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Itamaraty vê disputa política
e ressentimento em críticas
DA COLUNISTA DA FOLHA
As exportações do Brasil para
os Estados Unidos cresceram
60,73% nos quatro anos do primeiro mandato do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, dado
que o Itamaraty não cansa de
repetir como resposta às "acusações adjetivas" de que a política externa seria contaminada
pelo antiamericanismo.
Para o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) e sua
equipe, esse é um exemplo inquestionável de que a insistente acusação de antiamericanismo não se baseia em fatos, mas
em disputas políticas e ressentimentos.
O volume passou de US$ 15,3
bilhões em 2002 para US$ 24,7
bilhões em 2006, e os EUA continuaram reinando como o
principal destino individual
dos produtos brasileiros.
O problema é que, se o Itamaraty prefere trabalhar com
valores absolutos, a oposição à
política externa opta por percentagens. Neste caso, a participação dos EUA nas exportações brasileiras caiu 29,42%
em quatro anos de Lula. Eram
um quarto (25,44%) em 2002 e
caíram para 17,95% em 2006.
Os dois últimos embaixadores do Brasil em Washington
estão entre os que criticam a
atual política externa.
"O Brasil está desperdiçando
o maior mercado do mundo, está perdendo oportunidades
fantásticas de negócios", diz
Rubens Barbosa, que assumiu o
cargo no governo Fernando
Henrique Cardoso e foi mantido no primeiro ano de Lula.
Seu sucessor, Roberto Abdenur, nomeado no atual governo, concorda. Em entrevista à
revista "Veja" da semana passada, disse que há "um substrato
ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado". Segundo ele, há dez anos o
Brasil está estacionado em
1,4% do mercado americano.
Na avaliação de Amorim e do
futuro embaixador em Washington, Antônio Patriota, é
simples explicar a questão sob a
ótica percentual. De um lado,
os EUA intensificaram fortemente suas relações comerciais
com a Índia e a China, mudando a base de cálculo. De outro, o
Brasil investiu seriamente na
diversificação de parceiros.
Se a participação americana
caiu em quase 30%, a da Argentina cresceu 119,63%. Bom dado, aliás, para registrar a prioridade da América do Sul, no
contexto de investimento numa política "Sul-Sul" que privilegia também África e Ásia.
No Itamaraty, os críticos em
geral são chamados de "viúvas
da Alca", porque eram favoráveis à Área de Livre Comércio
das Américas, que o Brasil rejeitou, ou pelo menos a um TLC
(Tratado de Livre Comércio)
bilateral com os EUA.
"Ninguém questiona a importância de diversificar mercados, mas o problema é perder
o foco e descuidar dos mercados fundamentais", disse o ex-chanceler Celso Lafer, do governo FHC. Ele critica o "excesso de atenção Sul-Sul", e,
mesmo evitando usar a expressão "antiamericanismo", definiu que esse excesso "caracteriza uma reação a um mundo
unipolar". Em linguagem não
diplomática, leia-se: contra a
maior potência, os EUA.
No debate, a atual cúpula do
Itamaraty diz que o Brasil escapuliu da Alca e de um TLC para
não ficar atrelado às condições
da potência. Em resumo: realisticamente, o Brasil sabe que os
EUA são o maior mercado do
mundo e não podem ser desprezados, mas não quer ser
subjugado por suas condições
de grande potência.
(EC)
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