aqui.
Curiosidade
Insatisfeito com votos dados
no Supremo Tribunal Federal
por um dos nomeados em seu
mandato, Lula quis entrevistar
os três finalistas à ocupação da
vaga existente no tribunal. Dada a dupla exigência de que
candidatos ao Supremo apresentem "elevado saber jurídico
e reputação pessoal e profissional ilibada", que teste terá feito
Lula para avaliar a posse das
condições exigidas e, com isso,
dar às entrevistas a única justificação ética possível?
Sem resposta.
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