São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Jefferson de volta

A mais forte (e contraditória) acusação de Roberto Jefferson a Lula, a propósito de envolvimento com o mensalão e similares, ficou soterrada por um assunto forçado nos últimos dias ao estrelato discutível, que é a lista de doações "não contabilizadas" atribuída a Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas.
A acusação está a meio da entrevista feita por Josias de Souza e provocada pela afirmação de Jefferson, à Polícia Federal, de que recebeu os R$ 75 mil ligados a seu nome na fartura de 156 doações, a políticos de vários políticos, citadas na listagem.
Roberto Jefferson diz que José Dirceu lhe propôs destinar ao PTB R$ 1,5 milhão por mês, dos R$ 4 milhões coletadas por Furnas entre os seus fornecedores. O acordo teria sido fechado por Dimas Toledo em visita à casa de Jefferson, cuja narrativa seguiu assim: "Foi quando Lula deu pra trás. "Não, esse cara [Dimas Toledo] é um traidor. Ele é tucano. Botamos R$ 1,5 milhão na Cemig, para o programa Luz para Todos nas favelas e ele só botou placa do Aécio".
O que está implícito na descrição feita por Jefferson é o conhecimento do esquema ilegal por Lula, na condição de palavra final e decisiva. A descrição faz depreender também que, não fosse a omissão em uma placa, o acordo seria aprovado. Lula não "daria pra trás" como não "deu para trás" se, em outra afirmação de Jefferson, a verba mensal já existia e até então ficava para o PT e um grupo seleto deputados de outros partidos.
O "homem inocente" dos depoimentos iniciais de Jefferson, do qual José Dirceu devia afastar-se para não o comprometer, já havia desaparecido em suas narrativas subseqüentes. Mas o recente envolvimento de Lula diferencia-se dos anteriores: tem verossimilhança dada por uma corrente de fatos comprováveis. A propaganda do programa existiu. Fosse ou não para beneficiar o governador Aécio Neves, nela não foi incluída referência à contribuição federal. Lula ficou indignado com a omissão, a ponto de mencioná-la em público como traição ou injustiça ao governo federal. E houve de fato vasta movimentação para manter no cargo o ameaçado diretor de Furnas.
A lista de doações atribuída a Dimas Toledo é posta em dúvida, mas não por tratar de coleta e distribuição de dinheiro político a partir de Furnas. Imprecisões e referências impossíveis à época da data nela inscrita, além de ser fotocópia de fotocópia, são indícios de falsificação, seja total ou parcial. Não lhe comprovar autenticidade, porém, caso isso ocorra mesmo, não é razão bastante para relegar Furnas a assunto secundário nas investigações da corrupção política, como está ocorrendo. O esquema Furnas aparenta um conduto com probabilidade de extensões e implicações mais graves do que as constatadas pelas investigações até aqui.

Curiosidade
Insatisfeito com votos dados no Supremo Tribunal Federal por um dos nomeados em seu mandato, Lula quis entrevistar os três finalistas à ocupação da vaga existente no tribunal. Dada a dupla exigência de que candidatos ao Supremo apresentem "elevado saber jurídico e reputação pessoal e profissional ilibada", que teste terá feito Lula para avaliar a posse das condições exigidas e, com isso, dar às entrevistas a única justificação ética possível?
Sem resposta.


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