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CELSO PINTO
O trunfo do caixa da Petrobras
O governo tem uma boa razão
para não aumentar a gasolina até
julho, a despeito do salto nos preços internacionais do petróleo. O
aumento já concedido pode engordar o caixa da Petrobras em
R$ 2 bilhões, e o governo espera
que a empresa não gaste a maior
parte deste extra.
Existiria, portanto, alguma
margem de manobra para esperar. O caixa maior da Petrobras
compensaria parte da frustração
fiscal com a conta-petróleo menor.
Com o preço do barril de petróleo a US$ 19,95, a média do ano
passado, o governo estimava que
a Petrobras geraria R$ 2 bilhões
em caixa este ano. Com o preço
externo bem mais alto, mas o interno também, estima-se que o
caixa da Petrobras pode engordar
para R$ 4 bilhões.
A Petrobras gostaria, é claro, de
gastar o extra. Deverá ser autorizada a investir R$ 700 milhões a
mais neste ano. Mesmo assim, a
sobra poderia cobrir boa parte do
buraco na conta-petróleo.
A estimativa do governo é que,
com o reajuste dos derivados já
autorizado, a conta-petróleo poderia gerar um saldo positivo de
R$ 1,7 bilhão este ano. Isso, se o
preço médio do barril do petróleo
importado ficar em US$ 24,442, a
um câmbio médio de R$ 1,85. O
preço do barril tem oscilado acima de US$ 30. Em compensação, o
dólar está cotado a R$ 1,74.
O fato é que o R$ 1,7 bilhão seria
pouco menos da metade do que o
Orçamento da União prevê como
receita da conta-petróleo neste
ano, R$ 3,5 bilhões. O caixa extra
da Petrobras ajudaria a cobrir "de
60% a 70%" dessa diferença, segundo uma fonte do governo.
A Petrobras produz, internamente, dois terços do que vende. O
preço mais alto externo, portanto,
afeta apenas um terço do seu petróleo. Em compensação, reajustes
dos derivados acabam engordando o caixa pela receita gerada pelos dois terços produzidos internamente, a um custo muito menor
do que o externo.
A conta-petróleo é um acerto
contábil entre o Tesouro e a Petrobras, que usa alguns parâmetros
para fixar um preço de referência
para o petróleo. Se o preço interno
é maior, existe um saldo na conta
petróleo, como deverá ser o caso
este ano. Se a situação for oposta,
o Tesouro cobre a diferença em favor da Petrobras.
O caixa extra da Petrobras só
poderá ajudar as contas públicas
graças ao maior controle sobre a
empresa, via Conselho de Administração. E a um esforço de contenção da própria Petrobras. Por
exemplo: os gastos nominais com
pessoal da Petrobras, neste ano,
serão menores do que os de 98,
apesar da inflação acumulada.
Se a Petrobras gera mais caixa e
não gasta, melhora o resultado
primário (receitas menos despesas, exceto juros) das estatais, que
é parte do resultado do setor público. Portanto, o que se perde na
conta-petróleo, no Tesouro, acaba
compensado na conta primária
das estatais. "É uma maneira legítima de o governo redirecionar o
resultado primário", comenta o
ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente.
O governo aposta que as pressões americanas poderão reverter
a alta do petróleo. A reunião da
Opep, dia 27, será decisiva.
Parente, de todo modo, argumenta que a questão do petróleo
para o Brasil, hoje, "é fiscal e inflacionária, não de balanço de pagamentos, como foi na crise do petróleo dos anos 70". De fato, em
80, o petróleo representava 40%
das importações. Hoje, mesmo dobrando o preço em 99, representa
menos de 10% das importações.
Se, pelo lado fiscal, a alta do petróleo exigir aumento nos preços,
isso poderá ter um impacto inflacionário. O governo está decidido,
contudo, a impedir aumentos seguidos dos derivados, diz Parente,
para não comprometer a melhora
na expectativa inflacionária.
Acha que, por enquanto, pode fazer isso sem comprometer a conta
fiscal.
Mais: Parente acha que, neste
quadro, a perspectiva continua
sendo de juros descendentes neste
ano. O petróleo e as incertezas
americanas são dois motivos alegados pelo Banco Central para
manter os juros em 19%, nível vigente desde setembro.
Há quem argumente no mercado, contudo, que a melhora nas
condições gerais, desde setembro,
justificaria uma nova rodada de
baixa. Em 22 de setembro, quando os juros caíram para 19%, os
juros futuros para um ano estavam em 25%. Hoje estão em
19,6% (considerados os dias úteis),
ou seja, são praticamente idênticos aos juros overnight e estão nos
níveis mais baixos do Plano Real.
Como a maior parte da dívida federal é indexada ao juro diário, o
governo pouco se beneficiou dessa
baixa expressiva nos juros anuais.
Em setembro, o prêmio de risco
do título da dívida brasileira (C-Bond) era de 9,64 pontos percentuais; hoje caiu para 6,18. O dólar
estava a R$ 1,88; hoje está em R$
1,74. A Bolsa estava em 11 mil pontos; hoje supera 18 mil. A expectativa era inflação em alta e havia
incerteza fiscal; hoje a inflação está em baixa e os resultados fiscais
superaram as metas do FMI. Esperar melhores notícias para baixar os juros é excesso de ortodoxia, argumenta Rubens Sardenberg, economista-chefe do banco
ABN-Amro.
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